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LUÍS NASSIF
As operações
de balcão
A entrevista de Lúcio
Bolonha Funaro -dono
da Garanhuns, empresa que
teria sido utilizada por Marcos
Valério para repassar recursos
ao PL-, dada aos repórteres
Mário César Carvalho e Janaína Leite, não teve a repercussão devida, talvez em razão da
tecnicalidade do tema. Mas
trata-se de uma das peças
mais importantes na devassa
que vem sendo feito sobre financiamentos de campanha e
esquemas montados com fundos de pensão. A entrevista tocou em um dos nervos expostos do mercado: a falta de controle sobre as operações da
BM&F (Bolsa de Mercadorias
e Futuros).
A BM&F tem sistemas informatizados de última geração.
Toda cotação que passa por esses sistemas torna-se transparente, porque divulgada simultaneamente em todos os
seus terminais. Alertas automáticos podem ser acionados
quando uma operação registrar oscilação suspeita, permitindo fiscalização total por
parte do Banco Central ou da
CVM (Comissão de Valores
Mobiliários). Além disso, se alguém oferece um título por valor fora de mercado, haverá
várias instituições oferecendo-se para comprar ou vender naquele preço, com o próprio
mercado anulando a jogada.
Na época da CPI dos Precatórios, havia golpes com títulos
estaduais porque as negociações eram feitas em balcão,
sem passar por esses sistemas.
A instituição A acertava a venda de um título para a instituição B, por um preço expressivamente maior, e ninguém podia interferir porque não havia oferta pública pelos terminais da Cetip.
Funaro -que está longe de
ser um santo- chamou a
atenção para dois casos graves. O maior deles é o fato de
operações com títulos públicos
da BM&F continuarem sendo
feitas em mercado de balcão.
Não tem lógica. São volumes
imensos, envolvem recursos de
reservas bancárias e operações
de grandes investidores.
A inclusão dessas operações
nos sistemas da BM&F é condição essencial para uma fiscalização eficiente. É tão óbvio
que não se entende que nunca
tenha sido exigido pelo Banco
Central e pela CVM (Comissão
de Valores Mobiliários).
Essa falta de transparência
reverte até contra as instituições sócias da BM&F. Recentemente, o Santander despediu
vários operadores, depois de
constatadas operações irregulares com uma corretora. Como sugeriu Funaro, basta um
rastreamento dessas operações
para descobrir vários esquemas que foram armados ao
longo dos últimos anos -muitos deles envolvendo grupos
políticos, entre os quais o esquema Delúbio.
Outra denúncia explosiva é
em relação às CPRs do Banco
Santos. A CPR é uma cédula
emitida por um produtor rural, pessoa física ou jurídica, e
avalizada por um banco. O
Banco Santos entrou nesse
mercado, emitiu CPRs sem garantia, vendeu a taxas elevadíssimas e tudo passou em
branco. Omitiram-se a Bolsa
Brasileira de Mercadorias, a
CVM e o Banco Central, em
um golpe que respondeu por
um terço do rombo de R$ 2,9
bilhões do banco.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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