São Paulo, quarta-feira, 20 de dezembro de 2000

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PREVIDÊNCIA PRIVADA
Banco do Brasil diz que fundo de pensão descumpriu suas próprias decisões sobre modelo de paridade

Fraude em ata causou intervenção na Previ

FELIPE PATURY
DA REPORTAGEM LOCAL

O Banco do Brasil atribui a intervenção branca decretada pelo governo na Previ -o fundo de pensão dos seus funcionários-, na segunda-feira, ao descumprimento de suas próprias decisões. No centro das acusações do BB está a ata da reunião do conselho deliberativo da Previ do último dia 12.
O documento alinhava as regras para a adoção da paridade de contribuições no fundo entre o BB e seus funcionários. Foi aprovado por unanimidade pelos sete conselheiros, mas acabou sendo modificado depois de pronto.
Um dos integrantes do conselho, Valmir Camilo, classificou as mudanças de "fraude". No BB, que tinha conseguido aprovar seu modelo de paridade na reunião, as alterações são classificadas como "derrota no tapetão".
Três conselheiros mudaram seus votos depois da reunião. Dois deles, Paulo Trapp, presidente do conselho, e Arlindo Oliveira adiaram a assinatura para o dia seguinte. Quando assinaram o documento, fizeram ressalvas de que ele não espelhava o que havia sido acertado na reunião.
O terceiro, Carlos Alberto de Araújo, decidiu retificar seu voto juntamente com Trapp e Oliveira. Eles reviram suas posições depois de ouvir os diretores da Previ eleitos pelos funcionários.
Ontem, os diretores eleitos da Previ, Sérgio Rosa, Erik Persson e Henrique Pizzolato, divulgaram duas notas contestando as acusações do banco. Nos documentos, afirmam que a forma de ingresso na paridade deve ser levada à decisão dos associados.
A aprovação do conselho deliberativo encerraria a disputa entre os representantes do BB e dos funcionários na direção da Previ sobre como será implantada a paridade no fundo. O problema está no superávit no caixa da Previ.
Ao contrário dos outros fundos que correm risco de intervenção federal, a Previ acumula uma gorda sobra de R$ 4,5 bilhões. É isso o que sobraria se fossem pagas hoje todas as aposentadorias e benefícios dos associados da Previ.
O dinheiro foi amealhado com as contribuições do BB e dos funcionários. Como deu R$ 2 para cada R$ 1 dos funcionários, o BB acha que também tem direito a dois terços da bolada.
O diretores eleitos acham que o dinheiro não é do banco, mas do fundo. Como as negociações sobre a quem cabe cada pedaço do quinhão não foram concluídas até 16 deste mês, o Ministério da Previdência indicou um diretor para implantar a paridade.
A primeira proposta para ingresso na paridade saiu do BB em novembro. A idéia era que R$ 3 bilhões dos R$ 4,5 bilhões de superávit custeassem a paridade sem ônus para os funcionários.
O problema começou quando discutiu-se o que deveria ser feito com o R$ 1,5 bilhão restante. O BB sugeriu que o dinheiro fosse usado para quitar parte de sua dívida de R$ 6 bilhões com o fundo.
Os representantes dos funcionários não aceitaram e sugeriram que se encerrassem as negociações nos R$ 3 bilhões e se discutisse depois o destino do resto do dinheiro. O BB quis a nomeação de árbitros para resolver o problema.
As negociações empacaram até que a diretoria da Previ remeteu o assunto para o conselho deliberativo no dia 12. A proposta aprovada pelo conselho e ressalvada depois estabelecia que dois terços do R$ 1,5 bilhão seriam usados para quitar a dívida do fundo e o outro terço serviria para aumentar os benefícios dos aposentados. Os eleitos recusaram a proposta.


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