São Paulo, quarta-feira, 20 de novembro de 2002

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PREÇOS

Custo da cesta vai superar o valor bruto do mínimo, de R$ 200, hoje ou amanhã; alimentos são os grandes vilões

Mínimo já não compra mais a cesta básica

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

O salário mínimo já não compra mais uma cesta básica em São Paulo. Hoje ou amanhã, o Procon (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor) e o Dieese (Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos) deverão divulgar que o custo médio da cesta básica ultrapassará R$ 200, valor bruto do salário mínimo.
Há exatamente um mês o custo da cesta básica não pára de subir. E a tendência é de novas altas. O relatório desta semana dos preços pagos aos produtores do Instituto de Economia Agrícola, órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, mostra que os preços continuam aquecidos no campo.
A evolução média dos 19 produtos pesquisados -e que são basicamente os componentes da cesta básica- foi de 9,6% nos últimos 30 dias. Parte desse reajuste vai chegar às gôndolas dos supermercados nas próximas semanas.
Os alimentos, que foram a marca da estabilidade dos preços nos primeiros anos do governo FHC, poderão ser um grande foco de preocupação para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que assume em janeiro.
Não é a primeira vez que o custo da cesta básica ultrapassa o valor do salário mínimo. A última vez tinha sido em 1999, quando o país também vivia os efeitos da forte desvalorização do real. No segundo semestre daquele ano, além da desvalorização da moeda, o clima desfavorável na agricultura empurrou ainda mais para cima os preços dos alimentos.
Neste ano, a conjugação dos efeitos da elevação do dólar, da entressafra e da alta de matérias-primas no mercado externo mantém os preços dos alimentos aquecidos desde o início do segundo semestre.
Os alimentos, que no final de 2001 representavam 78% do custo da cesta básica, neste ano já têm participação de 81%. A alta dos alimentos na cesta básica é mostrada também pela inflação.
A Fipe, que previa perda de pressão nos preços dos alimentos em outubro, foi obrigada a reavaliar a taxa de inflação deste ano porque a alta no setor foi de 2,86%, após aumentos de 1,50% e de 1,42% em agosto e em setembro, respectivamente.

Sem opção de troca
O custo da cesta básica pesa forte no bolso dos trabalhadores no momento. Os reajustes de preços são generalizados e não há opção de substituição de produtos porque todos estão em alta.
O dólar é o principal fator de reajuste dos preços dos alimentos neste momento. Os alimentos exportáveis, como a soja e seus derivados, ficaram mais caros no mercado interno porque o dólar facilita as exportações e rende mais aos produtores. Os preços internos acabam sendo reajustados pela equivalência do dólar.
No caso dos produtos importados, como o trigo, o dólar encareceu a matéria-prima comprada no exterior, elevando os preços para a indústria e, consequentemente, para o consumidor.
O arroz e o milho também sofrem os efeitos do dólar. A oferta de arroz é pequena, e os intermediários e os produtores que ainda têm mercadoria em estoque colocam os preços próximos aos do patamar de importação, que é elevado devido ao dólar.
A euforia generalizada na alta dos preços favorece o aumento de outros produtos que não dependem do dólar, a não ser na hora do plantio, quando os custos de produção sobem.
É o caso do feijão. Pesquisa diária de preços da Folha constatou que ontem a saca do produto chegou a R$ 100 na roça, 38% a mais do que há um mês.
Mas a pesquisa de ontem revelou uma boa notícia. Após forte pressão nesta entressafra, a carne bovina começa a cair. A arroba de boi gordo, que estava a R$ 60, caiu para R$ 59/R$ 58 no Estado de São Paulo.
Os vilões dos aumentos de preços neste ano são o óleo de soja (70%), a farinha de trigo (67%) e o açúcar (64%). Nesse ritmo de aumento, mesmo que o mínimo suba para R$ 240,00 em abril, a cesta básica vai continuar consumindo quase todo o salário.
Afinal, dos R$ 240 são descontados R$ 18,36 da contribuição à Previdência Social e os trabalhadores recebem apenas R$ 221,64. Atualmente, o salário mínimo de R$ 200 rende R$ 184,70 para o trabalhador no fim do mês.


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