São Paulo, quinta-feira, 20 de outubro de 2005

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RECEITA ORTODOXA

Situação poderá ser revertida se dólar voltar a se valorizar

Câmbio segura o avanço da inflação, diz estudo da Fipe

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

O câmbio é a principal âncora da inflação. É o que mostra estudo feito pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), que acompanhou os efeitos do câmbio e dos preços no atacado nos setores industriais e agrícolas no IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).
Neste período de real valorizado, o câmbio impediu o avanço da taxa de inflação. Uma situação que deve ser revertida se a moeda norte-americana voltar a se valorizar. Indiretamente, e mesmo não admitindo, o Banco Central é um dos responsáveis por essa âncora cambial sobre a inflação.
Ao manter os juros elevados, o Banco Central atrai capital de curto prazo, ou seja, mais dólares entram no país. Esses dólares, somados ao "excelente momento da balança comercial", mantêm o câmbio com pouca pressão, diz Paulo Picchetti, coordenador do IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da Fipe.
"O que vem mantendo o câmbio baixo é a entrada de capital externo de curto prazo para investimento, já que as taxas de juros estão elevadas [no país]", afirma o economista da Fipe.
Esses "choques de preços" (aumentos não previstos) no câmbio, no atacado de matérias-primas industriais e no atacado de produtos agrícolas chegam a representar 65% da variação da taxa do IPCA logo após o primeiro mês de ocorrência, diz Picchetti.

Inércia inflacionária
O impacto do câmbio, no entanto, é o que tem o efeito mais lento. Só é sentido de forma mais acentuada entre o terceiro e o oitavo meses após a ocorrência. No acumulado de 12 meses, no entanto, é o que tem mais pressão sobre a inflação: 43% da taxa do IPCA é derivada do comportamento do câmbio.
Já os efeitos da elevação de preços dos produtos industriais no atacado -o aço, por exemplo- têm um impacto imediato sobre o IPCA, mas perdem força a partir do quarto mês. Os estudos de Picchetti mostraram que, no acumulado de 12 meses, pelo menos 16% da taxa do IPCA é decorrente dos produtos industriais.
Já os efeitos de um choque agrícola, vindo dos preços no atacado desses produtos, têm efeito reduzido no primeiro mês, mas começam a aparecer com maior impacto a partir do segundo. No acumulado de 12 meses, esses produtos vão participar com pelo menos 14% da taxa do IPCA.
O estudo da Fipe mostra, ainda, que pelo 27% da taxa de inflação vem da chamada "inércia inflacionária (a própria inflação gerando mais inflação). Essa inércia tem como base central os aumentos dos preços no setor de serviços e das tarifas públicas.


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