São Paulo, quinta-feira, 20 de outubro de 2005

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PECUÁRIA

Fazendeiros dizem que só abaterão gado após receber dinheiro prometido pelo governo; MST participa de manifestação

Produtor protesta por indenização

SÍLVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM JAPORÃ

Produtores rurais de Japorã (a 486 km de Campo Grande), no sul de Mato Grosso do Sul (MS), fizeram ontem protesto para pressionar os governos federal e estadual a indenizarem antecipadamente os produtores que tiverem o gado abatido na cidade, onde foram confirmados três focos de febre aftosa. Cerca de 200 pessoas -entre produtores e comerciantes- participaram do protesto.
A tensão da manifestação foi ampliada porque muitos fazendeiros tinham recebido a notificação formal, feita pela Iagro (Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal), sobre a interdição de transporte e comercialização do gado de produtores localizados em um raio de até 3 km dos focos de aftosa de Japorã.
"Meu gado está sadio, mas falaram que até três quilômetros do foco de aftosa todo o gado vai ser abatido. Prefiro que dêem um tiro em mim. Jamais vou permitir que matem meu gado", disse Valmira Alves da Silva, chorando.
Ela é dona do sítio Rancho Alegre, que é vizinho aos sítios Santo Antônio e São Benedito, onde focos foram confirmados pelo Ministério da Agricultura. Segundo ela, a Iagro já havia vistoriado seu gado e atestado que estava sadio.
Os produtores rurais reunidos no protesto disseram que não vão deixar que o gado seja morto antes de o dinheiro da indenização ser depositado na sua conta. "Enquanto não tiver o pagamento na conta de cada produtor, não liberaremos o gado para abate. A forma de impedir isso ainda não definimos", disse o pecuarista e presidente do Conselho de Saúde Animal de Japorã, Arlindo Perin.
As dúvidas e a tensão dos produtores transformaram o protesto em uma audiência pública informal. O coordenador de vigilância sanitária da Iagro em Japorã, José Eder, respondeu às perguntas dos produtores no microfone instalado para os discursos.
Segundo o coordenador, a notificação recebida pelos fazendeiros é apenas a formalização de um procedimento que já vem sendo tomado. Desde a confirmação do primeiro foco na região, em Eldorado, o transporte e a comercialização do gado está proibida.
Os pecuaristas esperam o apoio inusitado de assentados do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e da Fetagri (Federação dos Trabalhadores na Agricultura). "O povo, quando resolve fazer alguma coisa, faz. Na região, temos dois assentamentos [do MST e da Fetagri]. Esse pessoal sabe se organizar", disse Perin, o presidente do Conselho de Saúde Animal, com representantes dos assentados. No protesto dos produtores rurais, havia duas bandeiras do MST.

Fundo
O governo de Mato Grosso do Sul anunciou ontem que irá destinar R$ 500 mil para a criação de um fundo emergencial para ajudar os pequenos agricultores de cinco municípios que estão sem poder vender leite por causa dos focos de febre aftosa confirmados.
A criação do fundo foi anunciada anteontem pelo governador do Estado, José Orcílio dos Santos, o Zeca do PT, em um encontro em Campo Grande com os prefeitos de Eldorado, Japorã, Iguatemi, Itaquirai e Mundo Novo.


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