São Paulo, sexta-feira, 20 de dezembro de 2002

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EM TRANSE

Futuro presidente da instituição diz que os sete diretores continuarão em seus cargos por tempo indeterminado

Meirelles vai manter atual diretoria do BC

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O futuro presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, anunciou ontem que sua equipe na instituição está definida: trata-se dos sete diretores que estão hoje nos cargos por indicação de Armínio Fraga. "Acreditamos na continuidade", disse.
Até então, a versão oficial da equipe do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, era que a permanência da atual diretoria do BC teria caráter temporário, até a definição de substitutos. Acreditava-se que a regra estabelecida por Lula para a saída de Fraga -a promessa de campanha de mudar a política econômica- valesse também para os auxiliares mais diretos do presidente do BC.
Mas as declarações de Meirelles não dão margem a dúvidas. "Essa é a nossa diretoria", repetiu, a pedido dos jornalistas, durante uma entrevista concedida num hotel de Brasília. "Ao contrário do que muita gente esperava, esse governo não vai fazer mudanças bruscas ou ideológicas na formação dos quadros de direção de política monetária."
Esses quadros, leia-se o time de Fraga, "estão tendo uma atuação que está sendo objeto de aprovação", segundo a avaliação de Meirelles -que vinha de um café da manhã com toda a equipe do BC e o futuro ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho.
O encontro, disse, confirmou "a excelente impressão" que tem da atual diretoria.
Ainda que Meirelles tenha admitido a possibilidade de substituições no futuro, "por problemas pessoais ou de outro tipo", o recado para os mundos político e financeiro estava dado: a continuidade da gestão de Fraga, já indicada na sabatina de Meirelles no Senado, foi explicitada com nomes e sobrenomes.
Luiz Fernando Figueiredo, Ilan Goldfajn, Tereza Grossi, Beny Parnes, Carlos Eduardo de Freitas, Sérgio Darcy e Edison Bernardes, os sete diretores que anteontem aprovaram por unanimidade a elevação dos juros de 22% para 25% anuais, têm sua gestão respaldada pelo governo eleito e ficarão nos postos por tempo indeterminado.
"Parece-me absolutamente natural que a manutenção dessa diretoria sinalize o compromisso do presidente Lula com a eficácia administrativa", disse Meirelles.
O mais antigo dos diretores, Sérgio Darcy (Normas), nomeado para o cargo em 97 pelo ex-presidente do BC Gustavo Franco, foi receptivo. "Tenho desejo de ficar. Gosto do projeto que vem aí. Gosto do que o Meirelles falou."

"Conservadorismo"
O contraste entre a postura do futuro diretor do BC e a promessa de novos rumos para a política econômica embutida na eleição de Lula motivou grande parte das perguntas a Meirelles, que chegou a ser questionado se seria mais conservador que Fraga.
"Não posso responder se sou ou não mais conservador que o dr. Armínio Fraga. Nas conversas que tive com ele, me parece que temos abordagens bastante similares. Mas posso fazer uma afirmação: eu acho que o meu nível de conservadorismo é exatamente o mesmo do ministro Antonio Palocci", foi a resposta.
Meirelles disse, porém, que é um engano imaginar a política econômica de Lula como uma continuidade da atual. O que será mantido, explicou, são o regime de metas de inflação, a autonomia do Copom (Comitê de Política Monetária do BC, responsável pela definição dos juros), a política de superávits fiscais. O que mudará não foi dito.
O próprio Meirelles exemplificou seu entendimento sobre a autonomia do Copom -formado pelo presidente e pelos diretores do BC- ao se negar a comentar a alta dos juros. "A própria definição de autonomia do Copom pressupõe que ele não esta sujeito a julgamento" de outras áreas do governo.
Ele voltou a afirmar que o governo Lula proporá ao Congresso a fixação de mandatos fixos para os dirigentes do BC, embora ressaltando que os detalhes do projeto ainda estão em discussão.
Não está definido, por exemplo, se os mandatos serão não-coincidentes com os do presidente da República, o que possibilitaria a permanência de dirigentes do BC indicados por Lula após 2006, quando termina o mandato presidencial. Meirelles disse que há experiências internacionais bem-sucedidas com essa regra.
Segundo ele, o compromisso do futuro governo de formalizar a autonomia do BC não foi discutida no momento do convite que recebeu de Lula, mas posteriormente, em discussões com o presidente eleito e Palocci.


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