|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OPINIÃO ECONÔMICA
A pergunta de todos: por que o Brasil não cresce?
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
Em recente conversa com o economista-chefe da matriz de um dos maiores bancos internacionais que operam no país, meu irmão Beto foi logo surpreendido por sua primeira pergunta: "José Roberto, por que o Brasil não cresce?". Para um profissional na sua posição, essa dúvida é um sinal extraordinário de
perplexidade. Para chegar ao topo da hierarquia de uma instituição financeira de grande porte, alguns valores são absolutamente necessários. O mais importante é
uma fé sem qualificações no funcionamento racional das economias de mercado, quando se tem uma gestão macroeconômica que siga os ensinamentos da ortodoxia econômica. Como, então, explicar o crescimento pífio de nossa
economia ao longo de oito anos
em que seguimos, sem vacilo ou
dúvidas, a receita do bolo do chamado Consenso de Washington?
A perplexidade sincera de seu interlocutor chocou meu irmão!
É evidente que alguns radicais,
aqui e no exterior, não expressam
essa mesma decepção, à medida
que acham que o governo FHC foi
frouxo na gestão da questão fiscal. Não resolveu o déficit da Previdência, aumentou expressivamente os gastos com o funcionalismo público e multiplicou várias vezes o orçamento das áreas sociais. Por isso não cresceu. Tivesse
o governo despedido milhares de
funcionários públicos e cortado os
miseráveis benefícios de vários
milhões de aposentados, o cenário teria sido outro.
Outros participantes do debate
de hoje sobre esse tema, principalmente no campo político da oposição ao governo FHC, atribuem
esse crescimento pífio às contradições do modelo econômico catalogado, sem nenhuma profundidade, de neoliberal. Se para os primeiros o excesso de credo é o problema, para os segundos o que temos é uma total falta de profundidade analítica na compreensão
do funcionamento das economias
modernas. Em ambos os casos,
peço autorização dos leitores desta coluna para ter direito ao desprezo e não considerar suas ressalvas.
Mas, para os profissionais sérios, como o interlocutor de meu
irmão e todos aqueles que neste
momento eleitoral querem olhar
para a frente, é necessário encontrar uma resposta a essa questão.
Dela depende o futuro de nosso
país -inclusive o de Isabela, minha neta que nasceu no último
fim de semana. Por isso, vou tentar encontrá-la, e peço ajuda aos
deuses para encontrar o dom da
clarividência e da síntese.
Uma primeira resposta poderia
ser um questionamento direto
dessa causalidade entre gestão
macroeconômica ortodoxa e crescimento, quando aplicados a economias emergentes como a brasileira. A razão dessa diferença reside na observação de que a eficiência dos mercados nesses países é muito menor do que a que
prevalece nas economias avançadas. O mercado de trabalho, o sistema tributário, a infra-estrutura
econômica e, principalmente, o
mercado financeiro e de capitais
no Brasil não funcionam com a
mesma racionalidade que a teoria econômica considera em seus
modelos mais atuais. Essa diferença faz com que os mecanismos
de correção automática de distorções conjunturais, que são elementos fundamentais na eficiência das economias de mercado,
sejam muito frágeis ou não existam nos casos como o brasileiro.
Poderia também, buscando ser
mais específico e menos teórico,
dizer que a causa principal dessa
falta de crescimento está na chamada vulnerabilidade externa do
Brasil. A necessidade de rolar
nossa dívida externa exige um esforço anual de captação de recursos de mais de US$ 30 bilhões,
além de outros US$ 25 bilhões para financiar nosso déficit de conta
corrente, que aparece quando
crescemos cerca de 3% ao ano. Isso é muito dinheiro, mesmo em
momentos de euforia da economia mundial.
Como vivemos em um mundo
globalizado, a probabilidade a
cada momento de que um ou
mais países emergentes estejam
em crise é muito grande. Portanto
estaremos sempre sob a ameaça
de algum mau humor do mercado internacional de capitais, que
acaba por se transformar em volatilidade nos mercados de câmbio e juros. Ora, essa sensação de
risco constante acaba obrigando
o país a conviver com taxas de juros elevadas e insegurança em relação à taxa de câmbio, que
criam o cenário que eu chamo de
"vôo da galinha". Cresce e pára,
cresce e pára... A história dos últimos anos é uma prova disso.
Mas a explicação que mais me
agrada é outra. Mais do que uma
resposta objetiva à questão do
crescimento, ela coloca em discussão uma proposta para nos orientar neste momento em que indagamos sobre o que nos espera a
partir de 2003. A retomada do
crescimento exigirá do próximo
governo um esforço muito grande
para encontrar um equilíbrio entre o que nos ensina a teoria econômica e as adaptações necessárias para lidar com um espaço
econômico ainda cheio de imperfeições. Conhecimento teórico
sem chegar à ortodoxia burra e
entendimento detalhado do funcionamento de nossos mercados
principais, com uma capacidade
de reformar o que está errado, serão capacidades que o próximo
presidente da República vai precisar mostrar. Foi esse equilíbrio
perdido, em seu segundo mandato, a principal causa para o fracasso de FHC quando olhamos para o crescimento econômico.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 59, engenheiro e economista, é sócio e editor do site de economia e política Primeira Leitura. Foi presidente do BNDES e
ministro das Comunicações (governo FHC).
Internet: www.primeiraleitura.com.br
E-mail - lcmb2@terra.com.br
Texto Anterior: Pode existir algo por trás da queda, afirma Ermírio Próximo Texto: Campanha: Pequenas e médias são alvo da Força Índice
|