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Consórcio "azarão" vence leilão de Belo Monte
Grupo liderado por Chesf e Queiroz Galvão surpreende na disputa, mas se desfaz parcialmente e deve receber novos sócios
Em licitação marcada por batalha jurídica, consórcio favorito, encabeçado por Andrade Gutierrez, ofereceu preço próximo ao teto fixado
LEILA COIMBRA
HUMBERTO MEDINA
SOFIA FERNANDES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apontado como azarão, o
consórcio Norte Energia, liderado pela Chesf, subsidiária da
Eletrobras, arrematou a concessão da hidrelétrica de Belo
Monte (PA), que será a maior
usina 100% brasileira e a terceira maior do mundo quando entrar em operação, em 2015.
O consórcio vencedor, que
inclui o grupo Bertin, no entanto, desfez-se parcialmente. "A
Queiroz Galvão pediu um tempo para pensar se continua no
consórcio", disse o diretor de
engenharia e construção da
Chesf, José Ailton de Lima. A
Folha apurou que a Queiroz
Galvão (10,02% de participação
no consórcio) enviou aos sócios
na semana passada carta em
que informava a desistência do
projeto. Ontem voltou atrás e
pediu sete dias para tomar decisão definitiva.
A construtora J. Malucelli
(9,98% de participação) também disse ao grupo estar fora
-embora negue oficialmente.
Na avaliação da Casa Civil,
que não considera irreversível
a mudança no consórcio, esse
tipo de "acomodação" é natural. De acordo com a Aneel
(Agência Nacional de Energia
Elétrica), porém, a alteração no
consórcio só pode acontecer
depois da outorga da usina, prevista para 23 de setembro.
A mudança deverá abrir espaço para os fundos de pensão
Petros e Funcef e também autoprodutores (indústrias que
absorverão a produção de energia da usina para consumo próprio) como CSN e Braskem.
O leilão
O leilão durou sete minutos e
foi encerrado na primeira fase,
com o consórcio vencedor ofertando R$ 78 por MWh (megawatt-hora), deságio de 6,02%
ante o preço inicial de R$ 83.
Por conta das regras do leilão, o
preço de venda para as distribuidoras será de R$ 77,97.
O outro consórcio, formado
pela construtora Andrade Gutierrez, pela Vale, pela Neoenergia, pela CBA e por duas
subsidiárias da Eletrobras
(Furnas e Eletrosul), ofereceu
R$ 82,90. Como a diferença entre os preços superou 5%, não
foi permitida contraproposta.
Em relação aos leilões das hidrelétricas do rio Madeira
(RO), a competição por Belo
Monte trouxe menos benefícios ao consumidor. Em Santo
Antônio, houve deságio de
35%. Em Jirau, de 21%. Os preços, no entanto, ficaram próximos: R$ 78,87 em Santo Antonio e R$ 71,4 em Jirau.
"É a energia mais barata que
existe em todo o atual leque de
opções de obras no país", disse
o ministro de Minas e Energia,
Márcio Zimmermann. Para o
diretor-geral da Aneel, Nelson
Hubner, a usina já deveria ter
sido feita. "Estamos pagando a
conta do atraso com energia
mais poluente." Belo Monte está sendo estudada desde 1975.
Para se tornar viável, a hidrelétrica de Belo Monte tem pesada participação estatal, seja
por meio das estatais e dos fundos de pensão (que entrarão
como sócios estratégicos), seja
por benefícios fiscais e financiamento público do BNDES.
O custo da usina, estimado
pelo governo em R$ 19 bilhões,
muito questionado, foi defendido pelos vencedores. "Dá para fazer a obra com a tarifa colocada", diz Lima, da Chesf.
Para que o leilão fosse realizado, houve uma batalha jurídica: liminares suspendendo o
leilão e sendo derrubadas pela
Advocacia-Geral da União em
seguida. Assim que o pregão foi
encerrado, o anúncio do vencedor ficou suspenso por mais de
duas horas por conta de outra
liminar contrária à obra. Segundo o governo, essa nova liminar não invalidou o leilão,
porque ele já havia terminado
no momento da notificação.
O Ministério Público Federal
investigará se o governo desobedeceu a uma ordem judicial.
A Aneel nega. "Fui notificado
por e-mail, recebido no meu celular, às 13h30", disse Marcio
Pina, procurador-geral da
agência. Ele ressaltou, ainda,
que, formalmente, a Aneel ainda não foi notificada, mas que,
por cautela, decidiu suspender
o anúncio dos vencedores.
Colaborou JOÃO CARLOS MAGALHÃES ,
da Agência Folha, em Belém
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