São Paulo, domingo, 21 de maio de 2006

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ALOIZIO MERCADANTE

Criminalidade e economia

AS VIOLENTAS ações da organização criminosa PCC contra policiais, bombeiros, civis desarmados e até escolas, numa atitude covarde e de desafio aberto às autoridades, representam ataque frontal à ordem pública e às instituições que não pode ficar sem resposta dura, dentro dos marcos do Estado de Direito. Com efeito, choques entre policiais e bandidos são normais em quaisquer cidades do mundo, mas um ataque sistemático e organizado dentro do sistema penitenciário contra o aparelho de Estado e agentes públicos é algo que foge inteiramente aos parâmetros da criminalidade comum e revela as fragilidades da segurança pública no país, particularmente em São Paulo. A implicações sociais dessas fragilidades podem ser aferidas na vida cotidiana dos cidadãos brasileiros, especialmente aqueles que vivem nas periferias das metrópoles. É o medo de sair de casa, a experiência dolorosa dos assaltos e homicídios, a humilhação das violações grosseiras dos direitos humanos etc. Há também implicações políticas claras, pois o crime organizado, ao criar espaços de domínio nas urbes brasileiras e corromper agentes públicos, mina a autoridade do Estado e o império da lei, comprometendo o exercício dos direitos democráticos. Entretanto altas taxas de criminalidade também produzem efeitos menos óbvios no desempenho das economias. Embora seja difícil estabelecer relações de causa e efeito entre criminalidade e desempenho econômico, existem estudos que mostram nítida correlação entre altos índices de violência urbana e baixos índices de investimento e crescimento econômico. Estimativas compiladas pelo Banco Mundial na América Latina demonstram que a criminalidade é responsável por reduções do PIB que variam de 25% (Colômbia e El Salvador) a 10% (Brasil) e a 8% (Peru). Outra pesquisa feita pelo organismo internacional mostra que 52,2% das empresas que estão no Brasil consideram que o crime é um forte fator para a inibição de novos investimentos. Na África Subsaariana, região mais pobre do globo, esse índice é de 25%, o que prova que é a ação do crime organizado, associada à desigualdade social e à disseminação de valores consumistas, e não a pobreza isoladamente, que provoca violência e inibe investimentos. Assim, a criminalidade tem efeitos devastadores em todos os níveis e precisa ser combatida com seriedade. Já disse, e repito, que não é hora de "partidarizarmos" problema tão grave. Pelo contrário, é hora de criarmos uma rede de solidariedade entre governos e sociedade civil para darmos uma resposta aos gigantescos desafios da segurança pública. No Senado, via esforço suprapartidário, aprovamos medidas importantes para o combate ao crime organizado. Também não é hora de nos perdermos no debate estéril entre aqueles que defendem medidas repressivas de curto prazo e os que apregoam ações sociais de longo prazo. Ambas são necessárias. Afinal, como dizia Keynes, no longo prazo estaremos todos mortos.


ALOIZIO MERCADANTE, 52, é economista e professor licenciado da PUC e da Unicamp, senador por São Paulo e líder do governo no Senado Federal. Internet: www.mercadante.com.br
E-mail -
mercadante@mercadante.com.br


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