Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Argentino adota estilo nacionalista"
DE BUENOS AIRES
"Néstor Kirchner está à esquerda de Luiz Inácio Lula da Silva." A
afirmação é do analista argentino
Rosendo Fraga, 51, diretor do
Centro de Estudos Nova Maioria.
Formado em advocacia, Fraga é
especialista em relações internacionais e conhecedor da política
externa brasileira. Para ele, Kirchner deixou essa posição clara em
sua viagem pela Europa na semana passada. Desagradou aos empresários e propôs ao Reino Unido rediscutir a soberania das Ilhas
Malvinas, assunto do qual não se
falava desde a guerra naquela região, em 1982, quando a Argentina foi derrotada pelos britânicos.
Na entrevista abaixo, Fraga analisa para a Folha os estilos Lula e
Kirchner. (EC)
Folha - O que marca as diferenças
entre Lula e Kirchner?
Rosendo Fraga - Na viagem pela
Europa, Kirchner mostrou que
está à esquerda de Lula e Lagos
[Ricardo Lagos, presidente do
Chile]. A proximidade do presidente brasileiro com os Estados
Unidos e com o FMI não é compartilhada por Kirchner. Ele teve
outras prioridades na viagem.
Folha - Por exemplo?
Fraga - A questão das Ilhas Malvinas e da extradição de militares.
Kirchner traz à tona problemas
do passado e isso reflete sua
orientação ideológica e um forte
apelo nacionalista. É justamente
isso que possibilita reagir às pressões econômicas quanto ao pagamento da dívida argentina e em
relação aos reajustes das tarifas
[congeladas há um ano].
Folha - Que outra posição Kirchner não compartilha com Lula?
Fraga - A combinação de pragmatismo econômico e moderação da política exterior que caracteriza o governo do Brasil. No governo argentino existe uma visão
pessimista sobre a evolução do
Brasil. Ele prevê que a ortodoxia
de Lula não terá êxito.
Folha - Qual diferença se destaca
mais?
Fraga - Lula é o primeiro presidente que veio da classe trabalhadora e virou uma "estrela" da
América Latina. Para os mercados financeiros, tem mostrado capacidade de adaptação. O projeto
do Brasil de atuar como líder da
América do Sul encontrou o melhor momento, e Lula o está aproveitando com habilidade. A figura
de Kirchner fica em segundo plano diante da importância de Lula
no cenário mundial.
Folha - Como o sr. vê o futuro das
relações entre os dois países?
Fraga - Brasil e Argentina caminham para uma linha político-ideológica comum, mesmo que
ainda seja vaga e difusa.
Texto Anterior: Estilos de governo: Economia realça diferenças Kirchner-Lula Próximo Texto: Infra-estrutura: Governo acerta ao propor pacote de investimentos ao país, diz Staub Índice
|