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LUÍS NASSIF
Os 50 anos de uma referência
O cinquentenário da Cemig (Centrais Elétricas de Minas Gerais), os 40 anos da
Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e, agora, o cinquentenário do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) comprovam o que esta coluna vem martelando há tempos: não houve mais brilhante
geração de brasileiros do que a do pós-guerra. Dentre todas essas instituições, nenhuma contribuiu tanto para o desenvolvimento nacional como o BNDES,
cujo cinquentenário foi completado ontem.
Inicialmente, foi criado para desburocratizar e despolitizar as contrapartidas financeiras aos planos de ajuda econômica do governo norte-americano, no
início dos anos 50.
Foi fincado em bases sólidas, com a noção de planejamento trazida pelos pioneiros da Cemig, Lucas Lopes à frente, e a
noção de futuro de Roberto
Campos. Acompanhou e se
adaptou a todas as novas etapas
da economia nacional. Nos
anos 50 ajudou a financiar a infra-estrutura nacional, base para a industrialização posterior.
Nos anos 60, a prover capital de
longo prazo para as empresas
privadas. Nos anos 70, a substituir as importações, ajudando a
criar as primeiras grandes empresas nacionais.
Nos anos 80 enredou-se na
perda de rumo da (não) política
industrial da época. Mas foi nesse período soturno, de escassez
de idéias, dominado por panelinhas acadêmicas que impediam
o avanço de qualquer nova forma de pensamento -que não a
da polarização moratória versus recessão, para resolver a crise do balanço de pagamentos-,
que o BNDES trouxe sua maior
contribuição à saída do impasse, com a Teoria da Integração
Competitiva, formulada pelo
economista Júlio Mourão.
Em 1984, a partir dos estudos
encomendados por seu chefe
Mourão, o então jovem economista Luiz Paulo Vellozo Lucas
(hoje prefeito de Vitória) constatou que havia terminado a fase dos déficits comerciais. Naquele ano, previu-se um superávit expressivo, sinal de que o ciclo de substituição de importações chegara ao fim.
A partir dessa constatação,
Mourão elaborou sua teoria defendendo que a etapa seguinte
deveria ser de gradativa liberalização comercial, não como fim
em si, mas como estratégia para
permitir às empresas brasileiras
adquirir experiência, competitividade, montar acordos tecnológicos, joint ventures e se lançar à globalização.
A idéia ficou na geladeira durante o governo Sarney. Panelinhas acadêmicas dominavam
os partidos políticos e o processo
de formação de opinião na mídia, e apelavam para a desclassificação pura e simples das teorias desenvolvidas no âmbito do
BNDES.
As teses foram adotadas no
governo Collor, no mais consistente plano de política industrial da época, o da abertura e
da redução tarifária gradativa,
ao mesmo tempo em que as
idéias da qualidade total eram
disseminadas pelo país, por
meio do PBQP (Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade), para as grandes empresas, e do Sebrae, para as pequenas. Tudo isso apesar de o banco
ter sido submetido a uma mediocrização ampla, com todas
suas energias sendo utilizadas
exclusivamente para elaborar
as primeiras privatizações do
período.
O programa sobreviveu às
loucuras de Collor e de Itamar,
mas acabou atropelado pela estupidez da política cambial do
Real. Mas as idéias ficaram.
Nos últimos anos o BNDES
aprendeu a ser o grande organizador de operações internacionais do país. O próximo passo,
segundo o ministro do Desenvolvimento, Sergio Amaral, será
o banco garantir a expansão internacional dos grandes grupos
brasileiros e definir políticas
mais objetivas de fortalecer as
pequenas empresas nacionais.
Nessa empreitada, dos pioneiros à nova guarda, figura referencial é a de Ignácio Rangel
-o mestre de Júlio Mourão,
Sérgio Besserman e todos os modernos formuladores industriais
do BNDES-, o grande pensador do desenvolvimento, o homem de pensamento abrangente, sem viés ideológico, legítimo
herdeiro da geração do pós-guerra, dotado da visão de futuro e da importância da institucionalização de políticas públicas, o pensador que entendeu o
mecanismo de acumulação do
processo inflacionário, o nacionalista que primeiro defendeu a
necessidade de privatização dos
serviços públicos.
Está saindo o livro dos 50 anos
do BNDES. Inúmeras figuras de
relevo serão lembradas. Na condição de brasileiro, fica aqui
meu preito de gratidão aos pioneiros. Mas, especialmente, a
Rangel e Mourão.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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