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Governo suspende crédito consignado para servidor
Suspeita de fraude motivou bloqueio por 90 dias
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo federal anunciou a
suspensão por 90 dias das operações de crédito consignado
-com desconto em folha- para servidores públicos federais.
A medida atinge 420 entidades
como associações e sindicatos.
Há suspeita de que parte delas
atue irregularmente no segmento. Grandes agentes, como
o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, não foram
atingidas e podem oferecer empréstimos normalmente.
O secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Duvanier Paiva Ferreira, diz que a suspensão será
usada para a "revisão do sistema". O foco está no uso irregular do consignado, principalmente o realizado por associações de servidores e sindicatos.
Por lei, essas entidades podem usar o desconto em folha
para debitar o valor de mensalidades e taxas de atividade de
representação trabalhista, mas
há indícios de que algumas
usem o sistema para oferecer
empréstimos irregularmente.
A ilegalidade acontece quando a associação faz acordo com
uma financeira -geralmente
de pequeno porte. Com os recursos, o sindicato passa a oferecer crédito consignado aos
servidores. A operação é ilegal,
já que não há autorização do
Banco Central para esse tipo de
serviço. Para burlar a lei, os empréstimos são pagos em folha
como "mensalidade".
Outra irregularidade ocorre
quando o servidor público termina de pagar o empréstimo.
Após a última parcela, há casos
de débito de taxas e seguros do
contracheque. O pagamento
não é reconhecido pelo trabalhador, que faz a reclamação no
departamento de recursos humanos do órgão público.
Nesses casos, o problema
acontece porque os empréstimos são oferecidos juntamente
com outro produto financeiro,
geralmente um seguro. Essa
venda casada está no contrato
de crédito consignado assinado
pelo servidor, mas não é informada. A irregularidade ocorre
principalmente com servidores
de baixa escolaridade e salários
baixos, que não lêem contratos
nem conferem os débitos.
Segundo o secretário, foi
criado um grupo responsável
por: 1) analisar as operações
consignadas; 2) dimensionar as
operações atuais; 3) avaliar a
margem de consignação -hoje
em 30% do salário.
Fraudes
Em agosto, o TCU (Tribunal
de Contas da União) aprovou
relatório apontando falhas nas
operações de crédito consignado de servidores públicos federais. A principal delas é que financeiras e sindicatos têm
acesso ao contracheque dos
trabalhadores sem autorização.
Ferreira admite que o sistema de crédito consignado tem
falhas e há irregularidades. Mas
o secretário diz que o volume é
pequeno. A principal reclamação acontece quando os servidores não reconhecem os débitos no contracheque. Segundo
o Ministério do Planejamento,
existem apenas 355 reclamações sobre esse tema no governo federal.
Em agosto, o total das operações de crédito consignado era
de R$ 59,8 bilhões, dos quais
87,1% para servidores públicos.
Os empréstimos com desconto
em folha já representam 56,3%
do crédito pessoal.
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