São Paulo, sexta-feira, 20 de dezembro de 2002

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CONTAS EXTERNAS

Em 2001, elas conseguiram refinanciar 100% de seus vencimentos; em dezembro, taxa deve ser de 13%

Empresas rolam só 34% da dívida em 2002

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As empresas brasileiras ainda enfrentam dificuldades para obter empréstimos no mercado financeiro internacional. Mesmo passadas as eleições, o acesso do setor privado ao crédito externo continua limitado.
Neste mês, por exemplo, vence US$ 1 bilhão em títulos emitidos por empresas no mercado internacional. Desse valor, 13% devem ser refinanciados. O restante terá de ser quitado. Em 2001, o setor privado renovou todos os papéis que venceram no período.
Entre os bancos, a situação também é difícil. No mês passado, o total de linhas de crédito externo recebido pelas instituições financeiras somava US$ 15,369 bilhões, recuo de 5% em relação ao número de outubro. No ano, a queda já chega a 21%.
A dificuldade das empresas em renovar sua dívida externa pressiona o câmbio: sem refinanciar seus compromissos, o setor privado é obrigado a quitá-los, enviando dólares para fora do país.
Até pouco tempo atrás, as eleições presidenciais eram apontadas como o principal motivo para a falta de crédito. Para os analistas, a possibilidade, confirmada em outubro, de que um candidato de oposição fosse eleito lançava incertezas em relação ao futuro da economia brasileira. Na dúvida, muitos investidores estrangeiros preferiam não colocar seu dinheiro no Brasil.
O que se vê agora é que, mesmo encerrado o processo eleitoral, a falta de crédito persiste e não há sinais de que a situação vá melhorar em breve. "Não há nenhum sinal muito forte de recuperação", afirma o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes.
Segundo ele, não se deve esperar, porém, uma redução ainda maior nos empréstimos concedidos por bancos estrangeiros ao Brasil. "Os números estão se estabilizando, mas num patamar baixo", diz.

Situação em 2001
No ano passado, as empresas conseguiram renovar 100% dos títulos lançados no exterior. Neste ano, essa proporção deve ficar em 34%, de acordo com Lopes. Em 2003, espera-se uma ligeira recuperação, com a taxa de rolagem devendo chegar a 50% na média do ano.
A renovação de títulos da dívida externa e o volume de crédito obtido pelos bancos que atuam no Brasil são indicadores da confiança do mercado internacional no país.
A situação só é um pouco melhor para empresas de maior porte, que conseguem seus empréstimos diretamente com os bancos estrangeiros, em vez de apenas negociar papéis de maneira pulverizada no mercado. Nessas transação, a taxa de rolagem deve ficar em 63% neste ano, podendo chegar a 90% em 2003.
Nos três primeiros meses de 2003, início do mandato do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, os vencimentos da dívida externa sob responsabilidade do setor privado chegam a US$ 2,618 bilhões, quase metade dos US$ 4,718 bilhões vencidos em igual período deste ano.
A própria redução na rolagem da dívida explica a queda nesses vencimentos. Como as empresas tiveram dificuldades em obter empréstimos no exterior neste ano, o endividamento total caiu, reduzindo também o volume de parcelas a serem pagas em 2003. No ano que vem, os compromissos do setor privado somam US$ 17,285 bilhões, contra US$ 21,932 bilhões neste ano.


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