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RECEITA GRADUAL?
Copom reduz taxa Selic para 17,5% ao ano tendo em vista as "perspectivas favoráveis para a inflação"
BC surpreende e corta juros em 1,5 ponto
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central reduziu os juros básicos da economia de 19%
ao ano para 17,5% -o valor mais
baixo desde junho de 2001.
Foi o sexto corte consecutivo
promovido pelo Copom (Comitê
de Política Monetária) do banco,
que se reúne mensalmente para
definir o nível da taxa Selic.
Elogiada pelo setor produtivo, a
redução ficou acima das estimativas dos mercados, que esperavam
um corte de 1 ponto percentual.
Mesmo dentro do BC, porém, a
decisão causou divergências. Dos
nove membros da diretoria, apenas sete votaram pelo corte de 1,5
ponto percentual -o BC não informou como votou cada diretor.
Desde a reunião de julho de 2002
não havia divergência de votos.
O presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, disse na noite
de ontem em Belo Horizonte que
"cedo ou tarde teria uma posição
não unânime" no Copom.
"Já existiram no passado posições divergentes no Copom, e
também em outros bancos centrais do mundo, reunião com e
sem unanimidade. Cedo ou tarde
teríamos posição não unânime,
que faz parte do debate, da democracia e da boa fertilidade do debate", afirmou Meirelles.
O presidente do BC atribuiu as
seguidas quedas nos juros à redução do risco-país e ao controle da
inflação. "Nossa taxa [de juros]
está caindo porque o risco [Brasil]
está melhorando muito".
Segundo nota do BC, a decisão
deve-se a "perspectivas favoráveis
para a trajetória da inflação e levando em conta o balanço dos riscos que cercam essa trajetória".
A Folha apurou que a queda de
1,5 ponto era esperada pela cúpula do governo. Nos últimos dois
dias, auxiliares próximos a Luiz
Inácio Lula da Silva diziam que o
presidente consideraria tímida
uma queda de apenas um ponto.
A taxa Selic remunera as operações financeiras feitas entre os
bancos e o BC. Em tese, é a partir
dela que os bancos definem os juros cobrados nos empréstimos
concedidos a seus clientes.
De junho para cá, a Selic sofreu
uma redução de nove pontos percentuais. Ainda assim, empresários e membros do governo consideram que a taxa continua em níveis excessivamente elevados.
Ontem à tarde, o vice-presidente da República, José Alencar, voltou a defender que a decisão sobre
juros seja política e não técnica.
O BC, por sua vez, tem afirmado
que adota uma "política gradualista" em relação aos cortes nos juros. Segundo o banco, a queda
gradual de juros permitiria que a
retomada do crescimento sem
um aumento da inflação.
Teoricamente, juros menores
barateiam o crédito, estimulando
o consumo das famílias e os investimentos das empresas. Isso
levaria a um crescimento da economia e da renda da população.
Nesse cenário, os empresários teriam mais espaço para reajustar
preços, pressionando a inflação.
Indicadores divulgados recentemente mostram que, por um lado, a inflação parece estar sob
controle, o que permitiria um corte maior nos juros.
Por outro, a economia começa a
dar sinais de recuperação, o que
justificaria o argumento do BC de
que a queda nas taxas não seria
tão urgente, pois a retomada do
crescimento já estaria em curso.
Colaboraram Kennedy Alencar,
da Sucursal de Brasília, e Paulo Peixoto,
da Agência Folha em Belo Horizonte
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