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OUTRO LADO
Governo seca crédito, diz Febraban
DA REPORTAGEM LOCAL
O crédito é restrito e caro no
Brasil porque o governo absorve
quase 70% dos recursos disponíveis no sistema bancário. Essa é a
explicação da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) para o
quadro desenhado pelo FMI
(Fundo Monetário Internacional)
e pelo subsecretário do Tesouro
americano, Randal Quarles, em
suas críticas aos bancos locais.
Segundo Roberto Luis Troster,
economista da Febraban, ocorre
no Brasil o chamado "efeito deslocamento", no jargão dos manuais de economia. "Quando o
governo tem um déficit muito alto e persistente, todos os recursos
acabam sendo destinados a financiar o governo", diz ele.
Em nota oficial, a Febraban destaca que dados do próprio estudo
do FMI mostram que a pressão da
dívida do governo desloca a demanda de crédito do setor privado. Segundo o estudo, a dívida
das empresas corresponde a 0,4%
do PIB (Produto Interno Bruto)
no Brasil, enquanto no Chile chega a 19,1% do PIB. Já a dívida do
governo no Brasil é de 41,2% do
PIB, e no Chile, de 16,7%. "Ou seja, a relação dívida pública/dívida
de empresas no Brasil é de 103 vezes, e no Chile chega a apenas
uma vez", diz a nota.
A concentração de aplicações
em títulos públicos não seria, assim, uma opção dos bancos, mas
um "resultado macroeconômico", do desequilíbrio das contas
públicas, afirma Troster.
A Febraban também justifica os
elevados "spreads" bancários, criticados por Quarles. Segundo
Troster, "os elevados impostos e
compulsórios, os custos da burocracia bancária e o quadro institucional que encarece a retomada
de créditos" seriam as principais
causas dos "spreads" praticados.
Além desses fatores, Troster assinala que o fato de existirem poucos tomadores de crédito acaba
encarecendo o custo do dinheiro.
Ele admite que, nesse aspecto, o
setor cai em um círculo vicioso: o
crédito é caro porque tem pouca
gente tomando empréstimo e toma-se pouco empréstimo porque
as taxas são impagáveis.
Na nota, a Febraban considera
"oportuno" o documento do
FMI. Mas rebateu críticas. Segundo a entidade, não faz sentido
comparar "custos com outros sistemas bancários, pois o tíquete
[valor] médio das operações de
crédito é menor no Brasil".
A Febraban também contesta a
afirmação do FMI de que o setor é
pouco competitivo e funciona como um oligopólio, em que poucas
empresas controlam o mercado.
"O período analisado é muito
curto [1997-2002] para afirmar
que os bancos brasileiros atuam
como cartel."
(SB)
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