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ADEUS AO ÍNDICE
Última divulgação será na próxima semana
Após 26 anos, Heron deixa o IPC da Fipe
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
O economista Heron do Carmo fará na próxima semana sua
última divulgação de um índice
de inflação pela Fipe. Em janeiro, completaria 26 anos de
acompanhamento do Índice de
Preços ao Consumidor.
Sempre crítico com relação a
oligopólios, bancos, controle de
preços e governo, ele passou os
anos mais atribulados da inflação no país no comando do índice. Entrou no IPC em janeiro de
78 com inflação anual de 40%, e
sai com taxa de 8%. Mas apurou
inflação de 33.945.016.639.501%
nesse período -isso mesmo,
33,9 trilhões por cento.
Heron viveu vários planos econômicos. Do Cruzado, em 86, ao
Real, em 94. Preocupados com o
controle de inflação, muitas vezes os membros do governo criticaram abertamente o economista da Fipe.
Eles queriam um índice adaptável às condições do momento
para mostrar redução da taxa,
no que a Fipe não concordava.
Essa discussões foram mais assíduas nos planos Cruzado e Collor, quando o governo criticava a
metodologia de apuração da inflação do vestuário.
A apuração de preços pela Fipe
muitas vezes irritou também a
indústria. Um desses momentos
foi na constatação de que as empresas -algumas no setor de
papel higiênico e outras no de
bebidas- reduziram o tamanho das embalagens para ganhar nos preços.
Aos 53 anos, Heron deixa o índice da Fipe para se dedicar mais
à vida acadêmica. Professor de
econometria na USP, ele diz que,
apesar da experiência que dão,
os índices são poucos reconhecidos. "Vale mais um artigo em
uma revista estrangeira sobre
qualquer assunto do que meus
26 anos de índice para a vida
acadêmica."
Conhecedor profundo dos índices de preços, Heron sempre
analisa o IPC dentro de uma visão global de política macroeconômica, mas não deixa de acompanhar a pressão individual dos
540 itens componentes do índice
calculado pela Fipe.
Exatamente por esse extenso
trabalho, que começa com as entrevistas com os pesquisadores
de campo da Fipe (para tomar
conhecimento das tendências de
preços) até a divulgação do IPC
(que começa às 6h, com as emissoras de rádio, e se estende até a
noite), Heron diz que não tinha
mais tempo para os estudos acadêmicos.
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