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A BATALHA DE GÊNOVA
Durante conflitos, até repórter de agência internacional e médico voluntário foram golpeados
Policial chora ao ver corpo coberto
DO ENVIADO ESPECIAL A GÊNOVA
Praça Alimonda, 18h. Um policial italiano olha para trás, não se
contém, chora e vomita dentro de
sua máscara antigás. Atrás dele,
um saco plástico branco cobre o
corpo do ativista italiano morto,
duas horas antes, com um tiro na
cabeça disparado pelas forças de
segurança que cercam Gênova.
A reportagem da Folha passou
o dia de ontem percorrendo a pé
as ruas do bairro Massari, um quilômetro a leste da zona vermelha,
onde ocorreram conflitos entre
policiais e manifestantes.
Os primeiros choques começaram por volta das 11h, na rua Torino, apenas a alguns metros do
restaurante brasileiro Berimbau.
Seu dono, o italiano Giorgio Paulussi, foi um dos poucos comerciantes que permaneceram na região mais central de Gênova e
queria abrir suas portas ontem.
Mas não pôde. Isso porque, de
um lado da rua, havia cerca de 50
anarquistas vestidos de preto,
com pedras nas mãos e o rosto coberto. Do outro, 200 policiais, armados com revólveres, cassetetes
e bombas de gás lacrimogêneo. A
confusão começou quando os
anarquistas se aproximaram da
barreira policial que fechava o
acesso à rua Buenos Aires, na direção da zona vermelha.
A resposta à aproximação foi
imediata. Os policiais avançaram
sobre os ativistas e sobre muitas
outras pessoas que estavam no local. O norte-americano Samuel
Cole, repórter da agência de notícias Associated Press, levou um
golpe de cassetete na nuca. O médico voluntário Lorenzo Marbelli,
identificado com uma camisa em
que lia-se "serviço médico", foi
golpeado no nariz e na nuca. Foi
retirado do local, inconsciente e
sangrando, por uma ambulância.
Em minoria, os ativistas se afastaram e seguiram para ruas paralelas, que não estavam fechadas
pela polícia, no sentido contrário
da zona vermelha.
A partir daí, em locais como a
avenida Casaregis, nas imediações da rua Torino, por cerca de
duas horas, tudo era permitido.
Nessa avenida (e em outras da cidade), grandes lixeiras de plástico
foram incendiadas; um banco,
uma farmácia e uma imobiliária
tiveram suas vidraças quebradas.
Os manifestantes voltaram à
rua Torino por volta das 15h, em
número muito maior. Cerca de
3.000 anarquistas se aglomeraram
no norte da rua. Número equivalente de policiais fechava a parte
sul. Os ativistas atacaram a polícia
com pedras, paus e tinta. A reação
veio com bombas de gás e tiros de
balas de borracha para o alto. O
conflito durou cerca de duas horas. A barreira policial muitas vezes foi obrigada a recuar, devido à
intensidade dos ataques. A cada
movimento dos policiais, começava uma correria desenfreada de
manifestantes pacíficos, moradores e jornalistas que acompanhavam os choques atrás da barreira.
Alguns minutos mais tarde, surge a informação de que alguém foi
morto na praça Alimonda, a cerca
de 300 metros da rua Torino. Ao
chegar ao local, às 18h, um cordão
de policiais cerca o corpo do ativista morto, já coberto por um saco plástico branco, de onde escorre uma mancha de sangue.
(LEONARDO CRUZ)
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