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ANÁLISE/ARGENTINA
Controle de capitais não garante o peso
CHRISTOPHER SWANN
DO "FINANCIAL TIMES"
Controles de capital, há
muito considerados anátema pelas autoridades e financistas, recentemente adquiriram pelo menos ares de respeitabilidade.
O aparente sucesso dos controles impostos pela Malásia e pelo
Chile significou que a introdução
de restrições ao movimento de
capitais na Argentina não redundou nos uivos de desaprovação
que seriam de esperar até o passado recente.
Mas a história das restrições ao
movimento de capitais sugere
que é provável que elas funcionem apenas sob certas circunstâncias, e mesmo assim a um preço. Infelizmente, faltam muitos
desses requisitos à Argentina.
O principal objetivo dos controles de capital, depois da crise
asiática de 1997, vinha sendo proteger uma moeda vulnerável por
meio de uma limitação à capacidade das instituições financeiras e
cidadãos para vendê-la nos mercados de câmbio. Porque os controles restringem artificialmente
a demanda por divisas fortes, em
geral dólares, eles criam um forte
incentivo para trapacear o sistema.
Por exemplo, se os exportadores forem forçados a vender os
dólares que recebem imediatamente ao banco central, podem
optar por subfaturar suas vendas,
fingindo que elas foram menores
do que na realidade, a fim de reter
preciosos dólares.
Reservas
Em todos os países, excetuados
os mais draconianos, esse tipo de
problema é inevitável e, como resultado, o sistema só se sustenta
quando apoiado por reservas
cambiais substanciais detidas pelo banco central.
As reservas cambiais argentinas
parecem inadequadas, dada a
atual demanda insaciável por dólares. De um pico de US$ 28,5 bilhões em 2000, as reservas estão
agora abaixo dos US$ 13 bilhões.
Isso é muito menos do que a massa total de depósitos bancários no
país, equivalente a US$ 75 bilhões.
Uma preocupação de prazo um
pouco mais longo para um país
que esteja introduzindo controles
de câmbio é o seu índice de poupança. Quando é difícil tirar dinheiro de um país, os investidores previsivelmente hesitam em
colocá-lo lá. Faminta de capital
estrangeiro, a economia acaba
crescendo mais devagar.
Um estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI) realizado
em 1998 concluiu que "se um governo decide usar controles de capital para reduzir a instabilidade,
o preço é algum crescimento".
As exceções a essa regra são países capazes de financiar seus investimentos com base em sua
poupança interna. O alto índice
de poupança da Malásia, que se
manteve em torno dos 40% do
PIB (Produto Interno Bruto), significa que o país dependia menos
de fundos externos quando introduziu seus controles de capital,
em setembro de 1998.
Uma vez mais, a Argentina não
tem como alegar situação semelhante. Os números mais recentes
sugerem que o índice de poupança do país agora equivale a cerca
de 20% do PIB.
Tipo de controles
A outra diferença entre Malásia
e Chile, de um lado, e a Argentina,
do outro, está na maneira pela
qual os controles foram implementados. Na Argentina, o processo foi quase aleatório.
"Os controles de capital foram
impostos de maneira improvisada, em reações imediatas, como
buracos que iam sendo tapados
quando se tornavam óbvios, mas
sem um plano geral", disse Marcel Casard, economista especializado em mercados emergentes
no Deutsche Bank de Londres.
Embora os economistas ainda
estejam discutindo até que ponto
os controles foram eficientes no
Chile e na Malásia, a maior parte
deles concorda em que foram eficientes e racionais.
Em ambos os casos, o objetivo
era tanto reduzir a entrada do
chamado "hot money" (capital
de curto prazo que migra entre
mercados com rapidez) quanto
impedir a saída do capital já presente no país.
Exemplos de sucesso
Regras introduzidas em fevereiro de 1999 na Malásia controlaram o fluxo prevendo que os lucros repatriados dentro de um
ano seriam tributados em 30% e
que o imposto sobre eles cairia
para 10% depois de um ano.
Desde 1991, o Chile força as instituições dispostas a investir no
país a colocar fundos em contas
que não pagam juros o chamado
requerimento de reserva não remunerada, o que eleva o custo da
especulação de curto prazo.
Medidas preventivas como essas são consideradas mais capazes de sucesso do que medidas de
emergência improvisadas, porque elas afetam a composição do
capital externo investido no país.
O elemento crucial de que a Argentina ainda carece, no entanto,
é a confiança do mercado internacional numa eventual estabilização do peso.
"Quando os malásios introduziram os controles de capital, em
setembro de 1998, havia um sentimento de que o ringitt já encerrara sua queda", diz David Lubin,
estrategista de mercados emergentes no banco HSBC.
Poucos especialistas da área poderiam alegar que essa situação já
foi atingida na Argentina.
Os controles de capital se tornaram mais aceitos como um expediente para proteger uma moeda
em momentos de emergência.
No entanto, dadas as condições
na Argentina, parece improvável
que os controles lá adotados sejam capazes de proteger o peso
por muito tempo.
Tradução de Paulo Migliacci
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