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POUCO CRÉDITO
Depois do FMI, Tesouro americano diz que sistema brasileiro não financia investimento e crescimento
EUA criticam eficiência de bancos no Brasil
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um dia após o FMI (Fundo Monetário Internacional) divulgar
documento em que afirma ser o
setor bancário do Brasil muito
concentrado e pouco eficiente, os
bancos brasileiros voltaram a ser
alvo de críticas, desta vez do subsecretário do Tesouro americano,
Randal Quarles.
Em discurso diante de empresários americanos e brasileiros, reunidos na quinta-feira à noite na
Câmara de Comércio dos Estados
Unidos, em Washington, Quarles
disse que "a intermediação financeira doméstica não tem exercido
o papel que deveria, de financiar o
investimento e o crescimento".
Segundo dados do estudo do
FMI, reafirmados por Quarles em
seu pronunciamento aos empresários dos dois países, a intermediação bancária deveria ser o cerne da atividade do setor no Brasil.
Por meio dela, os bancos captam
recursos no mercado e os direcionam a empréstimos. No Brasil,
porém, os bancos têm mais recursos aplicados em títulos do governo do que destinados a operações
de crédito, disse Quarles.
O subsecretário afirmou que os
20 maiores bancos brasileiros têm
um quarto dos seus recursos aplicados em títulos da dívida pública. É o mesmo dado apresentado
no estudo do FMI.
A reunião na Câmara Americana foi motivada pela visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a
Washington.
Afinação
O subsecretário do Tesouro
adotou o tom e os números do
documento escrito pela técnica
do FMI, Agnès Belaisch, divulgado na quarta-feira à noite, repetindo críticas feitas por ela ao sistema bancário no Brasil.
"Embora os bancos brasileiros
tenham um total de ativos três vezes maior do que os bancos mexicanos, eles oferecem, anualmente,
o mesmo montante de crédito."
Quarles só não esclareceu, como fez Belaisch, que a comparação entre os dois países diz respeito ao total de crédito em relação
ao PIB (Produto Interno Bruto).
Enquanto no Brasil o volume de
crédito corresponde a 24% do
PIB, no México ele é de 23%.
Em alguns momentos, porém, o
discurso de Quarles foi mais ácido
que o do FMI. Ele destacou que
"ao baixo nível de empréstimos se
acrescentam os altos custos da intermediação".
Segundo o subsecretário do Tesouro americano, "o crédito bancário continua sendo proibitivo
para as empresas pequenas, médias e grandes. Os "spreads" praticados são de 56% nos financiamentos às pessoas e de 24% para
as empresas, em comparação
com "spreads" de 1% a 2% para as
empresas nos Estados Unidos".
"Spread" é a diferença entre as
taxas de juros que os bancos pagam ao captarem recursos no
mercado e as que cobram nos empréstimos a clientes. É dessa "gordura" que saem seus lucros e o dinheiro para pagarem impostos e
manterem seu custo operacional.
Impostos
Quarles fez coro ao FMI também ao criticar a baixa eficiência
dos bancos brasileiros. "Os custos
operacionais dos bancos brasileiros são o dobro da média encontrada nos demais países da América Latina, e o triplo da média dos
países desenvolvidos."
O subsecretário destacou, porém, que parte dos pesados custos
do sistema bancário brasileiro se
deve aos impostos, que também
são mais do que o dobro da média
latino-americana.
Este seria, segundo sua opinião,
um dos fatores macroeconômicos
que interferem no crédito bancário no país. Outros fatores são
pontos deficientes da legislação e
da estrutura judicial, que acabam
influenciando indiretamente as
altas taxas de juros vigentes no
país. "Os direitos do credor são
fracos e as cortes demoram mais
de cinco anos para decidir, sendo
generosas às apelações", disse.
Outro aspecto enfatizado por
Quarles -e que também consta
do documento da técnica do
FMI- é que os percentuais de
depósito compulsório são muito
altos, devido à necessidade de
combater a inflação.
O Banco Central recolhe 60%
dos depósitos à vista e 10% dos
depósitos a prazo, o que acaba
deixando poucos recursos disponíveis para crédito. Isso "torna
necessário aos bancos cobrar altas
taxas para o capital que é destinado a uso produtivo", disse.
Quarles ainda fez críticas à ineficiência dos bancos públicos. Segundo ele, essas instituições têm
baixo retorno sobre o capital, alto
nível de inadimplência e custos
operacionais ainda mais altos que
os dos bancos privados.
Progressos
Apesar da crítica aos bancos, o
subsecretário elogiou os recentes
progressos na economia brasileira e a melhora da confiança internacional no país. "Isso poderia representar o início de um círculo
virtuoso, com uma taxa mais alta
de crescimento econômico."
No entanto, destacou, a economia brasileira cresceu 1,5% no
ano passado e a estimativa para
este ano é um crescimento do PIB
inferior a 2%. Essa taxa foi considerada "muito abaixo do potencial" do país. Uma das causas do
baixo crescimento, segundo
Quarles, é justamente o alto custo
do crédito ao setor privado.
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