São Paulo, quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

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Economistas criticam controle de capital

Como Tailândia, Brasil sofre com entrada de dólares que valoriza câmbio, mas, para analistas, restrições podem ser prejudiciais

Nakano e Bresser-Pereira já argumentaram, porém, que algum controle pode ser eficaz para conter a valorização do real


DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil e alguns outros países emergentes sofrem do mesmo problema tailandês: dólares em excesso valorizando as moedas locais e causando problemas para o setor produtivo. Mas são raros os economistas hoje no Brasil que receitam o controle de capitais para conter a valorização do real.
"É um tipo de medida que causa mais mal que bem", sintetiza Vladimir Caramashi, economista-chefe da Fator Corretora. Para ele, é difícil separar completamente a natureza do dinheiro que entra no país. Muitos vezes, medidas que restringem a entrada ou saída de recursos acabam tendo impacto negativo nos fluxos que são bons para a economia, como os investimentos produtivos. "Ao tentar evitar especulação contra o dólar e a favor do real, você atinge outros fluxos que são benéficos para a economia", conclui Caramashi.
Outro problema de adotar a medida, lembra Luis Fernando Lopes, do Banco Pátria, é que ela traz um custo de credibilidade alto. Afastando investidores do país e causando fuga de recursos, como na Tailândia, a adoção de controles de capitais pode dificultar ainda mais o trabalho do governo e do Banco Central na administração da política econômica.
Apesar de a maioria dos economistas se opor à idéia, há quem apoie a medida como forma de evitar que capitais muito voláteis entrem no país e causem valorização desnecessária da moeda. Há pouco mais de dois meses, o debate sobre a necessidade de adotar controle de capital no Brasil foi alimentado pelo economista Yoshiaki Nakano, da FGV e então ligado à campanha de Geraldo Alckmin. Nakano, colunista da Folha, advogou a possibilidade de implementar controles para que o câmbio recuasse. Na época, o ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira também defendeu controle de capitais se a atual redução dos juros não for suficiente para desvalorizar o real. "Não podemos ficar com as idéias da ortodoxia convencional. Falam em alta voz que a taxa de câmbio não pode ser administrada. Isso é o que pensa o FMI. Não é o que vejo em todos os países que se desenvolvem. Prefiro não ter controle de entrada. Mas, para mim, controle de entrada não é crime nenhum. O Chile fez nos anos 90. Quase todos países asiáticos fazem quando necessitam. A China, permanentemente", disse Bresser.
Já o governo descarta mudança no regime atual.
Não há sequer consenso a respeito das causas da valorização cambial que pressiona grande parte das moedas de países emergentes. No caso do Brasil, há economistas, como Luiz Guilherme Schymura, do Ibre/FGV, que avaliam que os fluxos de dólares que valorizam o real têm origem principal no "boom" das exportações.
O diferencial entre os juros brasileiros e o internacional, na avaliação de Schymura, não está trazendo dólares em volume significativo. Nesse caso, controlar capitais não faria sentido, já que o controle só retém dólares que entram para aplicações de curto prazo, e os dólares dos exportadores não sofreriam nenhuma restrição.
Já Caramashi e Lopes, mesmo sendo contra o controle de capitais, avaliam que há, sim, um volume significativo de dinheiro especulativo pressionado a moeda brasileira.
O problema: nem sempre é preciso trazer dólares ao país para especular contra a moeda, dizem alguns economistas, o que explicaria por que não aparecem, nas contas externas, grandes fluxos de capital de curto prazo.
De qualquer maneira, diz Lopes, o que o governo brasileiro pode fazer está sendo feito: compra de reservas internacionais, política, diz ele, que tem contido um pouco o real. Fora isso, avalia, o Brasil continuará na mesma posição dos demais emergentes, sofrendo pressão da enorme liquidez global.


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