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ANÁLISE
Condições para a redução da taxa já existem
SANDRA BALBI
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
As condições para começar a redução da taxa básica de juros, a
Selic, estão dadas, na opinião dos
analistas consultados pela Folha.
Todos eles, entretanto, já esperavam uma "decisão conservadora"
do Copom na reunião de ontem.
A inflação presente -medida
pelo IPCA- está negativa, e a
projetada para os próximos 12
meses pelo mercado, de 4,97%,
converge para a meta definida pelo governo para o ano que vem, de
4,5%. "É tudo uma questão de
quando começar a cortar o juro e
qual a intensidade desse movimento", diz Luiz Fernando Figueiredo, sócio-diretor da Mauá
Investimentos e ex-diretor de Política Monetária do Banco Central
no governo passado.
Na sua opinião, o aperto monetário tem de ser desarmado gradualmente para não haver risco
de remarcação de preços, como já
ocorreu em 2003 e 2004, quando o
BC reduziu a taxa básica.
Os economistas consideram
que as condições hoje são diferentes e permitem uma redução sustentada dos juros. "O déficit público está em 3% do PIB, e, do lado externo, o superávit na conta
corrente, a decisão de antecipar o
pagamento de parte da dívida
com o FMI e o aumento das reservas permitem iniciar um processo
duradouro de queda da taxa", diz
Heron do Carmo, presidente do
Conselho Regional de Economia.
Além do ritmo que deverá ser
imprimido ao processo de queda
-que na "loteria" do mercado
começaria em agosto ou setembro-, os analistas também discutem os limites estruturais que
impedem o juro no Brasil de cair
para padrões civilizados.
"Há uma resistência muito
grande da economia em conviver
com juros reais abaixo de 10,5% a
11% ao ano", diz Tomás Málaga,
economista-chefe do Banco Itaú.
Isso significa uma Selic nominal
de 15% a 15,5% ao ano. Abaixo
desse patamar, lembra Málaga, a
demanda esbarra na capacidade
produtiva, e a remarcação de preços retorna, esquentando a inflação. "Com uma taxa de investimento anual de 19% do PIB [Produto Interno Bruto], não dá para
reduzir os juros abaixo de 15% ao
ano", observa. O rompimento
desse círculo vicioso, segundo ele,
passa pela redução dos gastos públicos e pela manutenção do superávit primário em torno de 5%
do PIB no próximo ano.
Para Heron do Carmo, a queda
dos juros estimula a demanda,
mas também o investimento. "Se
o governo mantiver as contas públicas em ordem, poderá gastar
mais com investimento do que
com custeio, e, nesse caso, o efeito
do setor público sobre a demanda
agregada continuaria o mesmo."
Nessa situação, além de não pressionar a inflação, o gasto público
estimularia o investimento privado e o crescimento.
Imagem
Um corte de juros agora seria
incongruente com a imagem de
conservadorismo criada pelo próprio Banco Central, avalia Alexandre Lintz, estrategista-chefe
do banco BNP Paribas.
"A atitude conservadora se tornou uma marca do BC. Por isso,
não surpreende a cautela demonstrada neste momento. Condições técnicas já havia para os juros caírem", diz Lintz.
O último boletim Focus, divulgado na segunda-feira pelo Banco
Central, mostrou que a projeção
mediana para o IPCA nos próximos 12 meses ficou em 4,97%, ante 5,07% registrados há um mês.
O IPCA é o índice utilizado pelo
governo para monitorar a meta
de inflação.
O BC começou a elevar os juros
no ano passado como uma forma
de tentar conter o aquecimento
dos preços. Por isso, o arrefecimento mostrado pelos últimos
dados de inflação divulgados sinaliza a proximidade do início do
processo de redução da Selic.
Roberto Padovani, economista
da consultoria Tendências, afirma que, ao "elevar os juros até onde foi, com toda a pressão contrária de vários setores da sociedade,
o Banco Central demonstrou cautela e independência". "Por esses
pontos, não esperava que houvesse uma redução da taxa Selic agora", afirma.
Padovani diz acreditar que o cenário mais provável é que a Selic
comece a ser reduzida apenas no
mês de setembro, para alcançar os
18% no fim de 2005.
Aliás, essa é a previsão mediana
do mercado -de que a Selic estará em 18% no fim do ano-, segundo o levantamento feito pelo
Focus. Pesquisa semanal realizada pela autoridade monetária, o
Focus representa a opinião de cerca de cem instituições financeiras.
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