São Paulo, quinta-feira, 21 de julho de 2005

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ANÁLISE

Condições para a redução da taxa já existem

SANDRA BALBI
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

As condições para começar a redução da taxa básica de juros, a Selic, estão dadas, na opinião dos analistas consultados pela Folha. Todos eles, entretanto, já esperavam uma "decisão conservadora" do Copom na reunião de ontem.
A inflação presente -medida pelo IPCA- está negativa, e a projetada para os próximos 12 meses pelo mercado, de 4,97%, converge para a meta definida pelo governo para o ano que vem, de 4,5%. "É tudo uma questão de quando começar a cortar o juro e qual a intensidade desse movimento", diz Luiz Fernando Figueiredo, sócio-diretor da Mauá Investimentos e ex-diretor de Política Monetária do Banco Central no governo passado.
Na sua opinião, o aperto monetário tem de ser desarmado gradualmente para não haver risco de remarcação de preços, como já ocorreu em 2003 e 2004, quando o BC reduziu a taxa básica.
Os economistas consideram que as condições hoje são diferentes e permitem uma redução sustentada dos juros. "O déficit público está em 3% do PIB, e, do lado externo, o superávit na conta corrente, a decisão de antecipar o pagamento de parte da dívida com o FMI e o aumento das reservas permitem iniciar um processo duradouro de queda da taxa", diz Heron do Carmo, presidente do Conselho Regional de Economia.
Além do ritmo que deverá ser imprimido ao processo de queda -que na "loteria" do mercado começaria em agosto ou setembro-, os analistas também discutem os limites estruturais que impedem o juro no Brasil de cair para padrões civilizados.
"Há uma resistência muito grande da economia em conviver com juros reais abaixo de 10,5% a 11% ao ano", diz Tomás Málaga, economista-chefe do Banco Itaú.
Isso significa uma Selic nominal de 15% a 15,5% ao ano. Abaixo desse patamar, lembra Málaga, a demanda esbarra na capacidade produtiva, e a remarcação de preços retorna, esquentando a inflação. "Com uma taxa de investimento anual de 19% do PIB [Produto Interno Bruto], não dá para reduzir os juros abaixo de 15% ao ano", observa. O rompimento desse círculo vicioso, segundo ele, passa pela redução dos gastos públicos e pela manutenção do superávit primário em torno de 5% do PIB no próximo ano.
Para Heron do Carmo, a queda dos juros estimula a demanda, mas também o investimento. "Se o governo mantiver as contas públicas em ordem, poderá gastar mais com investimento do que com custeio, e, nesse caso, o efeito do setor público sobre a demanda agregada continuaria o mesmo." Nessa situação, além de não pressionar a inflação, o gasto público estimularia o investimento privado e o crescimento.

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Um corte de juros agora seria incongruente com a imagem de conservadorismo criada pelo próprio Banco Central, avalia Alexandre Lintz, estrategista-chefe do banco BNP Paribas.
"A atitude conservadora se tornou uma marca do BC. Por isso, não surpreende a cautela demonstrada neste momento. Condições técnicas já havia para os juros caírem", diz Lintz.
O último boletim Focus, divulgado na segunda-feira pelo Banco Central, mostrou que a projeção mediana para o IPCA nos próximos 12 meses ficou em 4,97%, ante 5,07% registrados há um mês. O IPCA é o índice utilizado pelo governo para monitorar a meta de inflação.
O BC começou a elevar os juros no ano passado como uma forma de tentar conter o aquecimento dos preços. Por isso, o arrefecimento mostrado pelos últimos dados de inflação divulgados sinaliza a proximidade do início do processo de redução da Selic.
Roberto Padovani, economista da consultoria Tendências, afirma que, ao "elevar os juros até onde foi, com toda a pressão contrária de vários setores da sociedade, o Banco Central demonstrou cautela e independência". "Por esses pontos, não esperava que houvesse uma redução da taxa Selic agora", afirma.
Padovani diz acreditar que o cenário mais provável é que a Selic comece a ser reduzida apenas no mês de setembro, para alcançar os 18% no fim de 2005.
Aliás, essa é a previsão mediana do mercado -de que a Selic estará em 18% no fim do ano-, segundo o levantamento feito pelo Focus. Pesquisa semanal realizada pela autoridade monetária, o Focus representa a opinião de cerca de cem instituições financeiras.


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