São Paulo, quarta-feira, 20 de novembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TRANSIÇÃO

Para analistas, com política austera, país pode crescer até 2,3% em 2003 e puxar o crescimento da América Latina

Brasil de Lula lidera AL, prevê Wall Street

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

A economia da América Latina só crescerá em 2003 se o Brasil liderar o caminho, e o mais provável é que o país consiga cumprir este papel sob o comando do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Esta é a principal conclusão de um debate que reuniu ontem em Nova York os principais especialistas de Wall Street na região.
Os analistas do mercado financeiro se encontraram para o evento América Latina 2003 -Previsões Econômicas e Financeiras, promovido pelo Conselho das Américas. Entre eles, marcaram presença Alfredo Thorne e Joyce Chang, do JP Morgan, Arturo Porzecanski, do ABN Amro, Gray Newman, do Morgan Stanley Dean Witter, e Walter Molano, da BCP Securities.
Completavam os painéis José Luís Daza, do Deutsche Bank, Robert Berges e Tulio Vera, da Merrill Lynch, e Geoffrey Dennis e Thomas Trebat, do Salomon Smith Barney. Os temas iam de "Há Novas Oportunidades na América Latina ?" a "O que Podemos Esperar?", passando por "A Região Crescerá em 2003?".
As respostas a essas perguntas foram em geral positivas. Mas o que mais chamou a atenção foi o otimismo do mercado (com raras exceções) em relação à política econômica que deve ser implantada pelo presidente eleito a partir de 1º de janeiro do ano que vem.
"Lula surpreenderá o mercado ao adotar medidas econômicas mais austeras e favoráveis ao mercado", disse Gray Newman, economista-chefe para América Latina do Morgan Stanley.
Na mesma linha foi a exposição de Arturo Porzecanski, diretor de pesquisas para mercados emergentes do ABN Amro. "Também acredito que o Brasil surpreenderá a todos nós com ações políticas razoáveis por parte do novo governo", disse ele. Como justificativa, citou o bom histórico das administrações petistas em Estados e municípios brasileiros.
Mas foi no campo das previsões traduzidas em números que o otimismo esteve mais presente. Para Newman, do ABN Amro, o Brasil deverá crescer 2% do PIB em 2003 e fechar o ano com câmbio de R$ 2,80. "Apostamos fortemente na apreciação do real", disse. Previsão pouco mais positiva fez Porzecanski, que previu um crescimento do PIB de 2.3%.
Já Geoffrey Dennis, estrategista-chefe de bolsas para América Latina do Salomon Smith Barney, foi mais longe ao afirmar que seu banco escolheu o Brasil como principal mercado de ações da região, mantendo sua recomendação "overweight" (acima da média de mercado).
"Recomendamos agora o Brasil de forma bastante agressiva para os nossos investidores", disse ele, que prevê um retorno em dólar de 30% para quem aplicar na Bovespa de hoje até o final de 2003. Segundo Dennis, a Bolsa paulista deve fechar o ano que vem em 15 mil pontos.
O tom róseo, porém, mesmo que dominante, não foi unânime. O coro dos descontentes foi puxado por um dos mais frequentes críticos da situação econômica brasileira, o economista-chefe da BCP Securities, Walter Molano. Para ele, a situação da dívida brasileira é insustentável, e isso fará com que o país tenha uma contração de 1% do PIB no ano que vem.
Cenário semelhante pintou Alfredo Thorne, do JP Morgan. De acordo com o economista-chefe para América Latina, enquanto Chile, Colômbia, México e Peru crescerão 3,3% em conjunto em 2003, Brasil, Argentina e Venezuela devem passar por recessão.


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Vamos rezar para juro não subir, diz Dirceu
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.