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ESPETÁCULO?
Em carta enviada à Fazenda, Banco Central justifica estouro da meta da inflação e faz defesa da política monetária
Brasil cresceu 0,3% em 2003, projeta BC
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um dia depois de ter decidido
manter os juros inalterados por
pelo menos mais um mês, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, enviou uma carta
aberta ao ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) em que defende a política monetária conduzida pelo BC de 2003 para cá.
Desde o mês passado, o BC tem
sido criticado por ter interrompido a série de cortes nas taxas de
juros iniciada em junho do ano
passado. Atualmente, a taxa Selic
(básica) está em 16,5% ao ano.
Segundo essas críticas, os juros
elevados podem prejudicar a retomada do crescimento da economia. Na carta, Meirelles diz que é
possível ver "claramente" que o
nível de atividade econômica é
sempre considerado no momento da definição dos juros.
Segundo Meirelles, a economia
cresceu cerca de 0,3% no ano passado. Os números finais ainda
não foram divulgados pelo IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística), o que acontecerá na
próxima sexta-feira.
Na projeção do BC, o PIB (Produto Interno Bruto, total de riquezas produzidas pelo país) registrou expansão de 2,5% no último trimestre de 2003, em relação
ao trimestre anterior.
Para este ano, Meirelles afirma
que a política monetária continuará sendo conduzida da mesma forma. "Ao longo de 2004, o
Banco Central continuará administrando a política monetária de
forma consistente com o regime
de metas para a inflação."
Exigência
O envio da carta aberta é uma
exigência da legislação que instituiu o sistema de metas de inflação no país. Sempre que a inflação
ultrapassa as metas, o presidente
do BC precisa explicar os motivos
da alta dos preços e as medidas
adotadas para corrigi-la.
Em 2003, a inflação medida pelo
IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) ficou em 9,3%, acima dos 6,5% estipulados pelo teto
da meta fixada pelo governo. Ficou acima também da meta ajustada criada no ano passado e fixada em 8,5%.
Na última quarta-feira, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) manteve novamente os
juros em 16,5% ao ano. Ao contrário do que tradicionalmente
ocorre, nenhuma explicação foi
apresentada para justificar a decisão. Um dia depois, Meirelles enviou a carta a Palocci. Seu conteúdo foi divulgado ontem pelo BC.
Na carta, Meirelles diz que a meta de inflação do ano passado poderia ter sido cumprida, caso os
juros fossem mantidos em níveis
mais elevados. Isso não foi feito,
segundo ele, para evitar "perdas
excessivas" em termos de crescimento da economia. "Claramente, o Banco Central considerou o
comportamento da atividade econômica na definição de sua estratégia", afirma.
No início de 2003, a taxa Selic
-que remunera os empréstimos
feitos por meio da negociação de
títulos públicos- estava em 25%
ao ano. Logo nos primeiros dois
meses do ano, os juros subiram
para 26,5% ao ano, valor que prevaleceu até junho, quando teve
início uma série de reduções. Esses cortes foram interrompidos
no mês passado.
Meirelles diz ainda que o aumento da inflação em 2003 foi
conseqüência da crise enfrentada
pelo Brasil no segundo semestre
de 2002. Sem citar diretamente o
nervosismo causado no mercado
financeiro diante das eleições presidenciais, Meirelles diz que as
turbulências refletiam a "crise de
confiança" e as "incertezas relativas à condução da política monetária".
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