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Economia sairá ilesa, diz analista
ALESSANDRA MILANEZ
DA REPORTAGEM LOCAL
A economia americana não deve sofrer grandes danos se a guerra contra o Iraque for rápida. Para
Alan Ruskin, 44, diretor de pesquisa da consultoria americana
4cast, a turbulência por que tem
passado o mercado dos Estados
Unidos se devia mais à incerteza
sobre se haveria ou não guerra do
que à guerra em si. Passada essa
incerteza, diz Ruskin, deve voltar
a ter espaço para um aquecimento da economia.
Nascido na África do Sul, Ruskin trabalha na área financeira há
21 anos e há 5 anos no escritório
de Nova York da 4cast.
A seguir, trechos da entrevista
concedida por Ruskin à Folha,
por telefone.
Folha - Por que os ativos dos Estados Unidos estão subindo?
Alan Ruskin - Havia muita incerteza sobre se haveria guerra ou
não. A incerteza sobre se os Estados Unidos conseguiriam ou não
os nove votos necessários no Conselho de Segurança da ONU aumentava ainda mais o nervosismo. Os mercados odeiam incertezas. Agora já não há dúvidas. Temos observado essa subida dos
ativos nas últimas semanas. É que
os mercados estão reagindo com
otimismo, acreditando que os
EUA irão assegurar a vitória contra o Iraque rapidamente. Com isso, espera-se que haja aumento na
confiança do consumidor, que se
possa voltar a investir, que o nível
de contratação aumente e que haja algum tipo de normalização na
economia.
Folha - O dólar deve continuar a
se valorizar ante o euro?
Ruskin - Isso dependerá muito
do modo como a guerra vai progredir, mas há potencial para que
o dólar se aprecie significativamente. Se a guerra realmente for
rápida, devem vir alguns aspectos
que ajudarão na valorização do
dólar em abril, como o aumento
da confiança do consumidor e o
aquecimento no consumo.
Folha - França e Alemanha podem perder espaço como parceiros
comerciais dos EUA por causa da
oposição à guerra?
Ruskin - Não acredito que haja
uma mudança significativa. Com
o tempo, essas diferenças que surgiram agora devem perder importância. Elas não mudarão, a
longo prazo, o rumo dos investimentos e dos padrões comerciais.
A hostilidade dos últimos três
meses deve se dissolver nos próximos anos. Haverá, é claro, algum
boicote contra vinhos franceses
nos Estados Unidos, e os franceses que moram aqui provavelmente não aparecerão no McDonald's.
Folha - Índices recentes da economia americana -como confiança
do consumidor, inflação e desemprego- se mostraram desanimadores. Como a guerra pode afetar o
desempenho desses indicadores?
Ruskin - Tudo deve parecer bem
mais otimista com uma vitória rápida. O mercado de ações, a confiança no mercado, todos os números devem melhorar um pouco. Já o desemprego é outra história, porque a economia não está
crescendo suficientemente rápido
para puxar para baixo o desemprego. Mas ainda assim veremos
uma melhora no crescimento
econômico. A economia americana deve crescer cerca de 1,5% no
primeiro trimestre deste ano. No
segundo trimestre, se o conflito
terminar, por exemplo, no final
de março, o crescimento pode ser
de 3,5% ou 4%. Por outro lado, se
a guerra for pior do que nossas
projeções, podemos não ter crescimento. Mas diria que a percepção no mercado é que há chance
de 80% de a guerra ser rápida.
Folha - A indústria de armamentos sairá ganhando com a guerra?
Ruskin - A indústria de armamentos já vem sendo beneficiada
desde os atentados terroristas de
11 de setembro de 2001. Essa guerra não terá expressividade suficiente para acelerar mais esse
crescimento. Setores que já estão
tendo problemas, como os de telecomunicações e de energia, podem sofrer ainda mais. O setor de
energia é ainda mais vulnerável,
porque os preços podem fugir do
controle. Se o conflito se estender,
o setor de energia -especialmente o petróleo- deve se complicar.
Tudo é comercializado em um
padrão muito sincronizado. Com
uma complicação na guerra, a
primeira coisa que deve subir é o
petróleo. Isso puxaria todos os
preços consigo.
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