São Paulo, sexta-feira, 21 de maio de 2004

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PRÓS E CONTRAS

Affonso Celso Pastore destaca que câmbio desvalorizado deprime consumo interno ao aumentar preços

Real fraco eleva exportação e reduz salário

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Câmbio desvalorizado é bom para exportações. Mas ajuda a derrubar os salários dos brasileiros e pode conduzir a uma contração de consumo e investimentos que retardariam o crescimento PIB (Produto Interno Bruto).
Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central, diz que é irrefutável que câmbio desvalorizado estimula as exportações e o aumento do saldo comercial. Por outro lado, afirma ele, um câmbio subvalorizado tem efeitos sobre o consumo ao promover uma mudança de preços relativos.
O argumento de Pastore: as exportações são estimuladas por câmbio real desvalorizado porque os preços recebidos pelos produtores elevam-se em relação aos custos. Ou seja, entre outras razões, porque a relação câmbio/ salários se eleva. "Relação câmbio/salário mais elevada significa salário real mais baixo, o que contrai o consumo", escreve no texto "Estabilidade e Crescimento", em parceira com a economista Maria Cristina Pinotti.
Pastore afirma que, embora não haja evidências de que desvalorizações contraiam as economias, no Brasil, o histórico mostra que o consumo em proporção ao PIB cai em períodos de desvalorização cambial e o mesmo ocorre com a taxa de investimentos, retardando o crescimento do PIB.
O economista argumenta ainda que desvalorização cambial (e a produção de superávits) somente permite reduzir a vulnerabilidade externa se o governo adotar uma rígida política fiscal -o que estimularia o ingresso de investimento externo, criando condições para a expansão da economia.
Ricardo Carneiro, diretor do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica da Unicamp, diz que, se considerado que o principal entrave da economia brasileira é fiscal, o ex-presidente do BC tem razão ao assinalar efeitos de um câmbio subvalorizado sobre produção de bens não-exportáveis e sobre o consumo da população. "O problema é que esse argumento só é verdadeiro se a economia não tiver restrição externa", diz Carneiro. Significaria o país conseguir atrair capitais suficientes para dispensar a necessidade de um superávit comercial elevado o bastante para fechar o balanço de pagamentos.
Pelo menos, na visão de Pastore, não haveria escassez de capitais se os fundamentos da economia (rigidez fiscal) estivessem corretos.


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