São Paulo, sábado, 21 de fevereiro de 2004

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ESPETÁCULO?

Em carta enviada à Fazenda, Banco Central justifica estouro da meta da inflação e faz defesa da política monetária

Brasil cresceu 0,3% em 2003, projeta BC

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um dia depois de ter decidido manter os juros inalterados por pelo menos mais um mês, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, enviou uma carta aberta ao ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) em que defende a política monetária conduzida pelo BC de 2003 para cá.
Desde o mês passado, o BC tem sido criticado por ter interrompido a série de cortes nas taxas de juros iniciada em junho do ano passado. Atualmente, a taxa Selic (básica) está em 16,5% ao ano.
Segundo essas críticas, os juros elevados podem prejudicar a retomada do crescimento da economia. Na carta, Meirelles diz que é possível ver "claramente" que o nível de atividade econômica é sempre considerado no momento da definição dos juros.
Segundo Meirelles, a economia cresceu cerca de 0,3% no ano passado. Os números finais ainda não foram divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o que acontecerá na próxima sexta-feira.
Na projeção do BC, o PIB (Produto Interno Bruto, total de riquezas produzidas pelo país) registrou expansão de 2,5% no último trimestre de 2003, em relação ao trimestre anterior.
Para este ano, Meirelles afirma que a política monetária continuará sendo conduzida da mesma forma. "Ao longo de 2004, o Banco Central continuará administrando a política monetária de forma consistente com o regime de metas para a inflação."

Exigência
O envio da carta aberta é uma exigência da legislação que instituiu o sistema de metas de inflação no país. Sempre que a inflação ultrapassa as metas, o presidente do BC precisa explicar os motivos da alta dos preços e as medidas adotadas para corrigi-la.
Em 2003, a inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) ficou em 9,3%, acima dos 6,5% estipulados pelo teto da meta fixada pelo governo. Ficou acima também da meta ajustada criada no ano passado e fixada em 8,5%.
Na última quarta-feira, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) manteve novamente os juros em 16,5% ao ano. Ao contrário do que tradicionalmente ocorre, nenhuma explicação foi apresentada para justificar a decisão. Um dia depois, Meirelles enviou a carta a Palocci. Seu conteúdo foi divulgado ontem pelo BC.
Na carta, Meirelles diz que a meta de inflação do ano passado poderia ter sido cumprida, caso os juros fossem mantidos em níveis mais elevados. Isso não foi feito, segundo ele, para evitar "perdas excessivas" em termos de crescimento da economia. "Claramente, o Banco Central considerou o comportamento da atividade econômica na definição de sua estratégia", afirma.
No início de 2003, a taxa Selic -que remunera os empréstimos feitos por meio da negociação de títulos públicos- estava em 25% ao ano. Logo nos primeiros dois meses do ano, os juros subiram para 26,5% ao ano, valor que prevaleceu até junho, quando teve início uma série de reduções. Esses cortes foram interrompidos no mês passado.
Meirelles diz ainda que o aumento da inflação em 2003 foi conseqüência da crise enfrentada pelo Brasil no segundo semestre de 2002. Sem citar diretamente o nervosismo causado no mercado financeiro diante das eleições presidenciais, Meirelles diz que as turbulências refletiam a "crise de confiança" e as "incertezas relativas à condução da política monetária".


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