São Paulo, domingo, 21 de fevereiro de 2010

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Com baixo risco, setor elétrico atrai empresas

Apoiados pelo governo, grandes grupos privados planejam investimentos para ampliar atuação no segmento de energia

Estado entra como facilitador dos negócios e às vezes sócio relevante; além disso, regras do setor protegem empresas de perdas financeiras


SAMANTHA LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

O baixo risco de racionamento e de perdas financeiras, aliado ao amadurecimento da regulação, tornou o setor elétrico um dos principais alvos de investimentos de grandes grupos brasileiros que anos atrás não tinham negócio na área.
Os argumentos econômicos se somam às vantagens, para esses grupos, de ter o Estado como facilitador do negócio, quando não sócio relevante -relegando-os, em muitos casos, a coadjuvantes.
Há quatro anos, o setor não fazia parte das receitas de Odebrecht, Andrade Gutierrez e Vale. Só o grupo Camargo Corrêa é que havia comprado, com o Bradesco, a Votorantim e fundos de pensão, o controle da CPFL, em 1997.
Hoje, aumentar a participação do setor elétrico é uma perspectiva desses grupos. Nos últimos dois anos, liberaram R$ 10 bilhões para compra de distribuidoras e construção de usinas. E estariam dispostos a comprometer-se com outros R$ 20 bilhões, no curto prazo.
São recursos aplicados em projetos com rentabilidade entre 10% e 15% ao ano, segundo especialistas. Não é das mais altas da economia, mas, em termos de concessões públicas, é das maiores -supera as de telecomunicações e rodovias.
As empreiteiras Andrade Gutierrez e Odebrecht entraram, em 2007, no projeto de construção e operação da usina hidrelétrica de Santo Antônio. A Camargo Corrêa entrou em 2008 no consórcio da hidrelétrica de Jirau. As usinas ficam no rio Madeira, em Rondônia. Agora, mexem-se para formar consórcios com o objetivo de disputar o projeto da hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu (Pará), em leilão que deve ocorrer no primeiro semestre. Camargo Corrêa e Odebrecht já fecharam parceria.
A usina poderá ser a estreia da Vale como grande geradora de energia para o sistema elétrico brasileiro. A empresa já gera energia para consumo próprio. Atualmente, estuda se integrar a um dos consórcios que entrarão na disputa.
Andrade Gutierrez e Camargo Correa se movimentam, ainda, para ampliar participação em projetos mais maduros -distribuidoras e geradoras antigas, com o apoio do governo, em operações que podem atingir R$ 16 bilhões.
Inúmeras razões financeiras balizam os grupos. O novo modelo regulatório do setor, de 2004, reduziu o risco de racionamento ao equalizar expectativa de crescimento de consumo com geração. Em 2001, a contingência derrubou as receitas das empresas em 20%.
O modelo prevê repasse de parte dos custos ao consumidor por meio das tarifas. Com isso, as distribuidoras não perdem dinheiro quando a energia que compram para fornecer aos consumidores fica mais cara. Isso acontece, por exemplo, quando o país precisa gerar energia nas termelétricas.
Por fim, provou-se que o sistema de tarifas blinda as empresas. A receita cai, devido à queda no consumo industrial, mas os preços e a demanda residencial pouco mudam.


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