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TRABALHO
Na Força Sindical, de cada dez sindicatos filiados, seis estão com mensalidade em atraso; na CUT, taxa é de 20%
Centrais têm de enfrentar inadimplência
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A reforma sindical, como deseja
o governo petista, não será o único desafio a ser enfrentado pelas
centrais no início de 2003. Elas terão de contornar também o aumento no atraso no pagamento
de mensalidades de sindicatos.
Na Força Sindical, a taxa de inadimplência já supera os 60% -o
dobro da média histórica. Na
CUT (Centra Única dos Trabalhadores) é de 20% -não muito diferente da média dos últimos três
anos, mas a diretoria da central
decidiu que é hora de renegociar
as dívidas em atraso.
A Força Sindical começou a enviar cartas aos sindicatos filiados
para que eles quitem o que devem. Só assim a central vai poder
pagar o 13º salário dos funcionários e arcar com outras despesas.
De seus sócios, a Força cobra
mensalidade que varia de R$ 50 a
R$ 2.000, dependendo do tamanho e da região onde estão. Alguns sindicatos maiores, como o
dos metalúrgicos, o dos comerciários e o da construção civil pagam mais. No caso dos metalúrgicos de São Paulo, chega a R$ 150
mil por mês.
O atraso no pagamento das
mensalidades tem razões econômicas e políticas. Os sindicatos esvaziaram com o aumento do desemprego e, portanto, a arrecadação diminuiu. Alguns (filiados à
Força) não estariam satisfeitos
com posições assumidas por Paulo Pereira da Silva, presidente da
central. O processo eleitoral e as
despesas com greves também pesaram no caixa dos sindicatos.
"A Força fala em pluralismo
sindical, por exemplo. Só que
muitos sindicatos não gostam
disso e, por essa razão, param de
pagar a central", afirma Ricardo
Patah, tesoureiro da central.
O Sindicato dos Trabalhadores
nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo (Sintracon), filiado à Força, não paga sua mensalidade de R$ 10 mil desde julho por
falta de recursos. "No nosso caso
não tem nada a ver com política",
afirma Antonio de Sousa Ramalho, presidente do sindicato.
O sindicato passou por um ajuste que resultou na demissão de 48
funcionários neste mês, de um total de 237. Dos 120 mil sócios do
sindicato, diz, só 12 mil pagam em
dia (R$ 10 por mês).
A arrecadação do sindicato, que
chegou a R$ 12 milhões em 99, está em torno de R$ 5 milhões por
ano. "O que acontece também é
que das 23,7 mil empresas cadastradas, só 7 mil repassam para nós
a parte que cabe ao sindicato do
imposto sindical", afirma.
O Sindicato dos Metalúrgicos
de São Paulo também corre o risco de não pagar neste mês a mensalidade para a Força. "Se pagarmos, nosso caixa vai a zero. Acho
que vamos rolar a dívida para janeiro", diz Ramiro de Jesus Pinto,
vice-presidente do sindicato.
O tesoureiro da CUT, João Vaccari Neto, informa que a taxa de
20% de inadimplência da central
deve diminuir até o final deste ano
por causa do processo de renegociação das dívidas.
Vaccari também explica que a
inadimplência na central é medida de duas maneiras -a histórica
(atinge 50% dos sindicatos da
central há anos) e a ocasional
(desde 2000, mantém-se em
20%). "Tem sindicato que não paga há anos. E há entidades que pagam mês sim, mês não."
É o caso do Sindicato dos Bancários do Rio, que está em processo de negociação de sua dívida
(não divulgada). "De 1985 para
2002, a categoria passou de cerca
de 900 mil bancários para menos
de 400 mil no país. No Rio, o número de sócios foi reduzido de 40
mil para 18 mil", afirma Orlando
Cezar, tesoureiro do sindicato.
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