São Paulo, sexta-feira, 20 de dezembro de 2002

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POLÍTICA MONETÁRIA

Presidente do Banco Central diz que estará à disposição do novo governo após 1º de janeiro

Armínio afirma que está "engajado" para ajudar governo Lula

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Banco Central, Armínio Fraga, disse ontem que está "engajado em ajudar" o novo governo e se colocou à disposição do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e de sua equipe para dar opiniões e colaborar no que for necessário depois da troca do poder, em 1º de janeiro.
"Como brasileiro, se puder ajudar, ajudarei. Se alguém precisar de uma opinião, de alguma análise, não me negarei", disse Armínio à Folha, depois de tomar café da manhã com os futuros ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, e presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
Armínio, que pretende se mudar para o Rio de Janeiro e cumprir a quarentena (quatro meses remunerados sem trabalhar, depois de deixar o governo), disse enfaticamente que tem conversado também com representantes de vários partidos, inclusive os que farão oposição a Lula, como PSDB e PFL.
Ressalvou, porém, que não pretende municiar a nova oposição que se organiza: "Não tenho nenhuma intenção de atuar em qualquer nível político-partidário, principalmente na oposição. Ao contrário, onde for possível, pretendo ajudar o governo", disse Armínio.
Na sexta-feira passada, Armínio recebeu no seu gabinete do Banco Central os senadores Jorge Bornhausen (SC) e José Agripino Maia (RN), respectivamente presidente e líder do PFL no Senado. Segundo ele, foi uma "visita de cortesia, de despedida".
Na sua versão, os congressistas e ele próprio agradeceram-se mutuamente pelo "espírito de cooperação". Já no final, Agripino teria perguntado: "Se algum dia precisarmos ouvir sua opinião sobre política econômica, podemos procurá-lo?"
Armínio relatou ontem que respondeu afirmativamente, mas de forma protocolar, gentil: "Claro! Com o maior prazer".
Isso, porém, segundo ele, não significa que tenha intenção de dar consultoria para o PFL ou para qualquer outro partido e nem mesmo municiá-los informalmente para que possam questionar decisões do futuro governo.
Na terça-feira, Agripino já fez um primeiro teste. Ligou para Armínio, no BC, para pedir ajuda e "dicas" sobre perguntas que o PFL deveria formular tecnicamente para Meirelles durante a sabatina dele na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Armínio não atendeu nem voltou a ligar para Agripino.

Assessoria, não
O atual presidente do BC também declarou que ainda não definiu seu destino profissional, mas uma coisa já sabe: "Não serei comentarista de Copom [Comitê de Política Monetária do BC", nem vou trabalhar em assessoria econômica para ninguém". Isso corresponde a dizer que não seguirá o caminho da maior parte de seus antecessores depois de deixar a presidência do banco.
Sobre a alta dos juros de 22% para 25%, definida pelo Copom na quarta-feira, Armínio disse que foi, "como sempre", uma decisão independente e técnica. "Foi nossa última reunião, mas decidimos como se tivéssemos ainda 10, 20 ou 100 anos pela frente. Foi uma decisão técnica, que julgamos ser a melhor para o país."
Ele fez questão de frisar que, como das vezes anteriores em que o Copom aumentou os juros, não ouviu o presidente Fernando Henrique Cardoso como tampouco o sucessor, Lula.


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