|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
Condutor conduzido
Há uma certeza e uma dúvida sobre a economia. A
certeza é que o mundo está em
uma fase de exuberância irracional. A dúvida é sobre quanto tempo dura essa farra.
As taxas de juros norte-americanas estão em níveis insustentavelmente baixos; as brasileiras, em níveis insustentavelmente elevados. Esse diferencial acaba trazendo para o país
uma montanha de dólares, que
impacta a cotação da moeda.
Como é uma situação absolutamente inusitada, que não
tende a se repetir no tempo, obviamente o dólar resultante dela não é o de equilíbrio.
Por isso mesmo, o Banco
Central se viu compelido a entrar no mercado recompondo
reservas, a fim de impedir que
essa distorção comprometesse
a taxa de câmbio de equilíbrio.
O tamanho da distorção é
proporcional ao diferencial de
juros. Quanto maior o diferencial, mais dólares chegarão ao
país, mais dólares terão de ser
comprados agora e mais dólares sairão quando ocorrer a inversão da euforia.
Ao manter as taxas de juros
em patamares elevados, o BC
consegue os seguintes resultados:
1) aumento ainda maior na
dívida pública, pelo aumento
dos juros;
2) necessidade de ir a mercado comprar dólares para aumentar as reservas e, ao mesmo tempo, impedir a queda
das cotações. Quanto maior a
taxa interna de juros, maior o
fluxo de dólares a ser enxugado;
3) além do custo da dívida
pública, há um custo fiscal das
reservas cambiais, correspondendo ao diferencial entre as
taxas de juros da dívida pública e a taxa de remuneração das
reservas, já que os reais que entram na economia terão de ser
esterilizados pela venda de títulos públicos.
Em um quadro de excesso de
liquidez, com o mercado ganhando dinheiro a rodo, haveria espaço para o Banco Central aplicar políticas mais ousadas de redução das taxas. No
entanto não se usa essa possibilidade.
Quando entrou no BC, Armínio Fraga montou um sistema
para que o banco conseguisse
conduzir as expectativas do
mercado. Com a crise de 2002,
o mercado levou as rédeas aos
dentes. Superada a crise, o correto seria o BC retomar as rédeas do processo. Até porque o
estouro da boiada, quando
passar a fase da exuberância
irracional, se dará em torno
das dúvidas sobre a dívida pública.
Aí falta BC. No ano passado,
quando todo o mercado esperava um corte maior da taxa
Selic e a própria Fazenda trabalhava internamente com hipóteses de até três pontos de
corte, o BC cortou apenas meio
ponto. Falta grandeza à atual
diretoria do banco para se impor ao mercado.
A imagem que há, na própria
equipe da Fazenda, é a de um
presidente de BC que se comporta como CEO de uma multinacional, rodeado por uma
diretoria submissa que lhe dispensa tratamento reverencial
("senhor presidente") e não ousa questionar nenhuma afirmação, nem mesmo análises
esdrúxulas sobre a realidade
do mercado, como a de que, ao
definir a compra de reservas, o
BC não iria interferir nas cotações da moeda.
O único que não tinha receios de apontar incongruências do chefe era Beny Parnes.
Sem ele, a única esperança de
maior ousadia do BC é a partir
de pressões de cima.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
Texto Anterior: Varejo: Supermercado fatura 9,27% mais em 2003 Próximo Texto: Palpite externo: Brasil precisa de medidas para crescer, dizem EUA Índice
|