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EM TRANSE
Futuro presidente da instituição diz que os sete diretores continuarão em seus cargos por tempo indeterminado
Meirelles vai manter atual diretoria do BC
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O futuro presidente do Banco
Central, Henrique Meirelles,
anunciou ontem que sua equipe
na instituição está definida: trata-se dos sete diretores que estão hoje nos cargos por indicação de Armínio Fraga. "Acreditamos na
continuidade", disse.
Até então, a versão oficial da
equipe do presidente eleito, Luiz
Inácio Lula da Silva, era que a permanência da atual diretoria do BC
teria caráter temporário, até a definição de substitutos. Acreditava-se que a regra estabelecida por
Lula para a saída de Fraga -a
promessa de campanha de mudar
a política econômica- valesse
também para os auxiliares mais
diretos do presidente do BC.
Mas as declarações de Meirelles
não dão margem a dúvidas. "Essa
é a nossa diretoria", repetiu, a pedido dos jornalistas, durante uma
entrevista concedida num hotel
de Brasília. "Ao contrário do que
muita gente esperava, esse governo não vai fazer mudanças bruscas ou ideológicas na formação
dos quadros de direção de política
monetária."
Esses quadros, leia-se o time de
Fraga, "estão tendo uma atuação
que está sendo objeto de aprovação", segundo a avaliação de Meirelles -que vinha de um café da
manhã com toda a equipe do BC e
o futuro ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho.
O encontro, disse, confirmou "a
excelente impressão" que tem da
atual diretoria.
Ainda que Meirelles tenha admitido a possibilidade de substituições no futuro, "por problemas
pessoais ou de outro tipo", o recado para os mundos político e financeiro estava dado: a continuidade da gestão de Fraga, já indicada na sabatina de Meirelles no Senado, foi explicitada com nomes e
sobrenomes.
Luiz Fernando Figueiredo, Ilan
Goldfajn, Tereza Grossi, Beny
Parnes, Carlos Eduardo de Freitas, Sérgio Darcy e Edison Bernardes, os sete diretores que anteontem aprovaram por unanimidade
a elevação dos juros de 22% para
25% anuais, têm sua gestão respaldada pelo governo eleito e ficarão nos postos por tempo indeterminado.
"Parece-me absolutamente natural que a manutenção dessa diretoria sinalize o compromisso do
presidente Lula com a eficácia administrativa", disse Meirelles.
O mais antigo dos diretores,
Sérgio Darcy (Normas), nomeado
para o cargo em 97 pelo ex-presidente do BC Gustavo Franco, foi
receptivo. "Tenho desejo de ficar.
Gosto do projeto que vem aí. Gosto do que o Meirelles falou."
"Conservadorismo"
O contraste entre a postura do
futuro diretor do BC e a promessa
de novos rumos para a política
econômica embutida na eleição
de Lula motivou grande parte das
perguntas a Meirelles, que chegou
a ser questionado se seria mais
conservador que Fraga.
"Não posso responder se sou ou
não mais conservador que o dr.
Armínio Fraga. Nas conversas
que tive com ele, me parece que
temos abordagens bastante similares. Mas posso fazer uma afirmação: eu acho que o meu nível
de conservadorismo é exatamente o mesmo do ministro Antonio
Palocci", foi a resposta.
Meirelles disse, porém, que é
um engano imaginar a política
econômica de Lula como uma
continuidade da atual. O que será
mantido, explicou, são o regime
de metas de inflação, a autonomia
do Copom (Comitê de Política
Monetária do BC, responsável pela definição dos juros), a política
de superávits fiscais. O que mudará não foi dito.
O próprio Meirelles exemplificou seu entendimento sobre a autonomia do Copom -formado
pelo presidente e pelos diretores
do BC- ao se negar a comentar a
alta dos juros. "A própria definição de autonomia do Copom
pressupõe que ele não esta sujeito
a julgamento" de outras áreas do
governo.
Ele voltou a afirmar que o governo Lula proporá ao Congresso
a fixação de mandatos fixos para
os dirigentes do BC, embora ressaltando que os detalhes do projeto ainda estão em discussão.
Não está definido, por exemplo,
se os mandatos serão não-coincidentes com os do presidente da
República, o que possibilitaria a
permanência de dirigentes do BC
indicados por Lula após 2006,
quando termina o mandato presidencial. Meirelles disse que há experiências internacionais bem-sucedidas com essa regra.
Segundo ele, o compromisso do
futuro governo de formalizar a
autonomia do BC não foi discutida no momento do convite que
recebeu de Lula, mas posteriormente, em discussões com o presidente eleito e Palocci.
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