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RECEITA ORTODOXA
Indicadores têm que mudar de "forma dramática" para Brasil atingir grau de investimento, diz Moody's
País não terá nota melhor antes de 2007
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil terá de esperar bastante
para que seus títulos tornem-se,
aos olhos das agências de classificação de risco, um investimento
prudente. Nova elevação da nota
atribuída a esses títulos, se ocorrer, só virá em 2007, prevê a
Moody's. Mesmo com uma elevação, o Brasil ainda precisará de
outras duas para chegar ao "grau
de investimento".
A agência anunciou, na semana
passada, uma elevação da nota
brasileira, que passou de B1, na
escala da Moody's, para Ba3. Os
analistas da agência também atribuíram aos papéis uma "perspectiva positiva", o que significa que
a tendência é de melhora dessa
nota. Melhora, no entanto, que
deve demorar bastante.
Perspectiva positiva, explica
Mauro Leos, da unidade de risco
soberano da empresa, significa
que, "se as condições atuais persistirem, pode haver uma elevação [da nota]". Ele ressalta que a
elevação é apenas uma possibilidade e lembra que uma elevação
costuma demorar um período
que varia de 18 meses a 24 meses.
O Brasil ainda precisa de três
elevações para chegar ao sonhado
"grau de investimento", um dos
objetivos da atual equipe econômica. Conseguir as três elevações,
diz o representante da Moody's,
será ainda mais difícil do que ter
atingido a modesta nota Ba3. "Os
indicadores precisam mudar de
forma dramática", conclui Leos.
As notas atribuídas pelas agências representam o nível de risco
que cada papel representa. Ou seja, quanto melhor a nota, menos
arriscado é comprar papéis daquele emissor. Quanto pior,
maior a probabilidade de se deparar com um calote.
Em linhas gerais, há os papéis
com grau especulativo e os com
grau de investimento, ainda que
haja muitas gradações entre esses
dois grupos. A grosso modo, uma
boa nota é um atestado de que a
agência considera que o país (ou a
empresa avaliada), dadas as condições atuais, é um bom pagador.
Brasil em números
O Brasil tenta agora deixar a pecha de papel especulativo para
trás, algo que, opina Leos, ainda
vai exigir muito trabalho. Ele detalha os números da economia
brasileira e mostra que, apesar
das melhoras importantes nos últimos anos, em muitos quesitos o
Brasil ainda está atrás dos países
que hoje têm a mesma nota que
ele e, em alguns casos, está em situação similar à dos com nota
pior do que a brasileira.
Primeiro, o Brasil tem crescido
menos que seus pares. Em média,
de 2001 a 2005, o país cresceu
2,4% ao ano. Economias com nota Ba -mesmo grupo do Brasil,
que tem Ba3- cresceram, em
média, 3,9% ao ano. Os com nota
B, grupo ao qual o Brasil pertencia
antes da elevação da última semana, cresceram 3,6% ao ano.
A relação entre dívida pública e
o PIB (Produto Interno Bruto) é
de 72% no caso brasileiro, mesmo
índice de países com nota B. Mas,
nos países com nota similar à brasileira, o indicador é de 52%. Outra relação importante, a da dívida externa em relação às receitas
de conta corrente, é de 158% no
Brasil, enquanto os países de nota
Ba ficam com 97%. Os que já fazem parte do grupo de "grau de
investimento" geralmente têm indicador próximo de 75%.
"Em alguns casos, o Brasil se parece mais com os países com nota
B do que os com Ba", afirma Loes.
Ele não deixa de notar que houve
avanços. Foi exatamente por conta delas, diz, que a nota melhorou.
"Quando você considera os números, a política e a mudança estrutural nas exportações, a conclusão é que as condições de crédito são melhores, ainda que haja
mais trabalho a ser feito."
Ele usa o futebol para ilustrar a
situação brasileira atual. Um país
que está nas quartas-de-final na
Copa, diz ele, está a três jogos de
ser campeão. "O que não significa
que seja fácil", pelo contrário,
afirma Leos, a partir de agora, o
jogo fica mais difícil.
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