São Paulo, quarta-feira, 21 de janeiro de 2004

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LEITE DERRAMADO

Fisco quer analisar números da empresa no país e saber se ela recebeu recursos desviados pela matriz

Receita fará devassa nas contas da Parmalat

Marco Vasini/Associated Press
CAÇA AO TESOURO Gianfranco Bocchi, contador da Parmalat deixa a prisão, em Parma; pelo segundo dia, Bocchi foi levado à sede do grupo, em Collecchio, para ajudar na localização de fundos desviados; para a imprensa local, trata-se de uma "caça ao tesouro"

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

A Receita Federal irá fazer uma devassa na contabilidade da Parmalat no Brasil dos últimos anos depois das denúncias feitas pelo ex-contador da empresa na Itália de que uma boa parte do dinheiro desviado da companhia teria escoado para o país. A estimativa é que o total de dinheiro desviado pela Parmalat possa atingir 10 bilhões.
O secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, confirmou à Folha que os números da Parmalat serão analisados com mais atenção pela Receita.
Segundo ele, a Parmalat faz parte do grupo de grandes empresas que estão sendo constantemente fiscalizadas. Mas, diante das últimas denúncias, a Receita decidiu analisar com mais atenção a contabilidade da companhia.
Uma equipe de técnicos da Coordenação Geral de Fiscalização da Receita já está até instalada na sede da Parmalat para fazer esse trabalho.

Focos de atuação
De acordo com o que a Folha apurou, o principal foco da devassa da Receita será a Carital do Brasil, uma ex-subsidiária da Parmalat no país que, entre outras atividades, negociava passes de jogadores de futebol.
As negociações de jogadores de futebol nos últimos anos em São Paulo serão outro alvo da Receita para tentar determinar se houve irregularidades fiscais da Parmalat no Brasil.
Segundo o depoimento feito na Itália por um dos principais contadores da Parmalat, Gianfranco Bocchi, a Carital dedicava-se a "atividades esquisitas" e recebeu "um saco de dinheiro" da matriz.
Diante dessas declarações, a Coordenação Geral de Fiscalização da Receita iniciou uma análise minuciosa da movimentação financeira dos últimos anos da Parmalat no Brasil. O objetivo é saber se as denúncias de desvio da empresa teriam alguma irregularidade com o fisco brasileiro.
A Carital, o principal alvo da Receita, assinou contratos de co-gestão com o Palmeiras e com o Juventude, assumiu o controle do Etti-Jundiaí e patrocinou o Santa Cruz (clubes de futebol). A empresa também participou de operações polêmicas de compra e venda de ativos da Parmalat.
A Receita já tem em mãos um levantamento inicial sobre a movimentação financeira da Parmalat no Brasil, fruto de um estudo realizado pela Coordenação Geral de Fiscalização realizado no ano passado. Em razão do sigilo fiscal, a Receita não divulgou o resultado desse levantamento.
Além da movimentação financeira da Carital do Brasil, a Receita também irá apurar as remessas feitas pela Parmalat para a Wishaw Trading S.A., sediada no Uruguai. As remessas foram feitas por meio de operações CC-5 (que possibilitam saques em dólares no exterior).

Blindagem
Além da Receita Federal, o Banco Central também irá fazer um levantamento das remessas ao exterior feitas pela Parmalat. O BC recebeu ontem à tarde notificação do juiz Carlos Henrique Abrão, da 42ª Vara Cível de São Paulo, para rastrear e prestar informações sobre o envio de dinheiro feito pela Parmalat ao exterior nos últimos anos.
De acordo com a notificação do juiz, a Parmalat teria enviado R$ 1,4 bilhão ao exterior nos últimos três anos por meio de operações CC-5. O juiz quer fazer uma espécie de blindagem da Parmalat para evitar que a empresa remeta mais recursos para o exterior e deixe de pagar seus credores.


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