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PREÇOS
Custo da cesta vai superar o valor bruto do mínimo, de R$ 200, hoje ou amanhã; alimentos são os grandes vilões
Mínimo já não compra mais a cesta básica
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
O salário mínimo já não compra
mais uma cesta básica em São
Paulo. Hoje ou amanhã, o Procon
(Fundação de Proteção e Defesa
do Consumidor) e o Dieese (Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos) deverão
divulgar que o custo médio da
cesta básica ultrapassará R$ 200,
valor bruto do salário mínimo.
Há exatamente um mês o custo
da cesta básica não pára de subir.
E a tendência é de novas altas. O
relatório desta semana dos preços
pagos aos produtores do Instituto
de Economia Agrícola, órgão da
Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, mostra que os preços continuam aquecidos no campo.
A evolução média dos 19 produtos pesquisados -e que são basicamente os componentes da cesta
básica- foi de 9,6% nos últimos
30 dias. Parte desse reajuste vai
chegar às gôndolas dos supermercados nas próximas semanas.
Os alimentos, que foram a marca da estabilidade dos preços nos
primeiros anos do governo FHC,
poderão ser um grande foco de
preocupação para o governo de
Luiz Inácio Lula da Silva, que assume em janeiro.
Não é a primeira vez que o custo
da cesta básica ultrapassa o valor
do salário mínimo. A última vez
tinha sido em 1999, quando o país
também vivia os efeitos da forte
desvalorização do real. No segundo semestre daquele ano, além da
desvalorização da moeda, o clima
desfavorável na agricultura empurrou ainda mais para cima os
preços dos alimentos.
Neste ano, a conjugação dos
efeitos da elevação do dólar, da
entressafra e da alta de matérias-primas no mercado externo mantém os preços dos alimentos
aquecidos desde o início do segundo semestre.
Os alimentos, que no final de
2001 representavam 78% do custo
da cesta básica, neste ano já têm
participação de 81%. A alta dos
alimentos na cesta básica é mostrada também pela inflação.
A Fipe, que previa perda de
pressão nos preços dos alimentos
em outubro, foi obrigada a reavaliar a taxa de inflação deste ano
porque a alta no setor foi de
2,86%, após aumentos de 1,50% e
de 1,42% em agosto e em setembro, respectivamente.
Sem opção de troca
O custo da cesta básica pesa forte no bolso dos trabalhadores no
momento. Os reajustes de preços
são generalizados e não há opção
de substituição de produtos porque todos estão em alta.
O dólar é o principal fator de
reajuste dos preços dos alimentos
neste momento. Os alimentos exportáveis, como a soja e seus derivados, ficaram mais caros no
mercado interno porque o dólar
facilita as exportações e rende
mais aos produtores. Os preços
internos acabam sendo reajustados pela equivalência do dólar.
No caso dos produtos importados, como o trigo, o dólar encareceu a matéria-prima comprada
no exterior, elevando os preços
para a indústria e, consequentemente, para o consumidor.
O arroz e o milho também sofrem os efeitos do dólar. A oferta
de arroz é pequena, e os intermediários e os produtores que ainda
têm mercadoria em estoque colocam os preços próximos aos do
patamar de importação, que é elevado devido ao dólar.
A euforia generalizada na alta
dos preços favorece o aumento de
outros produtos que não dependem do dólar, a não ser na hora
do plantio, quando os custos de
produção sobem.
É o caso do feijão. Pesquisa diária de preços da Folha constatou
que ontem a saca do produto chegou a R$ 100 na roça, 38% a mais
do que há um mês.
Mas a pesquisa de ontem revelou uma boa notícia. Após forte
pressão nesta entressafra, a carne
bovina começa a cair. A arroba de
boi gordo, que estava a R$ 60, caiu
para R$ 59/R$ 58 no Estado de
São Paulo.
Os vilões dos aumentos de preços neste ano são o óleo de soja
(70%), a farinha de trigo (67%) e o
açúcar (64%). Nesse ritmo de aumento, mesmo que o mínimo suba para R$ 240,00 em abril, a cesta
básica vai continuar consumindo
quase todo o salário.
Afinal, dos R$ 240 são descontados R$ 18,36 da contribuição à
Previdência Social e os trabalhadores recebem apenas R$ 221,64.
Atualmente, o salário mínimo de
R$ 200 rende R$ 184,70 para o trabalhador no fim do mês.
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