São Paulo, quinta-feira, 20 de outubro de 2005

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RECEITA ORTODOXA

Indicadores têm que mudar de "forma dramática" para Brasil atingir grau de investimento, diz Moody's

País não terá nota melhor antes de 2007

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil terá de esperar bastante para que seus títulos tornem-se, aos olhos das agências de classificação de risco, um investimento prudente. Nova elevação da nota atribuída a esses títulos, se ocorrer, só virá em 2007, prevê a Moody's. Mesmo com uma elevação, o Brasil ainda precisará de outras duas para chegar ao "grau de investimento".
A agência anunciou, na semana passada, uma elevação da nota brasileira, que passou de B1, na escala da Moody's, para Ba3. Os analistas da agência também atribuíram aos papéis uma "perspectiva positiva", o que significa que a tendência é de melhora dessa nota. Melhora, no entanto, que deve demorar bastante.
Perspectiva positiva, explica Mauro Leos, da unidade de risco soberano da empresa, significa que, "se as condições atuais persistirem, pode haver uma elevação [da nota]". Ele ressalta que a elevação é apenas uma possibilidade e lembra que uma elevação costuma demorar um período que varia de 18 meses a 24 meses.
O Brasil ainda precisa de três elevações para chegar ao sonhado "grau de investimento", um dos objetivos da atual equipe econômica. Conseguir as três elevações, diz o representante da Moody's, será ainda mais difícil do que ter atingido a modesta nota Ba3. "Os indicadores precisam mudar de forma dramática", conclui Leos.
As notas atribuídas pelas agências representam o nível de risco que cada papel representa. Ou seja, quanto melhor a nota, menos arriscado é comprar papéis daquele emissor. Quanto pior, maior a probabilidade de se deparar com um calote.
Em linhas gerais, há os papéis com grau especulativo e os com grau de investimento, ainda que haja muitas gradações entre esses dois grupos. A grosso modo, uma boa nota é um atestado de que a agência considera que o país (ou a empresa avaliada), dadas as condições atuais, é um bom pagador.

Brasil em números
O Brasil tenta agora deixar a pecha de papel especulativo para trás, algo que, opina Leos, ainda vai exigir muito trabalho. Ele detalha os números da economia brasileira e mostra que, apesar das melhoras importantes nos últimos anos, em muitos quesitos o Brasil ainda está atrás dos países que hoje têm a mesma nota que ele e, em alguns casos, está em situação similar à dos com nota pior do que a brasileira.
Primeiro, o Brasil tem crescido menos que seus pares. Em média, de 2001 a 2005, o país cresceu 2,4% ao ano. Economias com nota Ba -mesmo grupo do Brasil, que tem Ba3- cresceram, em média, 3,9% ao ano. Os com nota B, grupo ao qual o Brasil pertencia antes da elevação da última semana, cresceram 3,6% ao ano.
A relação entre dívida pública e o PIB (Produto Interno Bruto) é de 72% no caso brasileiro, mesmo índice de países com nota B. Mas, nos países com nota similar à brasileira, o indicador é de 52%. Outra relação importante, a da dívida externa em relação às receitas de conta corrente, é de 158% no Brasil, enquanto os países de nota Ba ficam com 97%. Os que já fazem parte do grupo de "grau de investimento" geralmente têm indicador próximo de 75%.
"Em alguns casos, o Brasil se parece mais com os países com nota B do que os com Ba", afirma Loes. Ele não deixa de notar que houve avanços. Foi exatamente por conta delas, diz, que a nota melhorou. "Quando você considera os números, a política e a mudança estrutural nas exportações, a conclusão é que as condições de crédito são melhores, ainda que haja mais trabalho a ser feito."
Ele usa o futebol para ilustrar a situação brasileira atual. Um país que está nas quartas-de-final na Copa, diz ele, está a três jogos de ser campeão. "O que não significa que seja fácil", pelo contrário, afirma Leos, a partir de agora, o jogo fica mais difícil.


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