São Paulo, sexta-feira, 20 de outubro de 2006

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Brasileiro já gastou US$ 4,2 bi no exterior

Com real forte, gasto de janeiro a setembro é 21% maior que em igual período de 2005; estrangeiro deixou US$ 3,2 bi no país

Apesar do câmbio desfavorável, superávit das contas externas atinge US$ 2,2 bi em setembro e acumula US$ 10,1 bi no ano


NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os brasileiros estão aproveitando o real valorizado para gastar cada vez mais em suas viagens para o exterior. Números do Banco Central mostram que, entre janeiro e setembro deste ano, essas despesas somaram US$ 4,215 bilhões, maior resultado desde 1998 -época em que o dólar valia aproximadamente R$ 1.
O número inclui todos os gastos feitos pelos viajantes durante suas estadias em outros países, em dinheiro ou com cartões de crédito.
O valor apurado nos primeiros nove meses deste ano representa um crescimento de 21,5% em relação ao mesmo período do ano passado.
No final dos anos 1990, a procura por viagens internacionais teve um forte aumento, graças, em boa parte, à política cambial do governo -o BC controlava a cotação do dólar, mantendo-a próxima de R$ 1. Com o real forte, as viagens para outros países ficavam mais baratas. Entre 1995 e 1998, brasileiros gastaram US$ 19 bilhões nas suas visitas a outros países.
A situação mudou em 1999, quando um ataque especulativo aproveitou a fragilidade das contas externas e da situação fiscal do governo para forçar uma maxidesvalorização do real. O regime de câmbio controlado foi abandonado em janeiro daquele ano, e a cotação do dólar logo ultrapassou a cotação de R$ 2.
Só neste ano as despesas com turismo internacional estão voltando aos níveis pré-desvalorização. Os gastos de estrangeiros em visitas ao Brasil, porém, não têm se mostrado sensíveis ao câmbio desfavorável e, mesmo com o dólar forte, têm se mantido em alta. Entre janeiro e setembro deste ano, os estrangeiros que passaram pelo país gastaram US$ 3,207 bilhões, 12,7% a mais do que no mesmo período de 2005.
Os maiores gastos com turismo não afetaram, porém, o equilíbrio das contas externas do Brasil. Em setembro, o superávit em transações correntes ficou em US$ 2,276 bilhões, o que levou o resultado acumulado neste ano a US$ 10,136 bilhões -próximo dos US$ 11,016 bilhões apurados nos primeiros nove meses de 2005.
O desempenho das exportações continua sendo o principal fator a impulsionar essas contas. "O superávit de setembro ficou um pouco acima do esperado, fundamentalmente por causa do resultado da balança comercial", disse o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, ao anunciar os números.
A conta de transações correntes inclui, além da balança comercial, a balança de serviços e rendas (remessas de lucros, pagamento de juros, gastos com viagens internacionais, entre outros itens) e transferências unilaterais (dinheiro enviado ao Brasil por residentes no exterior -que também está crescendo- e vice-versa).
Apesar de os números gerais permanecerem positivos, o economista Antônio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP, ressalta que os dados escondem problemas que podem surgir mais para a frente.
"O desafio do Brasil não é só gerar superávit comercial para as contas externas, é aumentar a exportação de bens de maior valor agregado", afirma. Segundo Lacerda, os bons números da balança refletem o aumento dos preços de alguns produtos no mercado internacional, o que acaba compensando o efeito negativo que a queda do dólar tem sobre as vendas para o exterior.
Para o economista, é preciso atenção não só com o valor das exportações em si mas com a contribuição que o comércio exterior pode dar para o crescimento da economia. Essa contribuição, diz Lacerda, será pequena enquanto não se estimular a produção e a venda de produtos de maior valor agregado.


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