São Paulo, quarta-feira, 21 de janeiro de 2004

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MERCADO

Recursos captados por empresas brasileiras atingem US$ 23,7 bi em 2003; juros altos no país são uma das razões para isso

Empréstimo privado no exterior cresce 156%

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O montante de recursos captados por empresas brasileiras no mercado internacional alcançou os US$ 23,7 bilhões em 2003, melhor ano desde 2000. Esse volume representou um crescimento de 156% em relação ao resultado obtido em 2002. Os dados foram levantados pela Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento).
Alguns tópicos explicam a melhora da performance do setor privado, especialmente a abundante liquidez do mercado externo e a melhora de indicadores econômicos do Brasil.
Por outro lado, o volume de captações de recursos no mercado interno (obtidos principalmente pela emissão de debêntures, notas promissórias e ações) teve queda de 57% sobre 2002, ficando em R$ 11,2 bilhões. Esse foi o pior resultado desde 1997, segundo ranking da Anbid.
A maior facilidade para captar lá fora associada às altas taxas de juros praticadas no ano passado ajudam a entender o resultado, na avaliação de analistas.
"Neste ano, com juros internos menores e a necessidade maior de as empresas conseguirem investimentos, decorrente do crescimento econômico esperado, o mercado interno vai ganhar fôlego. O lançamento de debêntures deve crescer nos próximos meses", avalia Eduardo Rezende, diretor de investimentos da Mellon Global Investments.
Uma das formas de os setores público e privado conseguirem capital para investir é captando recursos no exterior. Esse tipo de operação financeira é realizada por meio da emissão de títulos: normalmente, bancos e fundos compram esses papéis, que pagam juros e são resgatados após determinado período.
Para Guilherme da Nóbrega, economista-chefe do banco Fibra, "2004 segue como um ano muito bom para as empresas brasileiras captarem recursos no exterior". Para o economista, "talvez esse seja o melhor momento".

Prazos melhores
Neste mês, cerca de US$ 1,8 bilhão já foi captado no mercado externo por empresas e bancos brasileiros. A maior captação privada fechada neste ano foi da Companhia Vale do Rio Doce. A empresa conseguiu US$ 500 milhões por meio da emissão de eurobônus, com prazo de vencimento de 30 anos.
Com o cenário melhor, as empresas brasileiras conseguiram no ano passado emitir papéis com prazos de resgate maiores. A participação das captações feitas por meio de títulos de curto prazo recuou de 15% em 2001 para 1,58% no ano passado.

Sobe-e-desce
A oscilação do risco-país brasileiro tem reflexos na maior ou menor facilidade para a obtenção de empréstimos no mercado internacional.
Em 2002, quando o risco Brasil superou os 2.400 pontos (no mês de setembro), o mercado externo se fechou: apenas grandes empresas conseguiam realizar operações, com prazos menores e taxas altíssimas.
No ano passado, em que houve uma melhora substancial (tanto em volume quanto em prazos e taxas) nas operações fechadas por companhias e bancos brasileiros, o risco-país caiu consideravelmente, chegando ao fim de 2003 aos 477 pontos.
Quanto mais alto o risco-país, maior a expectativa de que um governo possa vir a dar calote em suas obrigações. E ninguém quer emprestar a um país (ou empresas dele) que pode deixar de pagar suas dívidas a qualquer momento.

Fôlego
"Se houver o crescimento econômico esperado pelo governo e pelo mercado neste ano, as empresas vão necessitar de muitos recursos extras para investirem", diz Rezende. "Empresas que não têm hedge [proteção contra oscilações da moeda] natural, como as exportadoras, vão buscar com maior interesse o mercado interno", completa.
Com a queda da taxa básica de juros (Selic), o cenário para o mercado interno de emissões melhora. É que a taxa Selic serve de parâmetro para as operações realizadas no mercado financeiro. Se essa taxa sobe muito, as operações tendem a ficar mais caras.
A taxa básica está hoje em 16,5% anuais. O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central anuncia no início da noite de hoje como ficarão os juros básicos da economia.


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