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Economistas criticam controle de capital
Como Tailândia, Brasil sofre com entrada de dólares que valoriza câmbio, mas, para analistas, restrições podem ser prejudiciais
Nakano e Bresser-Pereira já argumentaram, porém, que algum controle pode
ser eficaz para conter a valorização do real
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil e alguns outros países emergentes sofrem do mesmo problema tailandês: dólares
em excesso valorizando as
moedas locais e causando problemas para o setor produtivo.
Mas são raros os economistas
hoje no Brasil que receitam o
controle de capitais para conter
a valorização do real.
"É um tipo de medida que
causa mais mal que bem", sintetiza Vladimir Caramashi,
economista-chefe da Fator
Corretora. Para ele, é difícil separar completamente a natureza do dinheiro que entra no
país. Muitos vezes, medidas
que restringem a entrada ou
saída de recursos acabam tendo impacto negativo nos fluxos
que são bons para a economia,
como os investimentos produtivos. "Ao tentar evitar especulação contra o dólar e a favor do
real, você atinge outros fluxos
que são benéficos para a economia", conclui Caramashi.
Outro problema de adotar a
medida, lembra Luis Fernando
Lopes, do Banco Pátria, é que
ela traz um custo de credibilidade alto. Afastando investidores do país e causando fuga de
recursos, como na Tailândia, a
adoção de controles de capitais
pode dificultar ainda mais o
trabalho do governo e do Banco
Central na administração da
política econômica.
Apesar de a maioria dos economistas se opor à idéia, há
quem apoie a medida como forma de evitar que capitais muito
voláteis entrem no país e causem valorização desnecessária
da moeda. Há pouco mais de
dois meses, o debate sobre a necessidade de adotar controle de
capital no Brasil foi alimentado
pelo economista Yoshiaki Nakano, da FGV e então ligado à
campanha de Geraldo Alckmin.
Nakano, colunista da Folha,
advogou a possibilidade de implementar controles para que o
câmbio recuasse. Na época, o
ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira também defendeu
controle de capitais se a atual
redução dos juros não for suficiente para desvalorizar o real.
"Não podemos ficar com as
idéias da ortodoxia convencional. Falam em alta voz que a taxa de câmbio não pode ser administrada. Isso é o que pensa
o FMI. Não é o que vejo em todos os países que se desenvolvem. Prefiro não ter controle
de entrada. Mas, para mim,
controle de entrada não é crime nenhum. O Chile fez nos
anos 90. Quase todos países
asiáticos fazem quando necessitam. A China, permanentemente", disse Bresser.
Já o governo descarta mudança no regime atual.
Não há sequer consenso a
respeito das causas da valorização cambial que pressiona
grande parte das moedas de
países emergentes. No caso do
Brasil, há economistas, como
Luiz Guilherme Schymura, do
Ibre/FGV, que avaliam que os
fluxos de dólares que valorizam o real têm origem principal no "boom" das exportações.
O diferencial entre os juros
brasileiros e o internacional, na
avaliação de Schymura, não está trazendo dólares em volume
significativo. Nesse caso, controlar capitais não faria sentido, já que o controle só retém
dólares que entram para aplicações de curto prazo, e os dólares dos exportadores não sofreriam nenhuma restrição.
Já Caramashi e Lopes, mesmo sendo contra o controle de
capitais, avaliam que há, sim,
um volume significativo de dinheiro especulativo pressionado a moeda brasileira.
O problema: nem sempre é
preciso trazer dólares ao país
para especular contra a moeda,
dizem alguns economistas, o
que explicaria por que não aparecem, nas contas externas,
grandes fluxos de capital de
curto prazo.
De qualquer maneira, diz Lopes, o que o governo brasileiro
pode fazer está sendo feito:
compra de reservas internacionais, política, diz ele, que tem
contido um pouco o real. Fora
isso, avalia, o Brasil continuará
na mesma posição dos demais
emergentes, sofrendo pressão
da enorme liquidez global.
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