São Paulo, sexta-feira, 21 de junho de 2002

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Risco mede humor do mercado internacional

DA REPORTAGEM LOCAL

O índice de risco-país medido pelo JP Morgan é um indicador diário do humor do mercado internacional em relação aos papéis de um determinado país. Ele mede, por meio dos preços pagos pelos títulos emitidos pelo governo e empresas de um país, qual a diferença entre os juros pagos por estes papéis e os pagos pelos títulos do governo norte-americano.
Quando o JP Morgan afirma que o risco-país num determinado dia é de mil pontos, isso significa que, naquele dia, o preço dos papéis está embutindo uma taxa de juros 10 pontos percentuais maior do que a paga pelos EUA.
Como todos os títulos emitidos por empresas e outros países, os títulos brasileiros são negociados no mercado. Quando a procura por estes títulos aumenta, sobe o preço do papel. Quando há mais investidores querendo vendê-los e menor procura, o preço cai.
Estas oscilações de preço são usadas para calcular o risco. O JP Morgan acompanha a variação de vários títulos públicos e privados do Brasil. O principal título é o C-Bond, que tem um peso relativamente grande. Quando o preço do C-Bond cai, o risco-país sobe.
O valor dos títulos pode mudar por várias razões: pode haver desconfiança de que haverá um calote, uma crise em outro país emergente pode causar uma fuga de investidores, ou mesmo as políticas de investimento dos bancos, que podem decidir vender os títulos quando o seu valor está alto, podem fazer o valor do papel oscilar.
Uma alta do risco-país pode não ter consequências práticas imediatas. Se o governo e as empresas não precisam renovar empréstimos ou captar dinheiro quando o risco é alto, uma elevação do risco não significa que o governo não poderá pagar a dívida. Mas se há a necessidade de ir ao mercado buscar dinheiro, tanto as empresas quanto o governo terão que pagar juros mais altos.
O indicador de risco-país tem, no entanto, um impacto na expectativa dos investidores. Eles podem, por exemplo, avaliar que o risco continuará subindo e que, portanto, com os investidores internacionais cobrando juros muito altos, as empresas e governo brasileiros terão que pagar caro para renovar sua dívida externa.
Se esta percepção for generalizada, operadores começam a pensar que o dólar irá subir, porque o volume de captações e renovação de dívidas será menor, e, portanto, menos dólares entrarão na economia. Para se proteger de uma suposta alta futura da moeda, as pessoas compram o dólar, fazendo o real se desvalorizar antes mesmo que o fluxo de dólares entrando na economia diminua. O risco-país, no entanto, não é uma medida da capacidade do país de pagar ou não sua dívida. Ele só diz qual a percepção do mercado num determinado dia. Um resultado de pesquisa de intenção de voto, por exemplo, apesar de não mudar em nada as condições econômicas brasileiras, pode fazê-lo desabar ou subir muito em poucas horas.
(MARCELO BILLI)


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