|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Lula limita controle de despesas do PAC
Equipe econômica afirma que pacote a ser anunciado amanhã é "mais tímido" na área fiscal por pressão do presidente
Preocupados com uma
possível repercussão
negativa, ministros já
preparam discurso de
defesa das medidas
VALDO CRUZ
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), a ser divulgado amanhã pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é
"mais tímido" na área fiscal do
que esperava a equipe econômica, mas foi o "possível" a ser
feito no atual momento para
pelo menos conter o crescimento dos gastos públicos.
A avaliação é de assessores
do ministro Guido Mantega
(Fazenda) que participaram da
elaboração do plano encomendado por Lula para tentar acabar com a fase de taxas medíocres de crescimento da economia brasileira.
Segundo relato feito à Folha
por um deles, o objetivo inicial
dos ministérios da Fazenda e
do Planejamento era "estabelecer metas mais ambiciosas" para controle das despesas públicas, mas não foi possível diante
das demandas do presidente
Lula. "Eu gostaria de mais, mas
não foi possível", disse.
Apesar disso, a equipe de
Mantega e Paulo Bernardo
acredita que as medidas fiscais
do PAC serão suficientes para
fazer, na pior hipótese, os gastos públicos crescerem menos
que o PIB (Produto Interno
Bruto, o conjunto das riquezas
produzidas no país) nos três últimos anos do segundo mandato de Lula, dando mais previsibilidade para a economia.
Neste ano, o primeiro da segunda administração, porém,
as medidas fiscais terão pouco
efeito. As projeções dos técnicos são que as despesas correntes do governo federal irão
crescer em termos reais (acima
da inflação) na casa dos 5%, enquanto o PIB não deve subir
mais do que 4% em 2007. São
despesas correntes os gastos
com manutenção de hospitais
ou de rodovias, além do pagamento de servidores públicos.
Na definição da equipe econômica, este ano "está dado". A
expectativa é para os três seguintes, quando o governo
acredita que vai, no mínimo,
conter o crescimento dos gastos correntes federais entre 3%
e 3,5%. Em contrapartida, a
equipe de Lula espera que o
PIB cresça 4,5% em 2008 e acima de 5% nos dois últimos
anos do segundo mandato.
Com isso, Lula espera não repetir seu primeiro mandato,
quando registrou uma taxa média de crescimento que deve ficar em 2,6% do PIB.
Discurso de defesa
A equipe econômica está
preocupada com a possível repercussão negativa do conjunto de medidas fiscais e já prepara o discurso de defesa, que deve ser usado como um antídoto
no dia do lançamento do PAC.
Guido Mantega, por exemplo, vai apresentar tabelas mostrando que as medidas manterão a curva de queda do tamanho da dívida pública em relação ao PIB nos próximos anos,
hoje em 49% -o indicador é
considerado essencial para a
credibilidade do Brasil no mercado financeiro porque sinaliza
a capacidade de o país honrar
seus compromissos.
Outra tabela em elaboração
mostrará que, se as mesmas
medidas tivessem sido adotadas nos últimos 12 anos, ou seja, desde o início do governo tucano de Fernando Henrique
Cardoso, a situação dos gastos
públicos seria bem melhor.
Outro argumento a ser brandido pelo governo é que o PAC é
um programa de investimentos
conjugado com um plano gradual de contenção de despesas,
que fará o país crescer a taxas
mais elevadas.
Não vingou
Entre as medidas defendidas
inicialmente pela equipe econômica, mas que não foram
acatadas, estão:
1) Aumento real ao salário
mínimo segundo a variação do
PIB per capita, e não a cheia,
como acertou Lula com as centrais sindicais. A equipe diz
que, pelo menos, a regra definida dará mais previsibilidade;
2) Conter o crescimento dos
gastos com saúde, criando limites na regra prevista na Constituição que estipula aumentos
reais com base no crescimento
da economia;
3) Redutor de 0,1% nos gastos correntes federais, que no
ano passado devem ter ficado
em 18,6% do PIB. Em vez disso,
esse percentual vai crescer para
quase 19% do PIB.
4) Manter os gastos com o
PPI (Programa Piloto de Investimento) em 0,2% do PIB. As
despesas com o PPI -que, na
prática, reduzem a economia
efetiva da União para diminuir
o endividamento público-
crescerão para 0,5%.
Segundo um técnico da equipe econômica, a versão final do
PAC teve de incluir desejos do
presidente, como o reajuste
maior para o salário mínimo
(R$ 380) e aumento de gastos
na educação. Em seu discurso
de posse, Lula listou a área como uma de suas prioridades.
Portanto, não teria sentido, na
visão do presidente, reduzir os
gastos em educação.
Lula também não quis mexer
com as despesas em saúde.
Avalia que os lobbies contrários são muito fortes. Desistiu
ainda de propor de imediato
uma reforma da Previdência,
optando pela criação e um fórum que buscará mudanças
consensuais.
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Rubens Ricupero: O estado do mundo Índice
|