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Redução da pobreza por meio da agricultura é menor no Brasil
DO ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
O potencial de redução da
pobreza por meio do desenvolvimento da agricultura é menos intenso no Brasil e na América Latina do que em outras
regiões pobres do mundo.
A concentração das propriedades agrícolas e a falta de financiamentos e de mecanismos de distribuição dos produtos dos agricultores menores
são algumas das causas.
Segundo o Relatório do Desenvolvimento Mundial divulgado ontem pelo Banco Mundial, de um modo geral a agricultura é o setor mais eficiente
para reduzir os níveis de miséria nas principais regiões pobres do mundo, especialmente
na África e na Ásia. Ela tem impacto direto tanto no nível de
renda dos trabalhadores envolvidos quanto na redução de necessidade alimentares.
A exceção é a América Latina,
onde mesmo uma liberalização
total do comércio mundial no
setor agrícola teria impactos
"entre modestos e positivos",
segundo avaliação do Bird. Já
para a África, seriam "muito
positivos".
"A agricultura na América
Latina não é inclusiva", afirma
Laura Tuck, diretora da área de
Desenvolvimento Sustentado
do Banco Mundial.
Enquanto o agronegócio como um todo (incluindo a industrialização de produtos) participa com 30% no PIB (Produto
Interno Bruto) da região, a fatia
da agricultura isoladamente é
de 7%. Mas as áreas agrícolas
contêm cerca de 40% dos pobres latino-americanos (50%
no Paraguai).
Segundo a economista do
Bird, no caso do Brasil, um dos
principais problemas para melhorar a situação dos pobres no
campo é a falta de mecanismos
de distribuição da produção.
De acordo com o Bird, o Brasil é um dos países que têm os
maiores níveis de concentração
da distribuição de produtos
agrícolas nas mãos dos supermercados. Enquanto a média
mundial é de 60% dos alimentos sendo comercializados por
essas redes de lojas, o percentual no país vai a 75% -nível
igual ao do Reino Unido.
Na Índia, o percentual de alimentos vendidos à população
em supermercados não chega a
alcançar 5%. Na China ainda é
menor do que 15%.
Outro fator preponderante
foi a dinâmica do desenvolvimento da agricultura e do mercado de trabalho agrícola no
Brasil.
"A agricultura brasileira experimentou um crescimento
dramático nos anos 90. Mas
não está claro o quanto desse
"boom" reduziu a pobreza no setor, já que houve uma redução
do total de empregos na área e
um aumento de contratações
de trabalhadores mais especializados em função da mecanização do setor", diz o relatório
do Banco Mundial.
Segundo o documento, boa
parte da redução da pobreza
nas áreas agrícolas do Brasil
pode ser explicada pelos programas de transferência de
renda (como o Bolsa Família) e
pelo crescimento de atividades
não relacionadas ao setor (como serviços).
O relatório não faz nenhuma
menção, porém, à redução indireta da pobreza provocada por
um aumento da eficiência na
produção agrícola - já que,
quanto maior a produtividade,
menores os preços dos alimentos vendidos, por exemplo, aos
pobres que vivem nas cidades.
Concentração
Sobre o tamanho das propriedades agrícolas no Brasil,
Laura Tuck afirma que "não
existe um tamanho ideal", e
que isso depende da atividade,
cultura e intensidade tecnológica aplicada. Estados do Centro-Oeste são citados como
contendo exemplos de latifúndios que, não necessariamente,
concentram ainda mais a pobreza. De um modo geral, porém, os dados do Bird indicam
uma concentração das terras
brasileiras nas mãos de cada
vez menos proprietários.
O Banco Mundial constata
ainda que boa parte dos trabalhadores do setor agrícola no
Brasil continuam em situação
precária.
"No Brasil, a mesma legislação trabalhista é aplicada para
trabalhadores rurais e urbanos.
Embora [os empregados rurais] possam ter benefícios como o décimo terceiro salário e
férias, muitas cooperativas e
trabalhos temporários proliferaram. Os trabalhadores abrem
mão de seus benefícios para ter
mais dinheiro imediato em
mãos", diz o Bird.
(FCZ)
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