São Paulo, quarta-feira, 21 de janeiro de 2004

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PALPITE EXTERNO

Tesouro afirma que governo ainda "não mostrou resultados"

Brasil precisa de medidas para crescer, dizem EUA

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Representantes do governo dos EUA fizeram ontem críticas às políticas econômica e comercial do Brasil. O subsecretário do Tesouro norte-americano, John Taylor, afirmou em Washington que o governo do PT ainda "não mostrou resultados" em relação às expectativas de crescimento do Brasil e que o país ainda "tem muito trabalho pela frente".
"A política econômica do Brasil está focada apenas no controle de gastos. O que o país precisa é de outras medidas que façam a economia crescer, com empregos e de forma sustentada", afirmou.
Na seqüência, seu colega Christopher Padilla, representante do Departamento de Comércio norte-americano, afirmou que o Brasil deve considerar "direitos e obrigações" nas negociações da Alca (Área de Livre Comércio das Américas). Segundo ele, o país só será beneficiado pelos Estados Unidos no bloco se "aceitar um comprometimento maior de responsabilidades".
As cobranças dos dois funcionários do governo norte-americano foram feitas diante de uma platéia de cerca de 70 empresários norte-americanos e brasileiros durante almoço na Câmara de Comércio dos EUA.
Do lado americano, participaram empresas como a General Motors e Kodak. Do brasileiro, companhias como a OAS, Embraer e consultorias.
"Os senhores presentes deveriam ajudar a evitar posições ideológicas [em relação à Alca] que nada têm a ver com o dia-a-dia próprio do mundo dos negócios", disse aos empresários o representante do Departamento de Comércio dos EUA.

Primeiro estágio
Mas foi o subsecretário do Tesouro quem fez as críticas mais pontuais à política econômica brasileira.
Taylor afirmou que o Brasil conseguiu até agora implementar "apenas o primeiro estágio" das políticas necessárias.
"As medidas para acabar com o sobe-e-desce das expectativas tiveram um efeito dramático, a inflação foi controlada e os juros baixaram. Mas ainda não vimos o segundo estágio. Não vimos o crescimento, que poderia ser muito maior do que vem sendo previsto", disse Taylor.
"O potencial brasileiro, em termos de produtividade e desenvolvimento, é imenso. Mas é preciso muito trabalho para conquistar isso."

Regulamentação
O subsecretário do Tesouro dos EUA reclamou de "problemas na área de regulamentação" no Brasil e afirmou que um dos principais obstáculos no país é a falta de acesso a crédito por parte de pequenas e médias empresas.
Taylor faz parte do chamado "Grupo para o crescimento" formado entre Brasil e EUA após a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Casa Branca, em junho passado.

Defesa
Presente ao mesmo evento, o representante do Brasil no Banco Mundial e ex-secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Otaviano Canuto, defendeu as políticas brasileiras e disse que o país espera um crescimento de até 4% neste ano.
Canuto reconheceu, no entanto, que os números da produção industrial brasileira não mostraram, até agora, recuperação.
"As políticas vêm dando certo, e há uma série de outros indicadores que mostram uma retomada. E ela será forte. O Brasil vai bem, e não é apenas pelo resultado de um cenário internacional melhor", afirmou Canuto.


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