São Paulo, sábado, 21 de julho de 2001

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A BATALHA DE GÊNOVA

Durante conflitos, até repórter de agência internacional e médico voluntário foram golpeados

Policial chora ao ver corpo coberto

DO ENVIADO ESPECIAL A GÊNOVA

Praça Alimonda, 18h. Um policial italiano olha para trás, não se contém, chora e vomita dentro de sua máscara antigás. Atrás dele, um saco plástico branco cobre o corpo do ativista italiano morto, duas horas antes, com um tiro na cabeça disparado pelas forças de segurança que cercam Gênova.
A reportagem da Folha passou o dia de ontem percorrendo a pé as ruas do bairro Massari, um quilômetro a leste da zona vermelha, onde ocorreram conflitos entre policiais e manifestantes.
Os primeiros choques começaram por volta das 11h, na rua Torino, apenas a alguns metros do restaurante brasileiro Berimbau. Seu dono, o italiano Giorgio Paulussi, foi um dos poucos comerciantes que permaneceram na região mais central de Gênova e queria abrir suas portas ontem.
Mas não pôde. Isso porque, de um lado da rua, havia cerca de 50 anarquistas vestidos de preto, com pedras nas mãos e o rosto coberto. Do outro, 200 policiais, armados com revólveres, cassetetes e bombas de gás lacrimogêneo. A confusão começou quando os anarquistas se aproximaram da barreira policial que fechava o acesso à rua Buenos Aires, na direção da zona vermelha.
A resposta à aproximação foi imediata. Os policiais avançaram sobre os ativistas e sobre muitas outras pessoas que estavam no local. O norte-americano Samuel Cole, repórter da agência de notícias Associated Press, levou um golpe de cassetete na nuca. O médico voluntário Lorenzo Marbelli, identificado com uma camisa em que lia-se "serviço médico", foi golpeado no nariz e na nuca. Foi retirado do local, inconsciente e sangrando, por uma ambulância.
Em minoria, os ativistas se afastaram e seguiram para ruas paralelas, que não estavam fechadas pela polícia, no sentido contrário da zona vermelha.
A partir daí, em locais como a avenida Casaregis, nas imediações da rua Torino, por cerca de duas horas, tudo era permitido. Nessa avenida (e em outras da cidade), grandes lixeiras de plástico foram incendiadas; um banco, uma farmácia e uma imobiliária tiveram suas vidraças quebradas.
Os manifestantes voltaram à rua Torino por volta das 15h, em número muito maior. Cerca de 3.000 anarquistas se aglomeraram no norte da rua. Número equivalente de policiais fechava a parte sul. Os ativistas atacaram a polícia com pedras, paus e tinta. A reação veio com bombas de gás e tiros de balas de borracha para o alto. O conflito durou cerca de duas horas. A barreira policial muitas vezes foi obrigada a recuar, devido à intensidade dos ataques. A cada movimento dos policiais, começava uma correria desenfreada de manifestantes pacíficos, moradores e jornalistas que acompanhavam os choques atrás da barreira.
Alguns minutos mais tarde, surge a informação de que alguém foi morto na praça Alimonda, a cerca de 300 metros da rua Torino. Ao chegar ao local, às 18h, um cordão de policiais cerca o corpo do ativista morto, já coberto por um saco plástico branco, de onde escorre uma mancha de sangue.
(LEONARDO CRUZ)



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