São Paulo, sexta-feira, 21 de julho de 2000


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CONJUNTURA
Indicador tem a maior queda desde o Plano Real, segundo Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio divulgada ontem
Renda do brasileiro cai 7,1%, aponta IBGE

FERNANDA DA ESCÓSSIA
ISABEL CLEMENTE


DA SUCURSAL DO RIO

O trabalhador brasileiro saiu da crise da desvalorização do real e da estagnação econômica de 1999 com uma perda de 7,1% no seu rendimento em relação aos ganhos médios do ano anterior, já descontados os efeitos da inflação.
As informações constam da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), a mais ampla pesquisa socioeconômica do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgada ontem. Os dados são referentes ao ano passado.
A Pnad revelou uma acentuação da queda real do rendimento, que já vinha apresentando pequenas baixas de 1996 para 1997 (1,2%) e de 1997 para 1998 (0,8%). Com isso, chegam a 9% as perdas acumuladas nos últimos três anos.
Nos últimos dez anos, só houve duas situações piores: as perdas de 18,2% de 1989 para 1990 e de 12,2% de 1990 para 1992. Nos anos 80, houve perdas ainda maiores, também na casa dos dois dígitos, nos períodos de 1981 a 1983 e de 1986 a 1987.
A pesquisa não foi realizada em 1991 e em 1994. De 1995 para cá, o baque na renda foi de 6,4%, provocando um retrocesso na melhoria do rendimento proporcionada pelo Plano Real (julho de 1994) e pela estabilização da moeda, mas sem eliminá-la.
Em relação a 1993, período anterior ao Plano Real, o rendimento médio dos trabalhadores ainda está 21% maior. Isso significa que, se há sete anos o rendimento médio era de R$ 434, no ano passado ele ficou em R$ 525.

Montanha-russa
Nos últimos dez anos, o rendimento do trabalhador se comportou como um carrinho de montanha-russa. Despencou com a recessão do Plano Collor (1990) e ficou no fundo do poço de 1990 a 1993. Voltou a subir em 1995, depois do Plano Real, e entrou em queda contínua a partir de 1996.
Entre as altas e baixas dos últimos dez anos, o salário médio do trabalhador brasileiro em 1999 entra para a década como o mais baixo já visto fora do período recessivo de 90 a 93.
E ainda está 6,2% abaixo do de 1989, segundo o IBGE. O maior baque quem sentiu foram os empregadores (-9,5%), seguidos pelos autônomos (-7,4%) -ambos acima da média.
O rendimento médio mensal do brasileiro empregado foi de 3,7 salários mínimos. A renda chegou a 4,1 salários mensais para os que têm carteira assinada, 6 salários para militares e estatutários e apenas 2,1 salários para os empregados sem registro em carteira.
Continua a disparidade entre os salários de mulheres e homens, embora as diferenças estejam caindo. Segundo a Pnad, se um homem ganha em média R$ 100 pelo seu trabalho, a mulher consegue R$ 60,70. Em 1995, a proporção era ainda pior: as mulheres ganhavam quase a metade dos homens (54,2%).
Conforme já mostravam as taxas de desemprego recordes do ano passado, o aumento de 2,4% na população ocupada, entre 98 e 99, foi acompanhado de um ritmo muito mais forte no crescimento da porção desocupada da população (6,67%).

Desocupação em alta
A desocupação cresceu em todas as regiões do país, tanto entre homens como entre mulheres. Isso significa que a economia não está dando conta do crescimento da força de trabalho.
Mesmo com o aumento da população ocupada no ano passado, o percentual ainda está abaixo do verificado em 1992 (57,5%).
O índice de desocupados foi mais alto nas áreas urbanas da região Norte (11,4%), seguida pelo Sudeste (11,2%).
O economista Carlos Langoni, da FGV (Fundação Getúlio Vargas), destaca ainda o fato de grande parte da mão-de-obra nacional ter baixa qualificação.
Segundo ele, esse tipo de trabalhador não entra mais na indústria, que demanda um empregado cada vez mais qualificado. Ele é absorvido pelo setor público, achatado pela falta de capacidade de investimento de grande parte dos municípios, e pela construção civil, onde houve queda.



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