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LUÍS NASSIF
Engenharia financeira e crise
A premiação do Banco do
Brasil pela LatinFinance e
pelo IFR Awards, pelas operações de emissão de bônus no
mercado internacional, chama a
atenção para as possibilidades
que o mercado financeiro abre
para soluções criativas, mesmo
em período de escassez de capitais que caracterizou 2002.
Em junho passado, em plena
crise cambial, com o risco Brasil
superando 1.600 pontos (isto é,
16 pontos percentuais acima da
taxa básica norte-americana), o
BB fez uma emissão, o que já era
um milagre. Mais: o custo foi de
60 pontos acima da "libor".
Foram três grandes operações
(US$ 300 milhões, US$ 450 milhões e US$ 300 milhões) e uma
menor (US$ 40 milhões). As últimas saíram a um custo inferior a
7% em dólar, para prazo de sete
anos.
Para as primeiras, o lastro da
emissão eram as ordens de pagamento de decasséguis. No caso
da última, de US$ 450 milhões,
foi de sete anos, tendo como lastro as remessas de brasileiros nos
Estados Unidos. Todas tiveram
"rating" BBB+.
A nova operação seguiu os
procedimentos anteriores, com
uma variação. Tentou-se o triplo
A, para aproveitar brechas na
composição da carteira dos investidores. Essa qualificação é
para papéis com menor risco.
Para chegar a ela, decidiu-se
acrescentar um seguro de risco-país.
A segunda parte da estratégia
consistiu em um trabalho pessoal de esclarecimento dos investidores, para tirá-los da ditadura
das agências de risco.
Diretores do banco fizeram o
"road show", explicando a cada
investidor a operação, as condições do banco e do país, os avanços conquistados nos últimos
anos e as perspectivas futuras.
Essa mesma apresentação foi feita para a Aambac, a seguradora.
Quando se juntaram o lastro das
operações com o seguro de risco-país e os esclarecimentos, os custos despencaram. Além da redução do "spread", o momento internacional ajudou porque a "libor" vai equivaler a um T-Bond
em torno de pouco mais de três
pontos.
É importante notar que, com
todo o alarde em torno do encolhimento dos créditos à exportação, não se sabe de caso de empresa brasileira que deixou de
exportar por falta de financiamento. Isso porque o mercado
agiu de maneira criativa para
suprir as necessidades do momento.
Dívida pública
A respeito da coluna "O dogma
da dívida pública", sobre a relação entre desvalorização cambial e aumento da relação dívida
pública/PIB com base em estudos do economista Paulo Tenani, do Citigroup Asset Management, algumas observações adicionais.
Segundo Tenani, como a proporção de produtos dolarizados
do PIB (30%) é maior do que a
proporção de ativos dolarizados
da dívida pública (25%), uma
desvalorização cambial deveria
provocar a redução da proporção dívida pública/PIB -e não
o contrário. Com o aumento dos
preços (em reais) dos produtos
dolarizados, há um aumento no
PIB nominal que mais do que
compensaria o aumento da dívida nominal.
Fábio Werneck Magalhães observa que a premissa estaria correta se a contaminação da inflação pelo dólar fosse igual à desvalorização cambial. O pessoal
do Banco Central lembra que a
premissa correta a ser utilizada é
a taxa real de juros. Ou seja, a
inflação reduziria a proporção
dívida líquida/PIB se a taxa de
juros real caísse. Como ela é
mantida ou até cresce após a
desvalorização cambial, a premissa inicial fica prejudicada.
E-mail-
lnassif@uol.com.br
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