São Paulo, sexta-feira, 21 de junho de 2002

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MERCADO EM TRANSE

Perspectivas de notas de vários bancos caem

Agência de risco rebaixa nota da dívida brasileira

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de ter sua perspectiva de classificação rebaixada pela agência Moody"s logo pela manhã, o Brasil chegou ontem ao descofortável segundo lugar na lista das nações consideradas mais arriscadas por investidores externos. Para piorar a situação, depois do fechamento do mercado, a agência inglesa Fitch IBCA reduziu a nota da dívida soberana brasileira.
A aversão de investidores externos levou o risco-país a subir 15,3% e a atingir 1.593 pontos, maior nível desde 27 de janeiro de 1999, logo depois da desvalorização do real. Com esse movimento, o risco-país brasileiro-que reflete os juros cobrados por investidores para emprestar dinheiro ao governo-ultrapassou o da Nigéria (1.584) e agora só perde para o da Argentina (6.062).
A deterioração da situação aumentou de manhã com a decisão da Moody"s de rebaixar de estável para negativa sua perspectiva de classificação de risco das dívidas interna e externa brasileiras. À tarde veio uma nova bomba: a Moody"s também anunciou a piora de perspectiva de estável para negativa dos depósitos em moeda estrangeira e das dívidas externas de bancos importantes que que atuam no país, como Bradesco, Itaú, Unibanco e BankBoston.
Há cerca de um mês, a agência norte-americana já havia reduzido suas perspectivas para Brasil de positivas para estáveis.
Depois da mudança anunciada ontem, o próximo passo da agência deverá ser o rebaixamento das próprias notas de bancos, empresas e dos governos estaduais e federal brasileiros.
A medida tomada ontem pela Moody"s já sinalizou, segundo analistas, uma preocupação com a capacidade de o país honrar seus empréstimos.
Esse temor foi reforçado no fim do dia, depois do fechamento do mercado, quando a agência Fitch IBCA tomou um passo ainda mais drástico que o da Moody"s, ao rebaixar sua classificação da dívida soberana do governo brasileiro de BB- para B+.
A expectativa de analistas é que esse rebaixamento acentue ainda mais hoje a tendência de venda dos títulos da dívida externa brasileira por parte de investidores externos. Ontem, esse movimento levou os C-Bonds, títulos da dívida mais negociados no exterior, a se desvalorizar 6,3%.
Apesar de ser o país que mais tem apanhado de investidores externos recentemente, o Brasil não está sozinho. Outros países emergentes, principalmente os latino-americanos, também estão sofrendo altas em seus riscos soberanos. Segundo analistas, o movimento reflete uma menor disposição de investidores para investir na região. Essa aversão se acentuou quando empresas norte-americanas anunciaram anteontem piores perspectivas de lucros para este ano. Para evitar perdas ainda maiores, os investidores preferiram se livrar de ativos arriscados, como títulos da dívida externa de países latino-americanos.



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