|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OPINIÃO ECONÔMICA
A OIT, as cláusulas e os selos sociais
ANTONIO NETO
As grandes corporações transnacionais, por intermédio do governo norte-americano, acabam de
sofrer na recente reunião da Organização Internacional do Trabalho
outra derrota em sua tentativa de
impor ao comércio internacional
uma nova modalidade de sanção
econômica travestida de "proteção" aos direitos sociais.
A tese de estabelecer "cláusulas
sociais" nas relações comerciais e
impor sanções aos que não cumpram determinadas "normas sociais" -chamando a isso "dumping social"- chegou a seduzir alguns setores do movimento sindical.
Mas é ilusão supor que meia dúzia de "tycoons" -que, desde o
Consenso de Washington, em
1989, têm defendido a redução dos
direitos trabalhistas, ou como dizem, a "flexibilização" das relações de trabalho, ou ainda que forçaram a criação ao redor do mundo, sobretudo nos países subdesenvolvidos, de zonas de livre exploração, acabando com quaisquer direitos trabalhistas- estejam agora sincera e desinteressadamente sensibilizados pela promoção dos direitos sociais.
Não há qualquer espécie de benevolência do governo norte-americano ao tentar vincular sanções comerciais aos direitos humanos, sociais e trabalhistas. Até
porque esse país não é nenhum
paraíso, em se tratando dessas
questões.
Na realidade, seu objetivo é ampliar o protecionismo de sua economia com medidas protecionistas não-tarifárias. Haja vista o artigo 301 da lei de comércio dos EUA,
que lhes permite decidir internamente sancionar países que, segundo o seu critério, não respeitem normas ambientais, utilizam
mão-de-obra infantil, não tenham
os mesmos princípios "democráticos" ou não "combatam" o narcotráfico.
Ao mesmo tempo que protegem
mais sua própria economia, as
corporações norte-americanas
exigem a abertura de outras economias para a entrada de seus produtos. Os demais países, particularmente os subdesenvolvidos, seriam duplamente castigados: reduziriam suas vendas e teriam de
aumentar suas compras dos EUA.
O resultado seria a exportação de
emprego para os EUA e o consequente agravamento do desemprego nos demais países.
A saída para a grave crise econômica mundial passa por transformações profundas na economia
internacional. Só com a retomada
sustentada do desenvolvimento
sairemos desse beco sem saída
provocado pela cartelização crescente da economia mundial, pela
megaespeculação financeira e pela
corrida armamentista.
Não será com o desemprego e a
"flexibilização" (corte) dos direitos trabalhistas que chegaremos a
algum lugar. A retomada do desenvolvimento exige a canalização
dos recursos que estão na especulação financeira (US$ 45 trilhões) e
na corrida armamentista (US$ 700
bilhões) para a produção e o
bem-estar social, a adoção de padrões de câmbio mais justos entre
as nações, uma solução duradoura
para o problema da dívida externa
e uma melhoria da distribuição da
renda.
O resultado da OIT se soma à
frustração que os EUA colheram
na Conferência Ministerial da
OMC, realizada em Cingapura,
que decidira remeter o assunto ao
fórum adequado -a OIT. Existe
um amplo entendimento no mundo inteiro, e o governo brasileiro
tem somado positivamente nesse
esforço, tanto na OIT como na
OMC, que a imposição das "cláusulas sociais", longe de promover
os direitos sociais, é um instrumento para torná-los ainda mais
distantes de um número crescente
de trabalhadores em todo o mundo.
O respeito aos direitos sociais
depende, por um lado, do fortalecimento da OIT e de seus mecanismos de supervisão e cooperação
técnica. E, por outro, da luta e da
organização unitária dos trabalhadores pelo desenvolvimento econômico e social em todos os países. É o que a realidade vem demonstrando.
Antonio Neto, 43, é presidente da FSM (Federação Sindical Mundial) e presidente da
CGT-Brasil (Central-Geral dos Trabalhadores do
Brasil).
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|