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São Paulo, sábado, 21 de junho de 2003

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OUTRO LADO

Governo seca crédito, diz Febraban

DA REPORTAGEM LOCAL

O crédito é restrito e caro no Brasil porque o governo absorve quase 70% dos recursos disponíveis no sistema bancário. Essa é a explicação da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) para o quadro desenhado pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) e pelo subsecretário do Tesouro americano, Randal Quarles, em suas críticas aos bancos locais.
Segundo Roberto Luis Troster, economista da Febraban, ocorre no Brasil o chamado "efeito deslocamento", no jargão dos manuais de economia. "Quando o governo tem um déficit muito alto e persistente, todos os recursos acabam sendo destinados a financiar o governo", diz ele.
Em nota oficial, a Febraban destaca que dados do próprio estudo do FMI mostram que a pressão da dívida do governo desloca a demanda de crédito do setor privado. Segundo o estudo, a dívida das empresas corresponde a 0,4% do PIB (Produto Interno Bruto) no Brasil, enquanto no Chile chega a 19,1% do PIB. Já a dívida do governo no Brasil é de 41,2% do PIB, e no Chile, de 16,7%. "Ou seja, a relação dívida pública/dívida de empresas no Brasil é de 103 vezes, e no Chile chega a apenas uma vez", diz a nota.
A concentração de aplicações em títulos públicos não seria, assim, uma opção dos bancos, mas um "resultado macroeconômico", do desequilíbrio das contas públicas, afirma Troster.
A Febraban também justifica os elevados "spreads" bancários, criticados por Quarles. Segundo Troster, "os elevados impostos e compulsórios, os custos da burocracia bancária e o quadro institucional que encarece a retomada de créditos" seriam as principais causas dos "spreads" praticados.
Além desses fatores, Troster assinala que o fato de existirem poucos tomadores de crédito acaba encarecendo o custo do dinheiro. Ele admite que, nesse aspecto, o setor cai em um círculo vicioso: o crédito é caro porque tem pouca gente tomando empréstimo e toma-se pouco empréstimo porque as taxas são impagáveis.
Na nota, a Febraban considera "oportuno" o documento do FMI. Mas rebateu críticas. Segundo a entidade, não faz sentido comparar "custos com outros sistemas bancários, pois o tíquete [valor] médio das operações de crédito é menor no Brasil".
A Febraban também contesta a afirmação do FMI de que o setor é pouco competitivo e funciona como um oligopólio, em que poucas empresas controlam o mercado. "O período analisado é muito curto [1997-2002] para afirmar que os bancos brasileiros atuam como cartel." (SB)


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