São Paulo, quarta-feira, 20 de novembro de 2002

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TRABALHO

Na Força Sindical, de cada dez sindicatos filiados, seis estão com mensalidade em atraso; na CUT, taxa é de 20%

Centrais têm de enfrentar inadimplência

FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A reforma sindical, como deseja o governo petista, não será o único desafio a ser enfrentado pelas centrais no início de 2003. Elas terão de contornar também o aumento no atraso no pagamento de mensalidades de sindicatos.
Na Força Sindical, a taxa de inadimplência já supera os 60% -o dobro da média histórica. Na CUT (Centra Única dos Trabalhadores) é de 20% -não muito diferente da média dos últimos três anos, mas a diretoria da central decidiu que é hora de renegociar as dívidas em atraso.
A Força Sindical começou a enviar cartas aos sindicatos filiados para que eles quitem o que devem. Só assim a central vai poder pagar o 13º salário dos funcionários e arcar com outras despesas.
De seus sócios, a Força cobra mensalidade que varia de R$ 50 a R$ 2.000, dependendo do tamanho e da região onde estão. Alguns sindicatos maiores, como o dos metalúrgicos, o dos comerciários e o da construção civil pagam mais. No caso dos metalúrgicos de São Paulo, chega a R$ 150 mil por mês.
O atraso no pagamento das mensalidades tem razões econômicas e políticas. Os sindicatos esvaziaram com o aumento do desemprego e, portanto, a arrecadação diminuiu. Alguns (filiados à Força) não estariam satisfeitos com posições assumidas por Paulo Pereira da Silva, presidente da central. O processo eleitoral e as despesas com greves também pesaram no caixa dos sindicatos.
"A Força fala em pluralismo sindical, por exemplo. Só que muitos sindicatos não gostam disso e, por essa razão, param de pagar a central", afirma Ricardo Patah, tesoureiro da central.
O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo (Sintracon), filiado à Força, não paga sua mensalidade de R$ 10 mil desde julho por falta de recursos. "No nosso caso não tem nada a ver com política", afirma Antonio de Sousa Ramalho, presidente do sindicato.
O sindicato passou por um ajuste que resultou na demissão de 48 funcionários neste mês, de um total de 237. Dos 120 mil sócios do sindicato, diz, só 12 mil pagam em dia (R$ 10 por mês).
A arrecadação do sindicato, que chegou a R$ 12 milhões em 99, está em torno de R$ 5 milhões por ano. "O que acontece também é que das 23,7 mil empresas cadastradas, só 7 mil repassam para nós a parte que cabe ao sindicato do imposto sindical", afirma.
O Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo também corre o risco de não pagar neste mês a mensalidade para a Força. "Se pagarmos, nosso caixa vai a zero. Acho que vamos rolar a dívida para janeiro", diz Ramiro de Jesus Pinto, vice-presidente do sindicato.
O tesoureiro da CUT, João Vaccari Neto, informa que a taxa de 20% de inadimplência da central deve diminuir até o final deste ano por causa do processo de renegociação das dívidas.
Vaccari também explica que a inadimplência na central é medida de duas maneiras -a histórica (atinge 50% dos sindicatos da central há anos) e a ocasional (desde 2000, mantém-se em 20%). "Tem sindicato que não paga há anos. E há entidades que pagam mês sim, mês não."
É o caso do Sindicato dos Bancários do Rio, que está em processo de negociação de sua dívida (não divulgada). "De 1985 para 2002, a categoria passou de cerca de 900 mil bancários para menos de 400 mil no país. No Rio, o número de sócios foi reduzido de 40 mil para 18 mil", afirma Orlando Cezar, tesoureiro do sindicato.


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