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São Paulo, sexta-feira, 21 de março de 2003

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ATAQUE DO IMPÉRIO

ECONOMIA BOMBARDEADA

Relatórios mostram que custos do conflito elevarão o déficit dos EUA

Curta ou longa, guerra não deveria gerar tanto otimismo, dizem bancos

ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

A Bolsa de Nova York tem subido, o preço do petróleo vem caindo, a expectativa é que seja uma guerra curta e a história do último conflito com o Iraque mostra bonança financeira após a batalha. Mas talvez os investidores estejam otimistas demais, dizem ao menos dois relatórios divulgados nesta semana nos EUA.
O banco Morgan Stanley aponta algumas razões principais pelas quais nem mesmo uma vitória rápida e fácil dos EUA sobre o Iraque vai ajudar tanto assim o mercado financeiro. Entre elas:
1) o terrorismo e a Coréia do Norte continuarão a ser sinônimos de riscos significativos no campo geopolítico;
2) a falta de oferta impedirá que o preço do petróleo caia muito;
3) o mercado está muito otimista em relação ao crescimento global para este ano ("Uma campanha rápida e com "sucesso" não vai ajudar a economia mundial como muitos pensam") e também para 2004.
Ademais, há outros motivos para pessimismo com as condições já estabelecidas para o conflito, diz o Morgan Stanley. Por exemplo: diferentemente da primeira Guerra do Golfo, esta terá a conta (estimada em US$ 57 bilhões para um combate de um mês) paga sobretudo pelo governo dos EUA, aumentando seu déficit.
Pende também a incerteza em relação a prejuízos ao comércio entre americanos e europeus após o combate, dadas as divergências políticas na ONU -algo que, o texto aponta, é sim uma incerteza, mas não uma hipótese com grandes chances de se concretizar, na opinião do banco.

Sem ciclo explosivo
Outro relatório que põe em perspectiva o otimismo atual foi elaborado pela consultoria Merrill Lynch. Ele recomenda a seus clientes aproveitar a euforia do mercado para vender suas ações.
"Pensamos que ainda há problemas em fundamentos da economia", diz um relatório assinado por seu estrategista-chefe para os EUA, Richard Bernstein.
A Merrill Lynch acha que o conflito não vai nem mesmo favorecer a indústria americana. "Não esperamos nenhum tipo de ciclo explosivo de investimentos como resultado do final da guerra", diz o relatório.
As duas visões caminham no sentido contrário de um dos argumentos mais utilizados nos últimos dias para justificar os números positivos do mercado: do ponto de vista histórico, guerra é algo bom para os mercados.
Isso é mostrado, por exemplo, em um estudo feito pelo Centro de Pesquisas sobre Investimento da corretora Charles Schwab. São usados três exemplos históricos:
1) Na Segunda Guerra Mundial, após o ataque a Pearl Harbour, em dezembro de 1941, o mercado completava três anos de declínio; dez meses depois, em outubro, estava completamente recuperado.
2) Em 1962, na crise dos mísseis cubanos, a recuperação do mundo financeiro levou uma semana.
3) Em 1990, após o Iraque invadir o Kuait, os números foram negativos durante dois meses e meio. Ao final dos seis meses seguintes, quando os EUA consagravam sua vitória, tudo já havia voltado aos níveis normais. No curto prazo, também houve bonança na Guerra do Golfo. Ao fim dos primeiros 15 dias da entrada dos EUA no conflito, o índice S&P 500 subia 16,7%.


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