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São Paulo, segunda-feira, 21 de julho de 2003

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"Argentino adota estilo nacionalista"

DE BUENOS AIRES

"Néstor Kirchner está à esquerda de Luiz Inácio Lula da Silva." A afirmação é do analista argentino Rosendo Fraga, 51, diretor do Centro de Estudos Nova Maioria.
Formado em advocacia, Fraga é especialista em relações internacionais e conhecedor da política externa brasileira. Para ele, Kirchner deixou essa posição clara em sua viagem pela Europa na semana passada. Desagradou aos empresários e propôs ao Reino Unido rediscutir a soberania das Ilhas Malvinas, assunto do qual não se falava desde a guerra naquela região, em 1982, quando a Argentina foi derrotada pelos britânicos.
Na entrevista abaixo, Fraga analisa para a Folha os estilos Lula e Kirchner. (EC)

Folha - O que marca as diferenças entre Lula e Kirchner?
Rosendo Fraga
- Na viagem pela Europa, Kirchner mostrou que está à esquerda de Lula e Lagos [Ricardo Lagos, presidente do Chile]. A proximidade do presidente brasileiro com os Estados Unidos e com o FMI não é compartilhada por Kirchner. Ele teve outras prioridades na viagem.

Folha - Por exemplo?
Fraga
- A questão das Ilhas Malvinas e da extradição de militares. Kirchner traz à tona problemas do passado e isso reflete sua orientação ideológica e um forte apelo nacionalista. É justamente isso que possibilita reagir às pressões econômicas quanto ao pagamento da dívida argentina e em relação aos reajustes das tarifas [congeladas há um ano].

Folha - Que outra posição Kirchner não compartilha com Lula?
Fraga
- A combinação de pragmatismo econômico e moderação da política exterior que caracteriza o governo do Brasil. No governo argentino existe uma visão pessimista sobre a evolução do Brasil. Ele prevê que a ortodoxia de Lula não terá êxito.

Folha - Qual diferença se destaca mais?
Fraga
- Lula é o primeiro presidente que veio da classe trabalhadora e virou uma "estrela" da América Latina. Para os mercados financeiros, tem mostrado capacidade de adaptação. O projeto do Brasil de atuar como líder da América do Sul encontrou o melhor momento, e Lula o está aproveitando com habilidade. A figura de Kirchner fica em segundo plano diante da importância de Lula no cenário mundial.

Folha - Como o sr. vê o futuro das relações entre os dois países?
Fraga
- Brasil e Argentina caminham para uma linha político-ideológica comum, mesmo que ainda seja vaga e difusa.

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