São Paulo, sábado, 20 de outubro de 2007

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Mantega vê equívoco em previsões do FMI

Fundo diz que o Brasil crescerá menos do que a estimativa do governo; para o ministro da Fazenda, "o Natal será muito rico"

Para o Fundo, país crescerá 4,4% neste ano e 4% em 2008; Mantega prevê avanços entre 4,7% e 4,8% e 5%, respectivamente

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

O ministro Guido Mantega (Fazenda) criticou ontem as previsões do FMI (Fundo Monetário Internacional) para a economia brasileira e afirmou que o Brasil terá, em 2007, "o melhor Natal dos últimos tempos".
"Tudo indica que nosso crescimento atingirá entre 4,7% e 4,8% em 2007. No ano que vem, não há razão para não crescermos 5%", disse Mantega. Pelas previsões do FMI, o Brasil cresceria 4,4% neste ano e 4% no próximo.
"O FMI fez uma análise equivocada da dinâmica da economia brasileira. Demonstra um desconhecimento do que está acontecendo no Brasil, que está crescendo de forma robusta, impulsionado por um mercado interno crescente. Isso vai desembocar no melhor Natal dos últimos tempos. Vamos ter um Natal muito rico no final de 2007", disse.
"A economia está aquecida, com o setor de construção civil aumentando sua produção e com nível de investimento bastante elevado. Não há nenhuma razão para haver desaceleração da economia em 2008."
Mantega também criticou o FMI por considerar "lento" o processo de mudanças empreendido para tentar aumentar a participação dos emergentes nas decisões do órgão. Para Mantega, o FMI corre o risco de "perecer". Ele chegou a afirmar que um dos indicativos de que o Fundo talvez esteja disposto a mudar é que o atual diretor-gerente, Rodrigo de Rato, estaria "abandonando" o cargo.
"Rato sai do cargo antes do final do mandato. Não sei os motivos. As mudanças estão aparecendo. A questão é se vão aparecer antes de o Fundo perder sua credibilidade", disse.
Um dia antes, Rato havia dito que "não é inteligente" criticar o FMI. O espanhol Rato alegou razões pessoais para deixar o cargo nas próximas semanas e será substituído pelo ex-ministro francês das Finanças Dominique Strauss-Kahn.
Questionado se estaria pregando o afastamento do Brasil do Fundo, ele disse: "Queremos que o Fundo se modifique. O FMI está em crise hoje, e é uma crise de identidade de função. Ele foi pensado para ajudar os países emergentes, que hoje precisam menos de ajuda. Foi criado como instrumento dos países avançados para ditar políticas. Essa função não é mais admissível. Ou o Fundo se moderniza ou vai cair em desuso, não vai servir para nada."
Antes da posse do presidente Lula, em 2003, o FMI fez o maior empréstimo de sua história ao Brasil, de US$ 30 bilhões. Depois da posse, o governo Lula seguiu todas as regras do Fundo, inclusive aumentando além do estipulado o superávit fiscal (economia de gastos) para pagar juros de sua dívida, até estabilizar a economia.
Mantega também se reuniu ontem com os membros do chamado G4 (Brasil, China, Índia e África do Sul) para discutir formas de pressão para levar adiante as mudanças no Fundo e tentar uma forma de se integrar ao G7 (grupo dos sete países mais ricos do mundo -Canadá, França, Alemanha, EUA, Japão, Reino Unido e Itália).
No final da tarde de ontem, os membros do chamado G24, do qual o Brasil participa, emitiram comunicado com as mesmas cobranças feitas por Mantega, porém em tom diplomático e bem mais ameno.


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