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CONJUNTURA
Indicador tem a maior queda desde o Plano Real, segundo Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio divulgada ontem
Renda do brasileiro cai 7,1%, aponta IBGE
FERNANDA DA ESCÓSSIA
ISABEL CLEMENTE
DA SUCURSAL DO RIO
O trabalhador brasileiro saiu da
crise da desvalorização do real e
da estagnação econômica de 1999
com uma perda de 7,1% no seu
rendimento em relação aos ganhos médios do ano anterior, já
descontados os efeitos da inflação.
As informações constam da
Pnad (Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios), a mais
ampla pesquisa socioeconômica
do IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística), divulgada
ontem. Os dados são referentes ao
ano passado.
A Pnad revelou uma acentuação
da queda real do rendimento, que
já vinha apresentando pequenas
baixas de 1996 para 1997 (1,2%) e
de 1997 para 1998 (0,8%). Com isso, chegam a 9% as perdas acumuladas nos últimos três anos.
Nos últimos dez anos, só houve
duas situações piores: as perdas
de 18,2% de 1989 para 1990 e de
12,2% de 1990 para 1992. Nos anos
80, houve perdas ainda maiores,
também na casa dos dois dígitos,
nos períodos de 1981 a 1983 e de
1986 a 1987.
A pesquisa não foi realizada em
1991 e em 1994. De 1995 para cá, o
baque na renda foi de 6,4%, provocando um retrocesso na melhoria do rendimento proporcionada pelo Plano Real (julho de
1994) e pela estabilização da moeda, mas sem eliminá-la.
Em relação a 1993, período anterior ao Plano Real, o rendimento médio dos trabalhadores ainda
está 21% maior. Isso significa que,
se há sete anos o rendimento médio era de R$ 434, no ano passado
ele ficou em R$ 525.
Montanha-russa
Nos últimos dez anos, o rendimento do trabalhador se comportou como um carrinho de montanha-russa. Despencou com a recessão do Plano Collor (1990) e ficou no fundo do poço de 1990 a
1993. Voltou a subir em 1995, depois do Plano Real, e entrou em
queda contínua a partir de 1996.
Entre as altas e baixas dos últimos dez anos, o salário médio do
trabalhador brasileiro em 1999
entra para a década como o mais
baixo já visto fora do período recessivo de 90 a 93.
E ainda está 6,2% abaixo do de
1989, segundo o IBGE. O maior
baque quem sentiu foram os empregadores (-9,5%), seguidos pelos autônomos (-7,4%) -ambos
acima da média.
O rendimento médio mensal do
brasileiro empregado foi de 3,7
salários mínimos. A renda chegou
a 4,1 salários mensais para os que
têm carteira assinada, 6 salários
para militares e estatutários e apenas 2,1 salários para os empregados sem registro em carteira.
Continua a disparidade entre os
salários de mulheres e homens,
embora as diferenças estejam
caindo. Segundo a Pnad, se um
homem ganha em média R$ 100
pelo seu trabalho, a mulher consegue R$ 60,70. Em 1995, a proporção era ainda pior: as mulheres ganhavam quase a metade dos
homens (54,2%).
Conforme já mostravam as taxas de desemprego recordes do
ano passado, o aumento de 2,4%
na população ocupada, entre 98 e
99, foi acompanhado de um ritmo
muito mais forte no crescimento
da porção desocupada da população (6,67%).
Desocupação em alta
A desocupação cresceu em todas as regiões do país, tanto entre
homens como entre mulheres. Isso significa que a economia não
está dando conta do crescimento
da força de trabalho.
Mesmo com o aumento da população ocupada no ano passado,
o percentual ainda está abaixo do
verificado em 1992 (57,5%).
O índice de desocupados foi
mais alto nas áreas urbanas da região Norte (11,4%), seguida pelo
Sudeste (11,2%).
O economista Carlos Langoni,
da FGV (Fundação Getúlio Vargas), destaca ainda o fato de grande parte da mão-de-obra nacional
ter baixa qualificação.
Segundo ele, esse tipo de trabalhador não entra mais na indústria, que demanda um empregado cada vez mais qualificado. Ele é
absorvido pelo setor público,
achatado pela falta de capacidade
de investimento de grande parte
dos municípios, e pela construção
civil, onde houve queda.
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