São Paulo, quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

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VINICIUS TORRES FREIRE

A China enerva a Tailândia e ...

...Brasil, México, Coréia etc. Excesso mundial de dinheiro e heterodoxia chinesa causam nervosismos monetários

A "MALDIÇÃO DO 7" vai se confirmar em 2007? Entre as maluquices do mercado financeiro, existe a lenda-piada urbana de que anos terminados em "7" não terminam bem. Houve o crash da Bolsa da Nova York de 1987. A crise asiática de 1997. Em 2007, a crise da vez seria a das moedas. O fiasco tailandês desta semana seria um sinal de que há bancos centrais nervosos.
A Tailândia baixou controle de capitais no dia 18. Determinou que, por um ano, 30% do investimento estrangeiro em ações e outros papéis ficaria parado, sem rendimento -é um depósito compulsório. Passado um ano, o investidor poderia levar o dinheiro. Se desinvestisse em menos de um ano, perderia 10% do capital. Com a medida, a Bolsa tailandesa entrou em pânico e ontem a ditadura militar voltou atrás no que diz respeito ao investimento em ações. Mas não foi muito grave.
Os tailandeses estão nervosos porque sua moeda, o baht, se valoriza contra a dos vizinhos. Seus produtos de exportação e sua capacidade de atrair investimento produtivo para exportação tendem a cair com a valorização da moeda nacional.
O baht se valoriza devido a um excesso de investimento financeiro externo. Os produtos tailandeses perdem competitividade em relação aos de China, Taiwan e Japão.
A China mantém sua moeda muito desvalorizada e jamais abandonou controles sobre a entrada de capital financeiro. A heterodoxia da China e dos EUA está na origem dos nervosismos monetários de agora.
A China tem enormes superávits no comércio exterior em parte porque consumidores e governo dos EUA gastam demais. A China compra e empilha reservas a fim de evitar que o dinheiro advindo do seu enorme saldo comercial supervalorize sua moeda. Para completar o círculo, cerca de 60% a 70% do US$ 1 trilhão de reservas chinesas é investido em títulos da dívida dos EUA e em outros ativos denominados em dólar. Sem tal financiamento do déficit externo americano, o dólar cairia, os juros americanos subiriam e haveria problemas pelo planeta.
O nervosismo não bate só na Tailândia, mas em parte do Sul e do Sudeste asiáticos. A Coréia do Sul, por exemplo, também se preocupa com a valorização do seu won. Neste mês, aumentou os compulsórios sobre depósitos em won e empréstimos em moedas fortes, um controle de capital ligeiro e disfarçado. A maré chinesa também afeta as praias de Brasil, México e África do Sul.
Em resumo, os investimentos produtivos e os decorrentes de aumentos de produtividade chineses, seus salários baixos e seu câmbio controlado e desvalorizado ora baixam os preços em todo o mundo e subsidiam os juros e o consumo excessivo nos EUA. É um rolo global. Diz-se faz anos que tal desequilíbrio não pode persistir: os EUA teriam de reduzir seus déficits público e externo (excessos de consumo propiciados por bolhas e gastos com a guerra). Não aconteceu nada de grave ainda. Talvez não aconteça nada e esse esquema heterodoxo da economia mundial persista ou seja corrigido gradualmente, se não ocorrerem problemas devidos a investimentos errados, induzidos pelo excesso de liqüidez mundial. Mas a Tailândia é um sinal de que o nervosismo subiu meio degrauzinho.


vinit@uol.com.br

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