São Paulo, quinta-feira, 21 de julho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RECEITA ORTODOXA

Pesquisa da Fecomercio SP calcula ganhos que uma taxa menor de juros traria à economia do país

Consumidor paga R$ 41,5 bi de juros ao ano

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

No período de um ano saem do bolso do consumidor R$ 41,5 bilhões para o pagamento de juros a bancos, financeiras e lojas no país. O volume equivale a quase o dobro do que o governo federal liberou para investimentos no país até maio (R$ 21,6 bilhões).
Se o mercado trabalhasse com as taxas praticadas pelo comércio e instituições financeiras em países emergentes como Chile e México, o volume engolido com a cobrança dos juros cairia para R$ 8,5 bilhões ao final de 12 meses.
As contas foram feitas pelo departamento de economia da Fecomercio SP.
O cálculo parte do volume de crédito ao consumidor no país, que somava R$ 134,4 bilhões em maio, segundo o Banco Central. Considera também que a taxa de juros média para pessoas físicas em diversas categorias (crediário, cheque especial, financiamento de carros) está em 4,4% ao mês (67,5% ao ano). A simulação ainda leva em conta, para obter dados mais precisos, a inflação média de 0,5% ao mês -de forma que se possa trabalhar com uma taxa de juros real.
Nessas condições, os técnicos conseguiram calcular, analisando o valor disponível de crédito, quanto se gasta ao mês em juros e o tamanho do valor principal da dívida do consumidor.
Conclui-se que, se o mercado (bancos, lojas) trabalhasse com taxas mais baixas, em torno de 15% em média ao ano -como em países da América Latina-, o volume dispensado para arcar com essas taxas seria inferior aos R$ 41,5 bilhões pagos hoje.
A economia seria de R$ 33 bilhões -um dinheiro que pararia de sair do bolso do consumidor. Portanto, o gasto iria se reduzir para R$ 8,5 bilhões.
Para se ter uma idéia, esses R$ 33 bilhões equivalem a duas vezes as vendas do grupo Pão de Açúcar, maior varejista do país.
"Uma eventual queda nas taxas cobradas pelo mercado tende a ser repassada para frente. As lojas querem ganhar no volume vendido e não na operação financeira", diz Abram Szajman, presidente da federação.
Pela pesquisa, o custo de vida sobe ao ano em quase 11% com a cobrança dos juros.

Fôlego maior
Um fator que já poderia ter aliviado esse custo ao consumidor é o repasse da queda da inadimplência às operações financeiras.
O calote do consumidor tem peso na determinação do juro que o banco ou a loja operam, explica Emilio Alfieri, economista da ACSP (Associação Comercial de São Paulo). Mesmo com o recente aumento na inadimplência nas lojas (estava em 5,1% em junho de 2005 e 4,3% em igual mês de 2004), esse indicador apresenta um histórico anual de queda.
A instalação do Cadastro Positivo de Consumidores -um banco de dados com o nome dos bons pagadores- ainda poderia reduzir as taxas para uma parcela da população. A definição desse cadastro, que tem a coordenação do governo, está parada.
Na avaliação dos técnicos da federação, se esses recursos -economizados com juros menores- estivessem disponíveis para serem movimentados pela população, o desempenho do varejo seria mais positivo.
O segmento crê que deva crescer de 3% a 5% em vendas em 2005 em relação a 2004. Se a população gastasse esse valor do pagamento de juros em compras no comércio, o varejo cresceria ainda mais 3 pontos percentuais.


Texto Anterior: Análise: Condições para a redução da taxa já existem
Próximo Texto: Copom mostra "insensatez", avalia CUT
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.