São Paulo, domingo, 21 de julho de 2002

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France Press - 04.Fev.2002
Manifestante protesta contra o escândalo da Enron e o Fórum Econômico Mundial em frente ao prédio da Arthur Andersen em NY


GANÂNCIA INFECCIOSA

Bancos de Nova York prevêem pelo menos mais seis escândalos do porte da Enron e da WorldCom

Mais 18 companhias estão sob investigação

DE WASHINGTON

O pânico em Wall Street causado pelo escândalo corporativo não deve acabar cedo. Sob sigilo, a SEC (Securities and Exchange Commission, órgão federal que fiscaliza o mercado acionário nos EUA) investiga a ocorrência de crimes contábeis em mais 18 grandes companhias listadas nas Bolsas norte-americanas.
Seus nomes não foram ainda revelados mas, segundo previsão de dois grandes bancos de investimentos em Nova York, haverá ao menos seis novos escândalos contábeis como os que quebraram a companhia de energia Enron no ano passado e ameaçam a dissolução da gigante das comunicações WorldCom.
Das 18 companhias investigadas, sabe-se apenas que 11 delas eram clientes da Arthur Andersen, a empresa de auditoria condenada por obstrução da Justiça devido a sua participação na quebra da Enron.
Se depender da velocidade com a qual novos casos surgiram nos últimos 10 dias, os próximos serão agitados. No último dia 12, a companhia farmacêutica Bristol-Myers Squibb informou ser a mais nova empresa americana com problemas contábeis. Ela admitiu que está sendo investigada pela SEC pela suspeita de ter inflado suas receitas nos últimos dois anos por meio da venda de medicamentos com descontos a atacadistas. A suposta maquiagem é calculada em US$ 1 bilhão.
Na terça-feira, a Duke Energy admitiu que realizou negócios de energia irregulares, aprofundando o escândalo no setor de energia e gás natural. A companhia mais visada nesse setor é a Halliburton, dirigida até 2000 pelo vice-presidente Dick Cheney e também auditada pela Andersen.

Na mira da SEC
Cheney ocupou a direção executiva da empresa - que fornece produtos e serviços para a indústria de energia- de 1995 a 2000. Tanto a companhia quanto o vice-presidente estão na mira da SEC.
Na quinta-feira, foi a vez da AOL Time Warner. O "Washington Post" revelou que a gigante das comunicações teria forjado seus balanços em cerca de US$ 250 milhões. Como resultado, o vice-presidente de operações da companhia, Robert Pittman, pediu demissão.
Esses casos vêm se somar aos da Enron (US$ 3,9 bilhões), Tyco (US$ 8,0 bilhões), Vivendi (US$ 1,5 bilhão) Xerox (US$ 6,4 bilhões) e WorldCom (US$ 3,8 bilhões), entre outros. As alterações de balanço já somam cerca de US$ 30 bilhões, valor equiparável ao PIB do Uruguai.
Além das suspeitas que recaem sobre o vice-presidente Cheney, as atenções estão voltadas para a decisão que a SEC irá tomar no caso do próprio presidente George W. Bush, investigado em 1991 pela venda suspeita de suas ações na Harken, outra companhia energética do Texas - como a Halliburton e a Enron.
Nomeado no ano passado pelo próprio Bush, o presidente da SEC, Harvey Pitt, resiste a divulgar os arquivos sobre a investigação feita na época, que acabou livrando Bush de sanções embora tenha reconhecido que o presidente demorou meses para comunicar a agência sobre a venda.
O pleito norte-americano que elegeu Bush em 2000 foi o mais caro já registrado na história. Somados, os gastos com campanhas presidenciais, parlamentares e de 11 governadores somaram US$ 3 bilhões, segundo o Center for Responsive Politics e o opensecrets.org, entidade e website que fiscalizam doações eleitorais nos EUA. Bush e o Partido Republicano bateram o recorde. Arrecadaram US$ 187 milhões. Como comparação, a campanha da coligação partidária que elegeu o presidente Fernando Henrique Cardoso em 1998 arrecadou cerca de US$ 40 milhões. Entre os principais doadores estavam AT&T, Philip Morris, Microsoft e Enron.

(MARCIO AITH)


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