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RECEITA ORTODOXA
Pesquisa da Fecomercio SP calcula ganhos que uma taxa menor de juros traria à economia do país
Consumidor paga R$ 41,5 bi de juros ao ano
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
No período de um ano saem do
bolso do consumidor R$ 41,5 bilhões para o pagamento de juros a
bancos, financeiras e lojas no país.
O volume equivale a quase o dobro do que o governo federal liberou para investimentos no país
até maio (R$ 21,6 bilhões).
Se o mercado trabalhasse com
as taxas praticadas pelo comércio
e instituições financeiras em países emergentes como Chile e México, o volume engolido com a cobrança dos juros cairia para R$ 8,5
bilhões ao final de 12 meses.
As contas foram feitas pelo departamento de economia da Fecomercio SP.
O cálculo parte do volume de
crédito ao consumidor no país,
que somava R$ 134,4 bilhões em
maio, segundo o Banco Central.
Considera também que a taxa de
juros média para pessoas físicas
em diversas categorias (crediário,
cheque especial, financiamento
de carros) está em 4,4% ao mês
(67,5% ao ano). A simulação ainda leva em conta, para obter dados mais precisos, a inflação média de 0,5% ao mês -de forma
que se possa trabalhar com uma
taxa de juros real.
Nessas condições, os técnicos
conseguiram calcular, analisando
o valor disponível de crédito,
quanto se gasta ao mês em juros e
o tamanho do valor principal da
dívida do consumidor.
Conclui-se que, se o mercado
(bancos, lojas) trabalhasse com
taxas mais baixas, em torno de
15% em média ao ano -como
em países da América Latina-, o
volume dispensado para arcar
com essas taxas seria inferior aos
R$ 41,5 bilhões pagos hoje.
A economia seria de R$ 33 bilhões -um dinheiro que pararia
de sair do bolso do consumidor.
Portanto, o gasto iria se reduzir
para R$ 8,5 bilhões.
Para se ter uma idéia, esses R$
33 bilhões equivalem a duas vezes
as vendas do grupo Pão de Açúcar, maior varejista do país.
"Uma eventual queda nas taxas
cobradas pelo mercado tende a
ser repassada para frente. As lojas
querem ganhar no volume vendido e não na operação financeira",
diz Abram Szajman, presidente
da federação.
Pela pesquisa, o custo de vida
sobe ao ano em quase 11% com a
cobrança dos juros.
Fôlego maior
Um fator que já poderia ter aliviado esse custo ao consumidor é
o repasse da queda da inadimplência às operações financeiras.
O calote do consumidor tem peso na determinação do juro que o
banco ou a loja operam, explica
Emilio Alfieri, economista da
ACSP (Associação Comercial de
São Paulo). Mesmo com o recente
aumento na inadimplência nas
lojas (estava em 5,1% em junho de
2005 e 4,3% em igual mês de
2004), esse indicador apresenta
um histórico anual de queda.
A instalação do Cadastro Positivo de Consumidores -um banco
de dados com o nome dos bons
pagadores- ainda poderia reduzir as taxas para uma parcela da
população. A definição desse cadastro, que tem a coordenação do
governo, está parada.
Na avaliação dos técnicos da federação, se esses recursos -economizados com juros menores-
estivessem disponíveis para serem movimentados pela população, o desempenho do varejo seria mais positivo.
O segmento crê que deva crescer de 3% a 5% em vendas em
2005 em relação a 2004. Se a população gastasse esse valor do pagamento de juros em compras no
comércio, o varejo cresceria ainda
mais 3 pontos percentuais.
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