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VINICIUS TORRES FREIRE
A China enerva a Tailândia e ...
...Brasil, México, Coréia etc. Excesso mundial de dinheiro e heterodoxia chinesa causam nervosismos monetários
A "MALDIÇÃO DO 7" vai se confirmar em 2007? Entre as maluquices do mercado financeiro, existe a lenda-piada urbana de
que anos terminados em "7" não terminam bem. Houve o crash da Bolsa
da Nova York de 1987. A crise asiática de 1997. Em 2007, a crise da vez
seria a das moedas. O fiasco tailandês desta semana seria um sinal de
que há bancos centrais nervosos.
A Tailândia baixou controle de capitais no dia 18. Determinou que,
por um ano, 30% do investimento
estrangeiro em ações e outros papéis ficaria parado, sem rendimento
-é um depósito compulsório. Passado um ano, o investidor poderia
levar o dinheiro. Se desinvestisse em
menos de um ano, perderia 10% do
capital. Com a medida, a Bolsa tailandesa entrou em pânico e ontem a
ditadura militar voltou atrás no que
diz respeito ao investimento em
ações. Mas não foi muito grave.
Os tailandeses estão nervosos
porque sua moeda, o baht, se valoriza contra a dos vizinhos. Seus produtos de exportação e sua capacidade de atrair investimento produtivo
para exportação tendem a cair com a
valorização da moeda nacional.
O baht se valoriza devido a um excesso de investimento financeiro
externo. Os produtos tailandeses
perdem competitividade em relação
aos de China, Taiwan e Japão.
A China mantém sua moeda muito desvalorizada e jamais abandonou controles sobre a entrada de capital financeiro. A heterodoxia da
China e dos EUA está na origem dos
nervosismos monetários de agora.
A China tem enormes superávits
no comércio exterior em parte porque consumidores e governo dos
EUA gastam demais. A China compra e empilha reservas a fim de evitar que o dinheiro advindo do seu
enorme saldo comercial supervalorize sua moeda. Para completar o
círculo, cerca de 60% a 70% do US$ 1
trilhão de reservas chinesas é investido em títulos da dívida dos EUA e
em outros ativos denominados em
dólar. Sem tal financiamento do déficit externo americano, o dólar cairia, os juros americanos subiriam e
haveria problemas pelo planeta.
O nervosismo não bate só na Tailândia, mas em parte do Sul e do Sudeste asiáticos. A Coréia do Sul, por
exemplo, também se preocupa com
a valorização do seu won. Neste mês,
aumentou os compulsórios sobre
depósitos em won e empréstimos
em moedas fortes, um controle de
capital ligeiro e disfarçado. A maré
chinesa também afeta as praias de
Brasil, México e África do Sul.
Em resumo, os investimentos
produtivos e os decorrentes de aumentos de produtividade chineses,
seus salários baixos e seu câmbio
controlado e desvalorizado ora baixam os preços em todo o mundo e
subsidiam os juros e o consumo excessivo nos EUA. É um rolo global.
Diz-se faz anos que tal desequilíbrio não pode persistir: os EUA teriam de reduzir seus déficits público
e externo (excessos de consumo
propiciados por bolhas e gastos com
a guerra). Não aconteceu nada de
grave ainda. Talvez não aconteça nada e esse esquema heterodoxo da
economia mundial persista ou seja
corrigido gradualmente, se não
ocorrerem problemas devidos a investimentos errados, induzidos pelo
excesso de liqüidez mundial. Mas a
Tailândia é um sinal de que o nervosismo subiu meio degrauzinho.
vinit@uol.com.br
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