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OPINIÃO ECONÔMICA
O desaquecimento de 2001
GESNER OLIVEIRA
A economia brasileira vai
desacelerar no segundo semestre. A expansão de 4% do PIB
prevista no início do ano não será
atingida. Tampouco deve ocorrer
uma recessão generalizada, conforme chegou a ser alardeado por
ocasião do anúncio do racionamento de energia.
Em conjunturas de choque de
oferta como a atual, a taxa média
de aumento do PIB é pouco representativa. Os segmentos ligados à
energia tendem a crescer, enquanto os dependentes de insumos energéticos recuam. Porém
os principais fatores do desaquecimento estão associados à Argentina e ao aumento dos juros, e
não à crise de energia.
O quadro nesta página, elaborado regularmente pela equipe
setorial da Tendências, resume a
situação dos macrossetores em relação à demanda, nível dos estoques, ociosidade da capacidade
instalada e rentabilidade.
O agribusiness não sofre grande
alteração ante o que se previa no
início do ano. Some-se, no entanto, o estímulo adicional representado pela depreciação em mais de
29% do Real. As commodities
agrícolas refletem o balanço de
suprimentos nacional e do mercado internacional. Os segmentos
de açúcar, complexo de soja e carnes têm sido beneficiados por diferentes fatores. Já o café e o milho
devem acusar queda na rentabilidade.
A crise anunciada da Argentina
chegou a preocupar alguns analistas em relação ao suprimento
nacional de trigo, dada a dependência das importações daquele
país. Mas o problema não parece
tão grave, uma vez que 75% das
compras deste ano já foram internalizadas.
Em contraste com o agribusiness, a indústria vai sofrer mais
com o desaquecimento. Concorrem para isso o aumento de custos das empresas com o maior
preço do dólar, a elevação dos juros, o racionamento de energia e
a queda de demanda.
Os impactos variam muito conforme o setor. O segmento de bens
duráveis é o mais prejudicado, em
razão do encarecimento do financiamento ao consumo, elevação
dos custos de produção e contração da demanda. Naturalmente a
retração maior ocorre em produtos cujo uso é mais intensivo em
energia, como os eletroeletrônicos.
Ressalte-se, no entanto, que a
migração da demanda de duráveis para semiduráveis atenua o
desaquecimento. Segmentos como vestuário e alimentos têm absorvido parte dos gastos que o
consumidor deixou de fazer com
eletrodomésticos e automóveis.
A indústria de bens de capital,
por sua vez, será beneficiada com
a maior demanda de máquinas e
equipamentos necessários à expansão de investimentos na geração e transmissão de energia. Isso
compensa parcialmente a diminuição do ritmo de investimentos
privados, em geral em razão das
incertezas domésticas e externa.
O setor de bens intermediários
deve apresentar resultados inferiores aos estimados inicialmente.
Porém, no caso de segmentos exportadores, como o de celulose, os
efeitos são amenizados pelo dólar
mais caro.
A indústria da construção deverá apresentar expansão de 1,5%,
resultante da implementação de
obras pesadas, especialmente ligadas à energia. Como se trata de
segmento intensivo em mão-de-obra, o efeito sobre o mercado de
trabalho vai compensar parcialmente a retração no emprego de
outros setores.
Os resultados da economia real
colhidos até este inverno seco de
2001 estão aquém da quase euforia do último Réveillon. Mantêm-se, contudo, distantes das projeções catastrofistas. É razoável esperar um crescimento do PIB neste ano em torno dos 2%, inferior
aos 4,5% de 2000, mas ligeiramente acima da média de 1,4%
do triênio 1997-99, marcado pelas
crises da Ásia e da Rússia e pela
mudança do regime cambial em
1999.
Gesner Oliveira, 45, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia
(Berkeley), professor da FGV-SP, consultor da Tendências e ex-presidente do Cade.
E-mail - gesner@fgvsp.br
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