São Paulo, quarta-feira, 21 de abril de 2010

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Obra poderá incluir até derrotados no leilão

Para o governo, consórcio que construirá Belo Monte terá formação diferente do que venceu licitação da usina ontem

Expectativa é que grupo inclua novos sócios e outras empreiteiras subcontratadas; vitória do consórcio da Chesf surpreendeu o Planalto

VALDO CRUZ
LEILA COIMBRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Logo depois de o consórcio liderado pela estatal Chesf, pela Queiroz Galvão e pelo grupo Bertin ganhar o leilão de Belo Monte, o governo Lula já avaliava que haverá negociações para a formação definitiva do grupo que tocará o projeto, que pode envolver até empresas que saíram derrotadas.
A Folha ouviu de dois auxiliares diretos do presidente Lula que a expectativa é que o consórcio vencedor busque novos sócios e subcontrate outras empreiteiras para construir a usina. Em outras palavras, o consórcio final será diferente daquele que ganhou oficialmente a disputa ontem.
"A obra é muito grande, tem espaço para todo mundo", disse um dos assessores de Lula, que aposta na possibilidade de as empreiteiras Camargo Corrêa e Odebrecht negociarem com o consórcio vencedor para tocarem as obras de engenharia civil da usina.
As duas empreiteiras haviam desistido de participar do leilão por não concordarem com o preço máximo de R$ 83 para a energia de Belo Monte e negociavam, nos bastidores, para integrar o consórcio liderado pela Andrade Gutierrez -que era considerado pelo mercado o favorito na disputa.
Dentro do próprio governo, a avaliação é que o resultado surpreendeu porque o grupo encabeçado pela Andrade estava mais bem estruturado para o leilão, contando com autoprodutores de energia importantes, como Vale e Votorantim.
A equipe de Lula trabalha ainda com a informação de que Cemig, Suez e os fundos de pensão Funcef e Petros também irão negociar com os vencedores, classificados no mercado como "azarões" por terem se formado de última hora.
Também demonstraram interesse em se associar ao grupo vencedor algumas empresas autoprodutoras de energia, como CSN, Braskem e Gerdau (que usarão a produção da usina para consumo próprio).
O governo quer evitar classificar publicamente o consórcio vencedor como um "azarão" ou surpresa para não colocar em dúvida a construção da usina. Além disso, trabalha com a expectativa de negociações entre as empresas para dar mais "musculatura" ao grupo vencedor, segundo definição de um assessor de Lula. "O empreendimento é muito grande. Todo mundo espera que o consórcio vencedor, no mínimo, subcontrate outras empreiteiras", afirmou à Folha esse auxiliar.
Preocupado com a construção da usina, o governo já havia decidido que a Eletronorte iria integrar o consórcio vencedor e seria a operadora da usina. A empresa é considerada a estatal que detém mais conhecimento da obra, por ter sido a responsável pelos estudos de viabilidade da usina.
Os dois consórcios, por sinal, disputavam a estatal. Inicialmente, o governo chegou a decidir incluir a Eletronorte no consórcio liderado por Queiroz Galvão e Bertin exatamente para fortalecê-lo. Recuou depois de pressões da Andrade Gutierrez. Apenas a entrada da Eletronorte já provocará mudanças na composição do consórcio. Na inscrição, a estatal Chesf ficaria com 49,9% do grupo. Agora, a Eletronorte ficará com 30% a 35% do consórcio, e a Chesf, com o percentual restante, para completar os 49,9% que ficarão com as subsidiárias da Eletrobras.
Além disso, as empresas de engenharia tinham um total de 40% na composição do grupo. Pelas regras do edital, na assinatura do contrato, esse percentual terá de ser de até 20%.


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