São Paulo, sábado, 20 de outubro de 2007

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PF prende 23 acusados de tentar golpe ao BB

Segundo investigação, grupo pretendia usar erro de digitação em informe de rendimento bancário para fraude que chegaria a R$ 1 bi

Entre os acusados pela polícia de participar do suposto esquema, estão auditores fiscais, funcionários do banco e um ex-deputado estadual

Oswaldo Praddo/Agência O Dia
Policiais carregam documentos apreendidos em operação no Rio


CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Federal prendeu ontem 23 pessoas suspeitas de participar de uma quadrilha que tentou usar um erro de digitação feito em um informe de rendimento bancário de um correntista de Americana (SP) para dar golpe de R$ 1 bilhão no Banco do Brasil. O valor corresponde a quase a metade do lucro que o banco teve no primeiro semestre -R$ 2,5 bilhões.
Em São Paulo, foram presas 11 pessoas, entre as quais advogados, doleiros e um delegado aposentado da PF. Os nomes não foram divulgados.
As investigações mostraram que dois auditores fiscais cariocas e dois funcionários do banco no Rio integravam a quadrilha. Entre os investigados, segundo a PF, está ainda Aralton Nascimento Lima, coronel da reserva do Corpo de Bombeiros do Rio, que é advogado, empresário e ex-deputado estadual.
Ele não foi encontrado em sua casa, na Barra da Tijuca. A PF esteve ainda na casa de Artur Licínio Machado, em Laranjeiras (RJ), mas ele não foi achado. Um advogado, cujo nome não foi revelado, foi preso no Recreio dos Bandeirantes.
Contra o coronel há supostas acusações de envolvimentos em fraudes imobiliárias, que envolveriam a construção de condomínios e o recolhimento de prestações para erguer imóveis não-construídos. Ele presidiu a Assemerj (associação dos servidores militares). Até a conclusão desta edição, a Folha não conseguiu localizar seu advogado e o de Machado.
Para a operação, batizada de Alquimista (em alusão ao fato de querer transformar "pó", o erro, em "ouro"), foram acionados 150 policiais, que cumpriram 24 mandados de prisão e 26 ordens de busca e apreensão em SP, RJ, GO, DF e BA.
O esquema investigado começou há dez anos, quando um aposentado de Americana recebeu informe de rendimento -usado no Imposto de Renda- com um valor superior ao que costumava movimentar.
Segundo o delegado Rodrigo de Campos Costa, coordenador da ação, em um primeiro momento, ele avisou o BB do erro, por estar preocupado em ter de pagar alto valor de imposto.
"A correção foi feita pelo banco. Mas, algum tempo depois, ele conheceu pessoas do grupo. Como tinha uma cópia do informe, o correntista e o grupo tentaram uma manobra complexa para fazer o saque." Ao perceber a tentativa de fraude, o BB informou a PF em maio do ano passado.
"O laranja que recebeu o informe de rendimento tentou, com auxílio de funcionários e auditores, receber o valor. Se conseguissem, outro integrante do grupo estava pronto para repassar esse dinheiro em contas abertas em paraísos fiscais."
Quinze contas bancárias foram bloqueadas no Brasil, nos EUA e no Uruguai por meio do DRCI (Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional). Para tentar "enganar" o banco, os auditores fizeram um falso documento para o correntista em que simulavam que ele era convocado pela Receita a prestar esclarecimentos sobre movimentação de altos valores em sua conta. "Tudo fazia parte de um acordo. Seria uma "prova" para conseguir o dinheiro, que seria dividido pelo grupo."
Na operação, foram apreendidos R$ 65 mil em dinheiro, além de computadores. O superintende da PF em São Paulo, Jaber Saad, disse que o grupo recebia ajuda do coronel e do delegado para fazer "lobby pela liberação dos recursos". O grupo responderá por corrupção ativa e passiva, formação de quadrilha, tentativa de estelionato, evasão de divisas e lavagem de dinheiro.

Colaborou MÁRCIA BRASIL, da Sucursal do Rio


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