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MERCADO EM TRANSE
País precisa de mais dinheiro do FMI, diz Eris
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
O economista Ibrahim Eris, 57,
ex-presidente do Banco Central e
sócio da corretora Linear, acha
que o Brasil terá que pedir mais
dinheiro ao FMI (Fundo Monetário Internacional) para enfrentar
as turbulências do mercado. Segundo ele, a diferença da atual crise para as outras é que, desta vez, a
solução não depende de saídas
macroeconômicas, e sim do quadro político. Pessimista, Eris disse
que foi uma "piada" a decisão do
Banco Central de adotar um viés
de baixa para os juros básicos da
economia. "Não há a menor condição de baixar os juros agora",
afirmou.
Folha - O que provocou o terremoto de hoje [ontem"?
Ibrahim Eris - Na verdade, o que
aconteceu hoje [ontem" foi continuação de ontem [quarta-feira",
anteontem [terça-feira" etc. Não
aconteceu nada de novo. Nós já
convivemos com esse clima de
tensão há alguns dias, para não dizer algumas semanas. Na medida
em que o tempo passa, a tensão só
tende a crescer, a menos que o
quadro eleitoral caminhe na direção em que o mercado julgue
mais confiável.
Folha - O que o governo pode fazer para acalmar o mercado?
Eris - O grande problema é que,
diante das expectativas que se estabeleceram lá fora sobre o quadro político e econômico do Brasil, ficou muito difícil rolar as dívidas que vencem até o final do ano.
Com o risco-país a 1.500 pontos, o
lançamento de papéis fica totalmente prejudicado. Logo, começam a haver dúvidas se há disponibilidade de dólares suficiente na
economia brasileira. Foi exatamente por isso que o Banco Central precisou se calçar de mais recursos do FMI. Pode ser até necessário, eventualmente, que o
Brasil precise novamente recorrer
ao FMI. Para ser honesto, será necessário que o país recorra ao
FMI.
Folha - Mas, além do dinheiro do
FMI, o que pode ser feito para combater a crise?
Eris - A natureza da crise que vivemos hoje é um pouco diferente
das outras. Nos outros casos, era
uma questão de achar a política
macroeconômica correta para superar a crise. Hoje, infelizmente,
os riscos estão fora do controle do
Banco Central. Não se trata de
uma questão de o que o Banco
Central deva ou não fazer, e sim
do risco político eleitoral. É como
se tivesse um doente com problemas de saúde que estava sob cuidados de uma determinada equipe médica que gozava da confiança de todo mundo. De repente,
surge a notícia que a equipe vai
mudar e logo começa a ser discutida a competência da nova equipe. Nunca ninguém achou que o
Brasil não tivesse problemas. O
governo exagerava quando dizia
que os fundamentos estavam
muito bem, o Brasil sempre teve
problemas de balança de pagamentos, mas todo mundo achava
que a equipe econômica do governo caminhava para uma eventual solução de longuíssimo prazo. Agora, quando você olha a natureza dos problemas com outros
olhos, se a próxima equipe errar,
quanto tempo de vida terá esse
paciente?
Folha - Mas o que precipitou o
nervosismo do mercado? A economia ou as incertezas políticas?
Eris - Não se trata de saber se a
questão está nos fundamentos ou
nas incertezas do quadro político.
Está nas duas coisas. É como se
um levasse a gasolina e outro o fogo. De quem é a culpa? Se não tivesse a gasolina, o fogo não faria o
serviço. Se os fundamentos da
economia estivessem arrumados,
o quadro político não faria tanta
diferença.
Folha - O incêndio já começou?
Eris - Eu tenho uma visão preocupante sobre a situação. Eu acho
que esse quadro só consegue se
inverter se houver uma melhora
na pesquisa dos candidatos que
os agentes econômicos julguem
"confiáveis".
Folha - Quem o sr. julga "confiável"?
Eris - Não se trata de uma questão de nomes. Não é o candidato
do meu gosto, ou do seu gosto, e
sim do gosto do mercado.
Folha - O candidato do gosto do
mercado não seria o José Serra?
Eris - O Serra é um exemplo, mas
eu não quero entrar no debate se
uma subida do candidato x, y ou z
poderia acalmar o mercado. Tem
uma série de coisas que até mesmo um candidato de oposição
poderia fazer para tranquilizar o
mercado. Se o candidato de oposição se comprometer em manter
os contratos firmados pelo governo e manifestar preocupação com
política fiscal, isso certamente
ajudaria a acalmar o mercado.
Com isso, não quero dizer que o
candidato tenha que seguir a política fiscal do Fernando Henrique,
que a meu ver não foi nada brilhante, mas certamente a disciplina fiscal é uma preocupação que
se aplica a todos os candidatos.
Folha - O Brasil corre o risco de virar uma Argentina?
Eris - Essa comparação do Brasil
com a Argentina é ridícula. A natureza dos problemas dos dois
países é muito distinta. O problema da Argentina foi a adoção de
uma política cambial ridícula e
completamente diferente da do
Brasil. A Argentina nunca teve
moeda e o Brasil sempre teve
moeda. O Brasil nunca adotou o
dólar como moeda.
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